Mulheres de Paranavaí opinam sobre descriminalização do aborto
O tema é controverso. Se por um lado pesam questões morais e religiosas, por outro estão a saúde pública e o direito da mulher para decidir sobre o próprio corpo. As discussões sobre a descriminalização do aborto são profundas e polêmicas.
No site do Senado Federal (www12.senado.leg.br), a população pode opinar sobre a interrupção voluntária da gravidez, dentro das doze primeiras semanas de gestação, com atendimento gratuito oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Na manhã deste sábado, mais de 650 mil pessoas já tinham votado.
A consulta pública do Senado levantou o debate entre alguns grupos de Paranavaí. A mobilização contrária à descriminalização do aborto no Brasil ganhou espaço nas redes sociais e chamou a atenção sobre o tema. Por isso, a equipe do Diário do Noroeste ouviu mulheres de Paranavaí para saber o que pensam.
Enfermeira da 14ª Regional de Saúde, Isabel Vasconcelos disse que é a favor da vida. “Dar o direito à mulher de tirar a criança, não tira o direito da criança de viver?”. Na avaliação dela, a vida se forma desde a concepção. “O aborto é uma violência obstétrica”, disse.
Vice-coordenadora da Pastoral da Criança, da Igreja Católica, Marlene Barbosa de Araújo Ruiz também se manifestou contra a descriminalização do aborto. “Toda pessoa tem direito à vida. Se existe o embrião, tem vida. O aborto é o maior crime, porque a vítima não tem a chance de se defender”.
A psicóloga Jéssica Jorge Francisco, da 14ª Regional de Saúde, tem outra opinião. “A decisão precisa ser da mulher”. De acordo com ela, o debate sobre a descriminalização do aborto acontece em nível superficial e precisa ser aprofundado, mas sem a interferência do conservadorismo religioso.
Jéssica argumentou que abortos são realizados independentemente da legislação, mas as condições em que ocorrem geram riscos para as mulheres. Trata-se de uma questão de saúde pública, já que as condições clandestinas muitas vezes resultam em morte.
A enfermeira Natália Paszczuck concorda com Jéssica. Mulheres fazem abortos, mas a falta de cuidados com elas afeta principalmente as mais pobres, porque não têm acesso a clínicas estruturadas para a prática. Agulhas de crochê e medicamentos inadequados são algumas opções para elas.
Para a professora Isabela Campoi, da Universidade Estadual do Paraná (Unespar), o ataque à descriminalização do aborto é hipócrita. “Mulheres que têm dinheiro fazem, mas não ficamos sabendo”. Ao mesmo tempo, o SUS contabiliza 250 mil internações motivadas pelos problemas que os abortos clandestinos provocam.
Isabela disse que algumas pesquisas apontam que uma em cada cinco mulheres brasileiras já fez aborto. Os riscos dos procedimentos malfeitos resultam na morte de uma mulher a cada dois dias. De acordo com a professora, 80% dos países mais ricos permitem a prática do aborto.
De acordo com Natália Paszczuck, a descriminalização proporcionaria mais controle sobre os problemas que o aborto provoca. “Seria possível descobrir a realidade”. Não significaria, no entanto, incentivo à prática, mas proteção para quem decide fazer.
A professora Isabela Campoi afirmou que além de uma questão de saúde pública, a descriminalização do aborto promoveria justiça social. “Legalizar não é incentivar, mas dar o direito à mulher de escolher o que fazer com o próprio corpo. A decisão tem que ser da mulher”.
Natália Paszczuck e Jéssica Jorge Francisco apresentaram opinião semelhante à da professora da Unespar. Para as profissionais da 14ª Regional de Saúde, a descriminalização não tornaria a prática do aborto mais comum. Em vez disso, daria mais segurança para as mulheres.
Outro ponto destacado pelas mulheres favoráveis à descriminalização refere-se às condições em que uma criança indesejada seria criada. Muitas delas são abandonadas e enfrentam vulnerabilidade social, sem os devidos cuidados familiares e mesmo do Estado.
De acordo com números levantados pelo próprio Senado Federal, 1,25 milhões de abortos ilegais são feitos no Brasil a cada ano. A prática só é permitida em três situações: quando a mulher é estuprada, quando o feto apresenta anencefalia ou quando há risco de morte para a gestante.