Delegacia da Mulher contabiliza 370 casos de violência doméstica em 2016

A cada 11 minutos, uma mulher é estuprada no Brasil. De acordo com os registros da Central de Atendimento à Mulher (dique 180), de 2014 para 2015 houve um aumento de 54,4% no número de denúncias. São casos de violências físicas, psicológicas, morais, patrimoniais e sexuais, cárcere privado e tráfico de pessoas. Em 72% dessas situações, as agressões foram cometidas por homens com quem as vítimas têm ou tiveram algum vínculo afetivo.
Se os números nacionais assustam, vale a pena dar uma olhada na situação de Paranavaí. De 1º de janeiro até junho deste ano, foram abertos 278 inquéritos de casos de violência doméstica. O número saltou para 370 até a última quinta-feira.
A título de comparação, Umuarama – que tem população maior do que Paranavaí – registrou, até junho, 137 agressões contra mulheres. Considerando o período de janeiro até 28 de julho, foram 176 casos.
Mas o problema pode ser ainda mais grave. Para a vice-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Subseção de Paranavaí, Valéria Canalle, “estamos falando de números de situações formalizadas, registradas, o que nos leva a crer que sejam maiores, afinal, muitas mulheres ainda acabam optando pelo silêncio”.
A delegada da Mulher em Paranavaí, Fernanda Bertoco Mello, informou que as vítimas têm as mais variadas idades. Podem ser filhas, namoradas, esposas ou mães que sofrem injúria (xingamentos, ofensas), ameaças de agressão física e de morte e lesão corporal.
Na avaliação de Fernanda, a violência contra as mulheres pode ser explicada, principalmente, por questões culturais. “Muitas vítimas dependem financeiramente dos agressores, por isso, eles se sentem no direito de agredi-las. A mulher se sente subjugada”. É preciso mudar essa cultura do ódio e da dominação e “fazer frente contra a violência”, destacou a delegada.
PREVENÇÃO – Fernanda orientou as vítimas de violência a fazerem denúncias. Disse que é importante que se dirijam à Delegacia da Mulher e registrem a agressão. “Elas são ouvidas e, se quiserem, entramos com o pedido de medidas protetivas”. Podem resultar, por exemplo, no afastamento do agressor, para que não mantenha contato com a vítima, e até mesmo o afastamento do lar, caso ambos morem na mesma casa.
A delegada afirmou que a mulher em situação de perigo não tem segurança e fica exposta ao risco de sofrer novas agressões. Por isso, ela está fazendo um levantamento sobre a necessidade de criar, em Paranavaí, uma casa abrigo para as vítimas. Seria uma medida preventiva eficiente, mas para longo prazo, porque depende de um estudo detalhado e de parcerias.
Por enquanto, a Comissão da Mulher Advogada da OAB de Paranavaí está estruturando uma série de atividades voltadas para a população feminina dos municípios do Noroeste do Paraná. A vice-presidente da entidade explicou: “Estamos fazendo um mapeamento da violência contra a mulher em Paranavaí e região. Paralelamente estão sendo realizadas ações de conscientização”.
Em outra frente de atuação, a OAB de Paranavaí está firmando parcerias para oferecer suporte jurídico às vítimas de violência. Para conseguir atendimento gratuito, as mulheres devem ir até uma das sedes do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) e fazer um cadastramento. Depois disso, será feito o agendamento para que recebam a assistência de que precisam.
O próximo passo será envolver profissionais de outras áreas de atuação, para ampliar o alcance dos atendimentos às vítimas, por exemplo, assistentes sociais e psicólogos.
PASSEATA – A Comissão da Mulher Advogada programou, para o dia 13 de agosto, uma passeata que tem como objetivo chamar a atenção da população sobre a gravidade da situação atual. A concentração será na Praça dos Pioneiros, às 10 horas. De lá, os manifestantes sairão pelas ruas da cidade, chegando à região central, onde haverá distribuição de materiais de conscientização.
A caminhada faz parte da Campanha Viver sem Violência, que, na avaliação de Valéria, ganha mais força e envolvimento coletivo. “Temos percebido que toda a sociedade, outras entidades e pessoas têm nos procurado desejando participar da campanha”.
De acordo com a vice-presidente da OAB de Paranavaí, que preside a Comissão da Mulher Advogada, a iniciativa busca alterar o cenário de violência contra a população feminina. “Esses atos devem ser coibidos com rigor, e as vítimas não podem se calar”, declarou Valéria. É preciso mostrar que “elas não estão sozinhas”, concluiu.