Embrapa desenvolve sua primeira variedade de mandioca para indústria
A BRS CS01 – recomendada para os estados do Paraná e Mato Grosso do Sul – apresentou, no segundo ciclo (colheita aos 18 meses), produtividade até 93% superior às variedades hoje plantadas nesses estados.
Desde 2007, a Embrapa avaliou mais de dois mil novos clones de mandioca nos estados do Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo, em campos experimentais de instituições parceiras. Esse trabalho resultou na seleção do clone BRS CS01, que já consta no Registro Nacional de Cultivares (RNC).
“Na Embrapa Mandioca e Fruticultura (BA), fizemos cruzamentos das melhores variedades do Nordeste com as mais utilizadas no Centro-Sul. As plantas provenientes das sementes obtidas nesses cruzamentos foram levadas para a Embrapa Agropecuária Oeste (MS), e foram avaliadas por três anos agrícolas, comparadas com as quatro variedades mais plantadas nos estados do Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo. Também houve avaliações em áreas de parceiros nos municípios paranaenses de Paranavaí, Nova Londrina e Marechal Cândido Rondon e em Naviraí (MS)”, conta o melhorista Vanderlei Santos, pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura.
A região Centro-Sul tem grande importância na produção brasileira de mandioca, sendo o Paraná o segundo maior produtor do Brasil. Concentra as indústrias responsáveis por cerca de 80% da produção brasileira de fécula de mandioca, mas a produção de raízes baseia-se em poucas cultivares, plantadas em grandes áreas.
De acordo com o pesquisador Marco Antonio Rangel, responsável pelo campo avançado da Embrapa Mandioca e Fruticultura no Centro-Sul, e com o pesquisador Rudiney Ringenberg, há outros clones promissores para a indústria em processo de avaliação.
Ivo Pierin Junior, diretor da Podium Alimentos – empresa com forte atuação no segmento de amido de mandioca para a produção de pão de queijo -, afirma que as expectativas são grandes em relação aos demais clones em análise.
“Nada pode ser descartado. Esses clones podem ter características distintas da variedade lançada, como uma curva de amido mais diferenciada, por exemplo”, diz Pierin Junior, que destina uma área de cinco hectares para os experimentos da Embrapa.
PARCEIROS – Outro parceiro importante é a Cooperativa Agroindustrial do Noroeste Paranaense (Copagra). Foi no 10º Encontro de Mandiocultores, tradicional evento da cooperativa, em Nova Londrina (PR), que a Embrapa lançou oficialmente a variedade, em julho deste ano.
O diretor-secretário da cooperativa, Ricardo dos Santos, enfatiza que hoje se busca eficiência: “A expectativa com essa nova variedade é ser mais produtivo em uma área menor. Esse é um material que tem um potencial de produção maior e é adaptado às condições de solo dessa região”.
A produtividade de matéria seca da BRS CS01, cujo principal componente é o amido, foi, como informam os especialistas, quase 50% maior no primeiro ciclo em relação às variedades mais plantadas atualmente e, no segundo, chegou a valores maiores que 100%.
“Isso proporciona retorno mais rápido do investimento feito na implantação da lavoura e ganhos de valor junto à indústria”, acrescenta Rangel.
Adaptação ao plantio direto
Outra característica considerada importante é a adaptação ao plantio direto, uma necessidade da região Noroeste, que sofre com a erosão. Nesse sistema conservacionista, mantêm-se palha e restos vegetais de outras culturas na superfície, garantindo cobertura e proteção do solo, e o plantio é realizado no solo não revolvido.
O coordenador do Centro Tecnológico da Mandioca (Cetem), em Paranavaí (PR), Claodemir Grolli, afirma que o plantio direto é o futuro para a cultura da mandioca.
“Se queremos sustentabilidade, temos que cuidar do solo, e a forma mais correta é o plantio direto. Procuramos então incentivar produtores a que comecem a se familiarizar com o sistema”.
Ele acrescenta que a principal dificuldade hoje para adoção do plantio direto é que as variedades utilizadas não são desenvolvidas para isso: “São variedades de seleção natural, e no momento que se utilizam em plantio direto, a resposta varia muito. Em algumas situações, a mesma variedade pode dar um bom resultado, mas na maioria das situações não dá. Essa é a expectativa principal com a entrada de novos materiais para que possamos ter a tecnologia definida”.