Biomassa e outras matrizes energéticas podem ser aproveitadas dentro das propriedades

Por conta da abundância de recursos de biomassa vegetal, dejetos de animais e da incidência de energia solar, especialistas afirmam que o futuro da energia no Brasil é a renovável.
O país é o primeiro colocado mundial no uso da bioenergia, que é aquela obtida por meio da conversão da biomassa em energia. De toda bioenergia utilizada no planeta, o Brasil consome 16%, seguido pelos EUA, com 9%, e Alemanha, com 7%.
Este porcentual deve crescer ainda mais, uma vez que o Brasil se comprometeu a aumentar a participação de fontes renováveis na sua matriz energética entre 28% e 32% até 2030, como ferramenta para reduzir as emissões de gases causadores de efeito estufa.
Já temos tradição no uso da energia hidrelétrica, que também é considerada renovável, uma vez que aproveita a força mecânica da água, porém esta fonte está sujeita a estiagens e outros problemas climáticos que podem prejudicar seu abastecimento.
No Paraná, onde está localizada a Itaipu, a segunda maior usina hidrelétrica do mundo, o uso de dejetos de animais (suínos, aves e bovinos) para a produção de biogás, e a geração de energia e biofertilizante, já está consolidado em diversas iniciativas que comprovam que é possível converter passivos ambientais em ativos energéticos.
À medida que avançam as tecnologias empregadas no meio rural, cresce a demanda por energia no campo. Mas os investimentos em geração e transmissão de energia por parte das empresas concessionárias não avançam no mesmo ritmo. Com isso, são registrados muitos casos de queda e interrupção no abastecimento, que causam prejuízos para avicultura, produção de leite e outras atividades que têm a energia como importante insumo.
ESTRATÉGIA – O aproveitamento de dejetos ambientais para geração de energia dentro das propriedades, não é apenas uma opção econômica, mas estratégica para os produtores paranaenses.
“A produção de bioenergia é uma ótima ferramenta para diminuir a dependência de combustíveis fosseis”, afirma a engenheira agrônoma da FAEP Geisa Costa.
A Federação realiza este ano uma série de visitas técnicas para conhecer sistemas de geração e uso das energias renováveis na Alemanha, Áustria e Itália.
Nestas visitas, lideranças rurais e técnicos poderão conhecer como os produtores destes três países estão utilizando as tecnologias e os recursos disponíveis para amenizar seus problemas energéticos e ambientais.
O roteiro inclui idas a centros de pesquisa, universidades, propriedades rurais e empresas que já utilizam ou pesquisam biogás, biomassa e energia solar.
PROCESSO – A bioenergia é a energia obtida por meio de recursos naturais renováveis. O processo aproveita os resíduos disponíveis, que variam de região para região. No Sul do Brasil, por exemplo, são resíduos de madeira e dejetos de animais. Já no Nordeste, se usa casca de caju, fibra de coco e entre outros.
Resíduos ricos em matéria orgânica são boas fontes de combustível, a exemplo do esterco suíno, bovino e de aves. Algumas iniciativas utilizam até mesmo o esgoto urbano e o lixo doméstico para a produção de energia.
Na geração de bioenergia, as fontes de matéria orgânica (esterco, lixo etc.) passam por um processo de fermentação em um biodigestor, no qual são liberados gases, em especial metano e gás carbônico. Esse biogás pode ser purificado e transformado em biometano, que é utilizado como combustível para automóveis e tratores.
O biogás também pode ser usado como fonte de energia térmica, aquecendo caldeiras, por exemplo.Atualmente, a legislação prevê a possibilidade de repassar a energia excedente para a Copel, gerando um crédito de energia que pode ser utilizado em até 60 meses, na mesma propriedade ou em outra do mesmo dono.
BIOFERTILIZANTE – O processo também produz o biofertilizante, que pode ser aplicado diretamente na lavoura. De acordo com a legislação vigente, no caso da utilização em áreas de pastejo, é necessário esperar 40 dias após o material ser incorporado no solo para evitar possíveis contaminações.
Outra forma de utilizar a biomassa para geração de energia é a compactação de resíduos vegetais para a produção de briquetes ou pellets, que podem ser usados como lenha.
Neste processo, casca de arroz, bagaço de cana-de-açúcar e palha de milho, por exemplo, são prensados para formar um produto denso e com grande poder de queima. Uma tonelada de pallets equivale a 980 quilos de carvão mineral ou 480 quilos de gás natural.
No caso da energia solar, as células fotovoltaicas presentes nos painéis convertem a luz solar em eletricidade. No Brasil, a incidência de luz do sol é grande, mas o alto custo destes equipamentos ainda dificulta a expansão desta tecnologia no país.
Além de baratear o custo da energia e dar a destinação ambientalmente correta dos resíduos rurais, a bioenergia pode garantir autonomia e independência aos produtores que tem na energia elétrica um insumo importante para produzir.
No Paraná, existem casos bem-sucedidos do uso do biogás oriundo dos dejetos de animais. Além das vantagens econômicas e ambientais, há também ganhos na qualidade de vida das famílias, uma vez que a destinação dos resíduos para geração de energia diminui o mau cheiro, a presença de moscas e melhora o aspecto visual da propriedade.