Tonelada da mandioca a R$ 650
O ano começou com aumentos no preço da tonelada da raiz de mandioca na região de Paranavaí, uma situação atípica para o mês de janeiro.
Ontem, por exemplo, havia informação de negócios superior a R$ 640,00 a tonelada, algo impensável há cerca de um ano, quando agricultores chegaram a vender o produto a R$ 140,00, portanto abaixo do custo de produção, estimado na época em cerca de R$ 200,00.
O Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento do Paraná, divulgou ontem a cotação de preço mínimo em R$ 609,00 e máximo de R$ 649,00 para a mandioca com padrão de amido 580 gramas.
O presidente da Associação de Produtores de Mandioca (Aproman), Francisco Abrunhoza, projeta preços ainda maiores para o futuro próximo. Alega que há falta do produto e, por isso, os valores são puxados para cima.
Muitas fecularias arcam com custos mais elevados por conta de compromissos de entrega de fécula aos compradores.
Ele justifica que o preço deve continuar subindo, alavancado pela escassez, agravada pela seca do Nordeste que já dura cinco anos. Tem comprador nordestino buscando matéria prima (raiz) em São Paulo, reduzindo ainda mais a oferta.
Mesmo com preço tão elevado, o presidente entende que o produtor está apenas recuperando parte do que perdeu desde 2014, com frequentes períodos de baixa.
Além disso, apenas grandes produtores têm raiz para colher, já que a maioria teve que vender a produção para devolver a terra arrendada ou mesmo fazer frente aos compromissos financeiros assumidos. “Muita gente quebrou (faliu) ou abandonou a atividade”, lamenta.
ORGANIZAR O SETOR – Apesar do período de alta, Abrunhoza diz que a situação não é boa para o produtor, que continua na incerteza. Também não favorece a indústria, por conta das variações.
O ideal, avalia o presidente, é que o setor se organize (e se una), estabelecendo preços máximo e mínimo. Com isso, equilibra a cadeia produtiva, aposta.
Ele concorda que o cenário atual afeta a indústria, que acaba inflacionando o mercado pela necessidade de matéria prima. Tanto que parte das indústrias está parada. Este é o período de entressafra, que vai até março.
Mesmo após o período da entressafra, deve continuar a escassez do produto. Segundo Abrunhoza, houve redução no plantio em 2015 para a colheita em 2017.
O preço baixo desestimulou, provocando a quebradeira e consequente saída da atividade. No Sudoeste do Estado, os agricultores optam por milho e soja, atividades que no momento têm melhor remuneração.
FUTURO
A falta de matéria prima deve se acirrar ainda mais em 2018, o que pode levar a outro problema: uma superprodução em 2019.
Ele entende que a boa remuneração do momento pode atrair os chamados aventureiros mais uma vez desequilibrar ainda mais o setor.
Citando a experiência pessoal, antecipa que vai plantar somente o necessário para garantir semente (ramas) no futuro, algo em torno de cinco alqueires, contra os 60 alqueires que cultivava. Assim, pretende se livrar do efeito negativo provocado pelos aventureiros.
Ele insiste que a solução passa pela união entre indústria e produtor. Nesta condição, cada agricultor planta apenas o que está contratado pela indústria, situação regulada por preço mínimo e máximo.
O líder ruralista crava que a área plantada recuou para 90 mil hectares, um contraponto aos 170 mil hectares de outras épocas. Segundo o Deral a área ficou em 110 hectares.
A Associação dos produtores integra cerca de 1.500 agricultores, sendo cerca de 250 atuantes no movimento nos estados do Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul. O presidente afirma que continuam se reunindo e, sobretudo, trocando informações constantes através das redes sociais.