Sobrevivência de bebê foi um milagre, diz paranavaiense

De acordo com o médico do resgate Elton Fernando Barbosa, natural de Paranavaí (filho do professor Sebastião Barbosa, ex-diretor do Colégio Estadual Sylvio Vidal do Jardim São Jorge), que presta serviços à concessionária, em entrevista no sábado (28), a recém-nascida está bem de saúde. "Com certeza, foi um milagre. Não tem outra explicação. Ela não vai ter nenhuma sequela", afirma.
A menina nasceu durante um trágico acidente de trânsito na Rodovia Régis Bittencourt, no interior de São Paulo. Uma jovem, que estava grávida, foi arremessada para fora de um caminhão e morreu após ter o abdômen rompido, o que obrigou a bebê a nascer involuntariamente. Segundo médicos o corpo da mãe acolheu a bebê nos primeiros minutos de vida, o que foi fundamental para que a menina conseguisse sobreviver.
O acidente ocorreu por volta das 12h30 de quinta-feira (26). O médico Elton Barbosa foi chamado para socorrer duas vítimas de um acidente no Km 517, na Serra do Azeite, em Cajati-SP. Ele faz parte da equipe de atendimento pré-hospitalar da Rodovia Regis Bittencourt, que imediatamente foi para o local da ocorrência identificar o que realmente havia acontecido.
De acordo com a concessionária responsável pela rodovia, uma carreta que transportava tábuas de madeira saiu da pista e tombou. O motorista ficou preso nas ferragens do veículo e a passageira, uma gestante de cerca de 39 semanas, foi arremessada para fora do caminhão. A carga de madeira caiu na rodovia e atingiu a mulher.
“O motorista já estava sendo retirado das ferragens do caminhão por outra equipe. A mulher estava embaixo de pranchas de madeira. Eu estava tentando chegar até à vítima para atestar o óbito quando ouvi um choro abafado de uma criança. Tiramos as pranchas de madeira e vimos a gestante. A criança estava entrelaçada nas vísceras da mãe”, conta o médico.
De acordo com Fernando, com o capotamento, a jovem caiu na rodovia e várias tábuas de madeira caíram em cima dela. A hipótese, segundo o médico, é que as pranchas tenham rompido o abdômen da mãe. "O feto foi expulso pelo trauma. Quando eu cheguei, o bebê estava entrelaçado nos restos mortais. Eu retirei aquela criança, fiz os procedimentos cabíveis e levei para a ambulância”, conta Barbosa.
A bebê foi encaminhada para a UTI Neonatal do Hospital Regional de Pariquera-Açu, cidade vizinha a Cajati.
Ainda segundo o hospital, a bebê não teve ferimentos, mas, por conta do trauma, necessita de cuidados médicos, apesar de passar bem. O médico natural de Paranavaí que realizou o resgate ainda não acredita como a bebê conseguiu se manter viva até a chegada da equipe.
“Vou ser sincero. Foi Deus. Pela cinemática, pelo que eu vi, não sei como saiu viva. Quem manteve viva foi o próprio corpo da mãe. É raro isso acontecer. O abdômen da mãe foi exposto. A mãe estava sob várias pranchas de MDF. Eu não sei como essa criança saiu viva”, explica o médico.
O momento de dor e esperança ficará marcado na memória do médico. “Foi emocionante. Infelizmente tivemos o óbito da mãe, torcemos para que isso não ocorra. Mas, diante da tragédia, conseguimos fazer o procedimento e salvar a bebê. Foi gratificante. Essa ocorrência literalmente marcou a minha vida. Acho que na história da rodovia nunca ocorreu um acidente nessa proporção. Perdemos uma vida, mas fomos responsáveis por dar a vida a uma menina”, finaliza.
A mãe da menina teve esmagamento de crânio e perdeu vários membros. O corpo foi encaminhado para o Instituto Médico Legal (IML) de Registro. Porém, a mulher estava sem os documentos pessoais e só domingo foi identificada por familiares como sendo Ingrid Irene Ribeiro.
Ingrid era de São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, e completaria 21 anos nesta segunda-feira (30). Ela era dona de casa e tinha mais duas filhas: uma filha de dois anos, que mora com a família paterna, em São José dos Pinhais. O pai das duas mora em Santa Catarina e outra de uma terceira menina de três anos, fruto de outro relacionamento, que está sob os cuidados da família materna.
A irmã, Adriele Ribeiro, foi quem reconheceu a irmã em fotos na TV. Ela disse que os parentes foram até São Paulo para reconhecer e liberar o corpo na tarde de domingo. Nesta segunda-feira (30), o corpo de Ingrid foi velado e sepultado no Cemitério Pedro Fuss, em São José dos Pinhais às 16h30.
Agora, a família aguarda uma liberação judicial para trazer a criança para o Paraná também. O pai da recém-nascida vive em Santa Catarina. A família de Ingrid afirma não saber o porquê da jovem estar viajando para São Paulo.
A equipe médica chama a menina de Giovana. A família de Ingrid, porém, diz que a bebê deve ser batizada como Jenifer.
Jonathas Ferreira, o motorista da carreta, foi encaminhado ao Hospital Regional de Pariquera-Açu e recebeu alta na sexta-feira (27) e, segundo a família, foi para casa. A polícia informou que ele deu uma carona para a grávida em um posto às margens da BR-116, em São José dos Pinhais, a cerca de 100 km de distância do local do acidente. Ele prefere não falar sobre o assunto por estar abalado emocionalmente. Aos médicos que prestaram o atendimento, ele disse que não conhecia a mulher. A empresa em que ele trabalha preferiu não se manifestar.
O pai de Ingrid relata também que a família, que mora no Barro Preto, bairro de São José dos Pinhais, na Região de Curitiba, não tem parentes no estado de São Paulo. "Não tem porquê ela ir para lá", afirma.
O caminhoneiro, de acordo com o delegado Bruno Alberto da Silva de Assis, deve responder por homicídio culposo, com pena entre dois e quatro anos. A pena pode aumentar pelo fato de ele estar trabalhando na hora do acidente. Para a polícia, ele negou ter bebido ou consumido drogas e disse que não conhecia Ingrid.
(Texto: SB com informações do G1)