Manifestação teve discursos de lideranças contra reformas

Lideranças de vários segmentos profissionais (majoritariamente servidores públicos), estudantes, além de representantes de entidades e instituições, participaram ontem de manifestação em Paranavaí.
Foi uma forma de marcar a greve geral, convocada nacionalmente pelas centrais sindicais. Palavras de ordem e discursos se posicionaram contra as reformas trabalhista e previdenciária.     
Por se tratar de um movimento plural, houve espaço para diversas lutas dos chamados movimentos populares, além dos gritos de “Fora Temer”, que têm marcado atos públicos com tais características pelo país, pedindo a saída do presidente da República, Michel Temer.
Uma bandeira cor laranja com a expressão “Rua – Juventude Anticapitalista” chamou a atenção em meio a cartazes e faixas. Uma voz dos jovens na tentativa de reencontrar a própria poesia.  
A partir das 9h, o público se concentrou no pátio da Prefeitura. Professor da Rede Pública do Estado, o vereador Carlos Alberto João (PT) fez os encaminhamentos, explicando as razões da greve e convocando as pessoas para as manifestações.
BISPO DIOCESANO – Primeiro a falar, o bispo da Diocese de Paranavaí, dom Geremias Steinmetz, detalhou o posicionamento da Igreja em relação às reformas da CLT – Consolidações das Leis do Trabalho – e da Previdência Social.
O religioso entende que é preciso fazer a Reforma da Previdência, mas descarta o formato proposto. Na sua avaliação, penaliza os menores salários, após 30, 40 anos de trabalho.
Na contramão dessa lógica, citou alguns privilégios atuais, como altos salários para aposentados de determinadas categorias do setor público. Cobrou o debate sobre a taxação de grandes fortunas e condenou a corrupção em todos os níveis.
Na mesma linha, lamentou que a proposta de reformar a CLT vai atingir os mais pobres. Por isso, pediu que a reforma trabalhista seja justa e que contemple eventuais distorções. Lembrou o fato de que algumas ações trabalhistas nem sempre são justas e afetam pequenos empresários, até com falência. “É preciso saber pesar as coisas”, ponderou, pedindo atenção para as minorias, dentre as quais, os índios, as comunidades quilombolas e outras.    
Para o religioso, as soluções dos problemas devem partir do entendimento. Dom Geremias lembra que a Constituição de 1988 foi uma grande solução, seguida das “Diretas já”. Agora, sintetiza, é um novo momento e exige uma nova luta para barrar a onda de retirada de direitos.
O bispo também lamentou “a roubalheira”, que coloca o dinheiro público no bolso de poucos, comprometendo investimentos em saúde, educação, além de outros aspectos importantes para a vida do povo, como a qualificação científica.
GEROU SURPRESA – De mudança para Londrina, onde assumirá a Arquidiocese, dom Geremias foi aplaudido. Informalmente, participantes falaram da coragem do bispo pelo discurso e por participar de uma manifestação com tais características.
Houve quem lembrasse que ele também participa do “Grito dos Excluídos”, que anualmente sai às ruas para defender a população muitas vezes marginalizada, como moradores de rua e trabalhadores sem-terra.
OUTRAS LIDERANÇAS – Os demais discursos seguiram a mesma linha, reforçando a necessidade de barrar as reformas no Congresso Nacional. O presidente da APP-Sindicato, José Manoel de Souza, avalia que as reformas são uma afronta à classe trabalhadora.
Analisa que no mundo os exemplos mostram a evolução da sociedade se dando pela valorização do trabalho. Por fim, conclama a população para manifestar nas ruas, sob pena de perder direitos consolidados pela Constituição de 1988.  
O diretor do Sindicato dos Bancários, Neil Emídio Júnior, falou do modelo atual de gestão, em que estaria havendo o abandono do presidencialismo na prática e consequente adoção de um sistema parlamentarista (O Congresso governa).
Para ele, as reformas contrariam o artigo sétimo da Constituição. O referido garante direitos ignorados nas mudanças, analisa. Complementando, lamentou o que considera distorção quando os reformistas falam que a CLT é de 1943. Na verdade, detalha, apenas 13% do texto original permanece, garante.
A professora da Unespar – Universidade Estadual do Paraná – Campus Paranavaí – Isabela Candeloro Campoi, lamentou a pouca adesão nacional ao movimento, além de reiterar a necessidade de mobilização contra as ideias reformistas. E terminou com um questionamento: Cadê as pessoas do impeachment?
Outros oradores reforçaram a mensagem pela resistência às reformas, com direito a muitas palavras de ordem, tendo como alvo o presidente Michel Temer. Uma professora lamentou o que considera precarização na situação de professores contratados por tempo determinado (PSS) e de professores municipais.  

CAMINHADA
Após as manifestações dos oradores, o grupo caminhou pela Rua Getúlio Vargas até a esquina das agências bancárias, onde se misturaram com clientes em fila de espera. Numa das agências, um grupo de músicos esperava com direito a muito samba e letras irreverentes como “Se gritar pega ladrão…”
Quem passava, observava a movimentação. Alguns sem entender, outros aprovando. Uma parcela também fez sinal negativo, mas sem qualquer incidente registrado. Guardas municipais, agentes da Diretoria de Trânsito – Ditran – e alguns policiais militares observavam toda a movimentação.
Pouco a pouco houve desmobilização, até por conta da abertura das agências bancárias, posto que foi dia de trabalho. A greve anunciada pelo Sindicato dos bancários e que duraria todo o dia, se restringiu ao atraso de uma hora na abertura. Bancos atenderam a partir das 11 horas (ver matéria nesta edição).