A vida de Seu Amaro
Nascido em Moreno, Pernambuco, em 1921, Amaro Silvestre da Silva, mais conhecido como “Seu Amaro”, deixou a cidade natal em 1940. Assim como muitos conterrâneos, migrou em busca de um futuro melhor em São Paulo. Não gostou muito da experiência, e alguns anos depois decidiu se mudar para o interior do Paraná, onde a irmã já residia.
Em 1945, chegou a Paranavaí, no Noroeste do Paraná, e se surpreendeu com a enorme diversidade de mata nativa que envolvia a colônia. A princípio, morou com a irmã e deu continuidade ao trabalho como mascate. Até que surgiu a oportunidade de retomar a profissão de pedreiro. “Ele ajudou a construir o Banco Banespa [atual Casas Loanda], o Banco do Brasil, a Praça Sinval Reis [Praça da Xícara – inaugurada em 1963] e o Hospital Antonio José Messias, entre outras obras. Tinha muito orgulho de ter trabalhado nesses projetos”, narra a filha Marlene Silvestre da Silva Giovaneli, acrescentando que o pai se casou por volta de 1955.
Depois de morar em uma casa na Rua Rio Grande do Sul, mudou-se para uma chácara onde se situa o atual Jardim Oásis. “Morávamos com meu tio nessa chácara. Ele vendeu a propriedade e, como meu pai tinha parte na sociedade, deu uma parte para ele. Só que era pouco dinheiro e não conseguimos comprar nada. Até que meu pai encontrou uma casa no Jardim Ouro Branco”, relata Marlene.
O que parecia a concretização de um sonho se tornou um pesadelo para Seu Amaro. Em 1972, quando decidiu se mudar para a nova moradia, encontrou pessoas vivendo na propriedade que adquiriu. “Não tínhamos para onde ir. E meu pai e minha mãe eram responsáveis por oito filhos – três meninos e cinco meninas. Ninguém imaginava isso. A escritura era de três terrenos com três casas, não de um, então meu pai acabou ficando com um e abriu mão dos outros dois. E ainda assim não conseguiu registrar o único que ficou para a gente morar porque constava que era da prefeitura”, revela.
Mesmo passando por inúmeras dificuldades, e não ganhando o suficiente para assegurar a sobrevivência da família, Seu Amaro se preocupava em ajudar outras pessoas. “Na beira de um riacho no Jardim Ouro Branco, pra baixo de onde surgiria o Colégio Marins [Alves de Camargo], tinha muita gente bem pobrezinha mesmo. E meu pai, triste com aquela situação, sempre que ia ao mercado fazer compras, dava um jeito de comprar um pouco a mais de arroz, macarrão e óleo, entre outros alimentos; e doava para os mais necessitados. Fez muito isso”, enfatiza Marlene Silvestre Giovaneli.
Como era tímido, Seu Amaro sempre foi um homem mais reservado. Preferia uma pequena roda de amigos a estar em meio à multidão, mas nada disso o impediu de se tornar um dos personagens mais conhecidos do Jardim Ouro Branco, com quem as pessoas contavam em inúmeras situações de dificuldade. “Ele era respeitado no Ouro Branco, por ter sido um homem muito bom, honesto e trabalhador. Ele amava esse bairro e amava Paranavaí. Disse que queria morrer aqui, mas sonhava também em passear no Nordeste, em Pernambuco. Sempre contava causos e histórias da sua terra. Falava da saudade e do começo da vida dele”, destaca Marlene.
Seu Amaro ficou viúvo em 1982, quando a esposa faleceu aos 50 anos. Assumiu todas as responsabilidades em relação à família. Inclusive nunca mais se casou. Depois de enfrentar tantos obstáculos, o maior medo do pernambucano era que um dia alguém pudesse obrigá-lo a sair de casa, alegando que como a escritura não era registrada, ele não era o proprietário legítimo do imóvel: “Já diziam que quem não registra não é dono.” Com o tempo, Seu Amaro desenvolveu uma grave catarata, problema de visão que o impediu de continuar fazendo acabamentos de obras. Encontrou uma solução quando o convidaram para trabalhar em fazendas, construindo cochos.
“Uma vez, quando ainda era jovem, se consultando com o doutor Renê, que era um médico muito bom, ele disse que se meu pai tivesse algum bem, deveria vender porque a ferida que apareceu na boca dele era um câncer. Meu pai não levou muito a sério. Mas a ferida sumia e voltava. Até que em 31 de março de 2008, décadas mais tarde, ele faleceu aos 87 anos, depois de três meses sofrendo em decorrência de um câncer que começou na boca”, lamenta a filha.
Só após o falecimento de Seu Amaro, a família conseguiu resolver o problema do registro da escritura da casa onde ele viveu boa parte da vida. “As maiores lições dele foram a honestidade, o respeito pelo trabalho e o valor da amizade e do amor. Sempre foi um grande homem, alguém muito ligado à família”, afirma a filha Marlene Silvestre da Silva Giovaneli.
Mesmo depois de se aposentar, Seu Amaro, que adorava bater papo com os amigos nos botecos, continuou realizando trabalhos eventuais como pedreiro, inclusive de forma voluntária.