Soja: Arenito Caiuá apresenta médias altas de produtividade
A exemplo do que se observa na terra roxa, a região do Arenito Caiuá, no noroeste paranaense, exibe um grande número de produtores de soja que obtiveram nesta safra uma colheita superior à média dos últimos anos.
Mesmo com os problemas provocados pelo fenômeno climático La Niña, que registrou estiagem no início da fase de desenvolvimento da cultura e má-distribuição de chuvas que trouxeram grande variação às médias de produtividade, o arenito se consolida como a nova fronteira para a oleaginosa.
SATISFAÇÃO – No areão de Perobal, município vizinho a Umuarama, o produtor Gérson Bortoli disse estar satisfeito com o que conseguiu. Foi o melhor ano desde que começou a lidar com soja, em 2004, fechando a colheita com média ao redor de 160 sacas por alqueire.
Números assim podem ser encontrados também em Iporã, a 50 quilômetros, onde Albertino Afonso Branco, o “Tininho”, produziu 162 sacas por alqueire, um recorde pessoal.
ILPF – “Eu consegui impulsionar minha atividade graças à integração”, afirma Bortoli, que, a exemplo de “Tininho”, desenvolve o programa de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), com a orientação da Cocamar.
Outro adepto da ILPF é Abílio Lopes Fernandes, de Umuarama, que está finalizando a safra com média de 150 sacas por alqueire.
O engenheiro agrônomo Erick Zobioli Marinelli, da Cocamar em Umuarama, explica que os produtores participantes de projetos integrados, acompanhados pela cooperativa, realizam os investimentos necessários em tecnologias, o que viabiliza as boas médias. É diferente do que acontece, por exemplo, com a maioria dos arrendatários e dos produtores que não se preocupam com isso, e seus resultados têm sido inferiores.
COBERTURA DO SOLO – A safra deste ano deixou claro que sem a aplicação de tecnologias adequadas para cultivar o arenito, o risco é alto. Entre elas, práticas consideradas indispensáveis, como a cobertura do solo com palha de capim braquiária, preconizada pela Cocamar.
De acordo com Marinelli, produtores que não observaram isso, colheram abaixo de 100 sacas por alqueire.
Para “Tininho”, a soja deixou de ser apenas uma ferramenta que era utilizada para reforma do pasto. “Hoje, ela cumpre essa função e dá lucro”. Nos oito anos em que faz integração, garante nunca ter se decepcionado com a oleaginosa.
Os dois e os outros tantos produtores que cultivam perto de 10 mil alqueires com sistemas integrados na região da Cocamar, devem seu êxito ao rigor com que seguem as orientações dos técnicos. “Não adianta fazer pela metade”, alerta Marinelli; “na integração, os detalhes fazem a diferença”, adverte Fernando Ceccato, da Cocamar em Iporã.
PROFISSIONALISMO – A preocupação de converter em produtividade o investimento que se realiza nas melhores tecnologias, é marcante na Fazenda Santa Nice, em Amaporã, região de Paranavaí, que também desenvolve um programa de ILP, orientado pela cooperativa. Foi a segunda safra com a oleaginosa e a média ficou em 150 sacas por alqueire.
“A propriedade é gerida como uma empresa, de maneira altamente profissional”, observa o coordenador técnico de ILPF da Cocamar, Renato Watanabe. Para minimizar os efeitos de um déficit hídrico, os proprietários, os irmãos Marcelo e Antonio Grisi, implantaram no ano passado um sistema de irrigação por pivô central. “A irrigação funciona como um seguro para o investimento”, acrescenta Watanabe.
Atraso ainda é grande
A quantidade de pastos degradados no noroeste paranaense é de perder de vista, com média pouco superior a duas unidades animais por alqueire e um retorno econômico insignificante, segundo dados oficiais.
“Tem pecuarista que está tendo prejuízo e nem sabe fazer a conta”, assinala o agrônomo Erick Marinelli. Sinal de que o potencial para o desenvolvimento de sistemas mais produtivos, como a integração, tem pela frente um campo fértil para continuar avançando nessa região.
“Tem muito pecuarista que possui fazenda mas está ficando pobre, porque a rentabilidade dele vai minguando ano após ano”, assinala o presidente do Conselho de Administração da Cocamar, Luiz Lourenço, considerado um dos principais incentivadores da ILPF no país.
De acordo com Lourenço, há um esgotamento gradativo das pastagens, porque a atividade, em muitos lugares, continua sendo extrativista. “Ao longo de décadas, não há reposição de nutrientes básicos”.
INEFICIÊNCIA – A grosso modo, comenta, um produtor assim consegue tirar no máximo quatro arrobas de carne por alqueire ao ano, considerando apenas os custos diretos. Com a arroba cotada a R$ 150, isto daria R$ 600, “o que é muito pouco”. Sem falar que o gado, nessas condições, geralmente demora quatro anos para ser terminado, porque ganha peso com a recuperação natural dos pastos no verão, mas emagrece no inverno. É o conhecido “boi sanfona”.
Em projetos bem conduzidos de ILPF, compara Lourenço, a produtividade pode chegar a 30 arrobas de carne por alqueire ao ano, uma quantidade dez vezes maior. E, graças à oferta de alimento e ao manejo adequado, os animais ainda vão mais cedo para o abate, o que potencializa a pecuária e garante ao consumidor um produto de melhor qualidade.