Santa Casa enfrenta dificuldade financeira

“É uma situação atípica, a mais delicada dos últimos oito anos”. Assim o diretor administrativo Héracles Alencar Arrais define o momento financeiro da Santa Casa de Paranavaí, o hospital referência da região e de maior resolutividade, ou seja, onde são atendidos os casos graves.
A situação é consequência da perda de receita oriunda do atendimento particular e de convênios nos últimos três meses. Na mesma medida, cresce o número de pacientes do SUS – Sistema Único de Saúde, um reflexo da crise financeira vivida pelo país.
Arrais informa que os recursos de atendimentos particulares caíram perto de 50%. Até recentemente o hospital faturava cerca de R$ 220 mil com essa modalidade, hoje não passa de R$ 140 mil, tendo chegado a apenas R$ 130 mil em um determinado mês.
A receita dos convênios, outra fatia importante, igualmente despencou em volume de dinheiro. Há cerca de três meses apenas uma cooperativa médica fechava o mês com investimento de cerca de R$ 400 mil em atendimento de usuários. Hoje, a conta não passa de R$ 200 mil, tendo chegado a R$ 180 mil. Em apenas um trimestre o hospital deixou de arrecadar perto de R$ 600 mil com esse convênio, detalha o diretor.
RAZÕES – A explicação para essa queda está na crise financeira nacional, fala o diretor. Arrais entende que muitos pacientes particulares agora optam pelo SUS, via de regra, de remuneração insuficiente.
Por outro lado, muita gente perdeu o emprego e, por consequência, o convênio médico. Em outros casos, também por falta de dinheiro, as pessoas simplesmente deixaram de ter plano de saúde.
CONSEQUÊNCIAS – A soma dessa queda no faturamento leva a algumas consequências. A primeira delas é em relação aos funcionários. Arrais diz que está conversando com as chefias, explicando o momento.
Uma parcela do 13º salário foi paga dentro do prazo, no final do mês passado. Porém, a segunda parcela ou os salários do mês podem sofrer algum atraso, confirma, complementando que o trabalho é para reduzir tais impactos. A Santa Casa tem cerca de 500 funcionários. A folha de pagamento mensal é de R$ 1.050.000,00 já com encargos.
CAMINHOS – Para fazer frente à dificuldade financeira, nesta semana o diretor esteve em Curitiba com lideranças da Secretaria de Estado da Saúde. Retornou com a esperança de que uma ajuda extra possa ser repassada. “O Estado é o nosso grande parceiro”, apontou.
Arrais lembra que a crise não é exclusividade da Santa Casa de Paranavaí. Pelo contrário, outros hospitais filantrópicos estariam em situação ainda pior e passando por intervenção, o que não é o caso da Santa Casa, garante.     
Em outra frente, a Santa Casa busca alternativas. Uma delas é reforçar as campanhas de participação comunitária com doações voluntárias. A campanha de doação na conta de água, por exemplo, deve ser reforçada. Há também a doação em cofrinhos espalhados pelo comércio.
São formas simples de participação, mas que podem se constituir em receita importante neste momento. O problema é que o número de doadores ainda é pouco.
As doações na tarifa de água, por exemplo, não chegam a R$ 1.000 mensais. Ontem a diretoria começou a definir uma estratégia para reforçar tais ações.
UNIDADE MORUMBI – Mesmo com a crise batendo à porta, a Santa Casa vai manter o cronograma das obras da Unidade Morumbi (antigo Hospital Noroeste), em parceria com o Governo do Estado. A construção também foi tema de reunião na Secretaria de Saúde durante a semana.  
A previsão é que já no começo do ano serão liberados recursos para a segunda fase da obra civil, cujo orçamento global é de R$ 11,7 milhões. A primeira foi concluída em novembro, com investimento de R$ 9,5 milhões.
Já a segunda etapa deve ser concluída até dezembro do ano que vem. O objetivo é iniciar o processo de licitação para assinar no dia 18 de março de 2017, quando a Santa Casa completa 50 anos.
Neste dia também deve ser inaugurado o novo posto de coleta de exames, ao lado do Centro Oftalmológico. Paralelamente, a Santa Casa trabalha na busca de recursos para equipar o novo hospital. Investimento em equipamentos será de cerca de R$ 10 milhões.
A nova estrutura terá 7,4 mil metros quadrados de área construída e atenderá cerca de 260 mil pessoas de 28 municípios da região. Assim, a Santa Casa deve ampliar em 80% a capacidade de atendimento.
Atualmente trabalha com 170 leitos. Além disso, o novo hospital vai oferecer no futuro novas especialidades de alta complexidade, como cardiologia e oncologia. Com o novo hospital também serão contratados cerca de 450 novos profissionais.