Comunidade acadêmica discute implantação da política de cotas

Em 2003, a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) implantou a cota social, garantindo 50% das vagas para alunos provenientes de escolas públicas. No ano seguinte, foi a vez da UNB estabelecer a cota racial, estabelecendo que 20% dos aprovados no concurso seletivo fossem negros.
A aplicação da política de cotas é discutida no Brasil há mais de 10 anos. Trata-se de uma ação afirmativa que tem como objetivo reparar desigualdades sociais e econômicas perpetuadas ao longo dos tempos. Agora, o debate chegou à Universidade Estadual do Paraná (Unespar), em resposta ao apelo dos próprios estudantes.
Seminários sobre o assunto estão sendo realizados em todos os campi que formam a instituição reunindo professores e acadêmicos. Na noite de quinta-feira (18), foi a vez da comunidade universitária de Paranavaí se envolver no debate. O encontro foi dirigido por Andréa Sério Bertoldi, coordenadora do Centro de Educação em Direitos Humanos (CDEH) da Unespar.
Ela explicou que as cotas tornam possível democratizar o acesso ao Ensino Superior. “É uma política primordial”, disse a professora. Sendo assim, é preciso criar mecanismos que garantam a inserção de quem enfrenta dificuldades. “Isso é cumprir o papel social da universidade”, argumentou Andréa.
Na avaliação da professora, existe uma disparidade entre o número de alunos brancos e de classe média e o de negros, pardos, indígenas, pessoas com deficiência e de baixa renda. A política de cotas torna possível equilibrar essa realidade. A explicação: é uma questão de dar oportunidades.
Andréa afirmou que o questionamento sobre o desempenho dos estudantes que ingressam na universidade a partir das cotas tem sido bastante comum entre as pessoas contrárias a essa ação afirmativa. No entanto, estudos mostram que os resultados são tão positivos quanto os obtidos por alunos não-cotistas.
UNESPAR – A coordenadora do CEDH disse que pouco mais de 25% dos acadêmicos de todos os campi da Unespar se declaram pardos. Apenas 3% afirmam ser negros. Considerando somente Paranavaí, os números mostram que o cenário é um pouco mais inclusivo: 35,87% são pardos e 4,72% são negros.
A implantação da política de cotas tornaria possível aumentar esses índices e garantir que não somente negros e pardos, mas também pessoas com deficiência e aquelas com menor poder aquisitivo tenham acesso aos cursos superiores da Unespar.
Nesse sentido, o debate iniciado nos campi da instituição é o primeiro passo para estabelecer de que maneira as regras serão aplicadas. Por isso, em cada unidade da Unespar professores e acadêmicos estão sendo ouvidos: dúvidas, opiniões e sugestões que possam contribuir para a formação das propostas.
Após esta primeira etapa, a intenção é aprofundar os debates, convidando especialistas no assunto e representantes de movimentos sociais para conversar com professores e estudantes. Ao mesmo tempo, buscar em outras universidades exemplos de políticas afirmativas que deram certo.
A partir daí, levando em conta as necessidades de cada campus da Unespar, será possível fazer estudos técnicos e análises detalhadas, elaborar justificativa coerente, criar a metodologia de implantação das cotas e, por fim, implantar a política em toda a Unespar.
A professora Andréa disse que não dá para saber quanto tempo levará até a conclusão de todo o processo. Segundo ela, 2017 será para amadurecer todas as ideias. Depois, haverá o cumprimento de trâmites burocráticos para que, somente então, as políticas de cotas sejam implantadas efetivamente.