Paulo César de Oliveira, a arte de Paranavaí perde uma de suas bases

Na quarta-feira (22/08/2018), a arte de Paranavaí perdeu uma de suas bases com o falecimento acidental do músico Paulo César de Oliveira nas águas do Rio Paraná, após cair de um barco. No momento do acidente, o tempo estava fechado e o rio agitado.
Sobre esse mesmo rio, ele cantava e falava. Em diversas de suas músicas, tudo era secundário, menos o Rio Paraná, companheiro de longa data que ele tanto singrava.
Não por acaso, Paulo César se tornou uma das figuras culturais mais importantes não apenas da arte local, mas também regional e do Paraná – pelo menos quando se fala em música regionalista de boa qualidade.
Filho dos pioneiros Sebastião Bem Bem de Oliveira e Elazir Azevedo de Oliveira, personagens ilustres da história de Paranavaí, PC, como também era muito conhecido, nasceu em Paranavaí em 30 de maio de 1951 em uma casa onde é hoje a Unimed, na Rua Antônio Felipe.
Começou a trabalhar com apenas 12 anos no Banco América do Sul. Antes de ingressar no Exército em 1970, trabalhou na Livraria Santa Helena e na Livraria Eclética.
Quando retornou, assumiu a chefia da Divisão de Pessoal da Prefeitura de Paranavaí, até que em abril de 1974 tomou posse como funcionário do Banco do Brasil, onde trabalhou até 1997.
Paulo César também foi vereador por dois mandatos, secretário da administração municipal, gerente da Associação Comercial e Empresarial de Paranavaí (Aciap), presidente da Associação Atlética Banco do Brasil (AABB) e vice-presidente do Sindicato dos Bancários, além de presidente da Associação Paranavaiense de Arte e Cultura (Apac) e da comissão organizadora do Femup em 1973.
Mas para os paranavaienses, Paulo César será sempre lembrado como membro-fundador do Teatro Estudantil de Paranavaí (TEP), um dos mais antigos do teatro paranaense, e fundador do Grupo Gralha Azul, importante nome da música regionalista do nosso Estado. Músico, poeta, compositor e bacharel em Direito, PC compôs mais de 100 músicas ao longo da carreira.
Ele escreveu, dirigiu e atuou no espetáculo “A Hora da Boia”, montado pelo TEP. Recebeu diversos prêmios, inclusive o de melhor ator coadjuvante no Festival Internacional dos Países do Mercosul, realizado em Marechal Cândido Rondon em 1999.
Paulo César também escreveu e dirigiu a peça “Bar Copa 70”, montada pelo TEP em 2009 em comemoração aos 40 anos do grupo.
Trabalhei com Paulo César de Oliveira, a quem sempre chamei de Paulinho, de 2009 a 2015. Mesmo aposentado e levando uma vida mais tranquila, ele aceitou o convite para comandar a Fundação Cultural de Paranavaí. Queria realmente contribuir com a cultura local. E realmente contribuiu.
Retomou o projeto DN Cultura, de publicação periódica, no Diário do Noroeste, de matérias sobre as atividades culturais de Paranavaí. Também foi na gestão de Paulo César que houve um grande incentivo à criação de novas mostras, projetos e festivais.
PC se esforçou para motivar a criação do Fórum de Cultura de Paranavaí que trouxe nomes de grande projeção no cenário nacional, além de propor mais diálogo e debate entre os artistas.
A gestão de Paulo César marcou o retorno do Festival de Teatro de Paranavaí que cresceu consideravelmente, trazendo artistas de todo o Brasil. Apesar da cidade não ter uma sólida cultura audiovisual, ele sempre incentivou a realização do Projeto Mais Cinema que, de 2008 até 2013, exibiu mais de cem filmes seguidos de análise e debate que tive a oportunidade de coordenar na Casa da Cultura Carlos Drummond de Andrade. Incentivador, sempre que possível, Paulinho estava na plateia.
Também se empenhou na descentralização das atividades culturais do município. Exemplos são as muitas oficinas que foram realizadas nos bairros ao longo dos anos, atendendo crianças e adolescentes. Com Paulo César no comando, a Fundação Cultural chegou à marca histórica de mais de duas mil pessoas atendidas mensalmente pelas oficinas de artes.
Quando necessário, Paulinho ia muito além de sua função. Chegou a tirar dinheiro do próprio bolso para custear despesas da Fundação Cultural e ajudar artistas que enfrentavam alguma crise financeira. Ia além do profissional para ser humano, demasiado humano.
Mas como não ser sendo artista de fecunda sensibilidade? Que sempre cantou as belezas, as peculiaridades, o folclore, a história e as estranhezas de Paranavaí, do Noroeste do Paraná e do Paraná.
O legado de Paulo César de Oliveira não está em monumentos, construções, mas em algo muito mais resistente e marcante do que a matéria – está no poder imemorial da arte – porque este sobrevive ao tempo, às nossas limitações físicas, à nossa efemeridade, e fundamentalmente porque nos toca à sensibilidade.


O legado de Paulo César
de Oliveira não está em
monumentos, construções,
mas em algo muito mais
resistente e marcante
do que a matéria