O coração feminino sob ataque cardíaco
SÃO PAULO – As doenças cardiovasculares, conhecidas abreviadamente como DCVs, são as principais causas de morte no Brasil. Homens e mulheres estão igualmente sujeitos a morrer por causa de problemas do coração, entre eles o tão temido infarto, com o passar do tempo.
A diferença entre os gêneros, quanto à mortalidade por DCVs, é o tempo, justamente, que conta a favor das mulheres, neste caso.
O cardiologista Antonio Mansur, autor de vários estudos envolvendo o coração das mulheres, explica que nelas a Doença Arterial Coronariana (DAC), por exemplo, caracterizada pela obstrução das coronárias, aparece geralmente sete a 10 anos depois que os homens passam a apresentá-la. Enquanto eles ficam doentes a partir dos 50-55 anos, elas irão manifestar o mesmo problema depois dos 65 anos.
A desvantagem das mulheres em relação aos homens é a letalidade maior a que estão sujeitas quando tem um problema cardíaco grave como um infarto. O risco de morte durante uma hospitalização por infarto é sempre maior entre elas do que entre eles, segundo estudo internacional comparativo, de 1999¹, especialmente quanto mais perto estiverem dos 50-60 anos.
O estudo comparou homens e mulheres de 50 anos em diante, hospitalizados por causa de ataque cardíaco. O porquê dessa letalidade maior não se sabe. Segundo Mansur, por falta de estudos.
A hipótese mais forte para explicar a diferença em favor das mulheres para o desenvolvimento de doenças do coração é o estrógeno, hormônio que predomina no organismo feminino até a chegada da menopausa.
Os efeitos benéficos dos estrógenos no sistema cardiovascular já foram observados em uma variedade de pesquisas, lembra Mansur.
O hormônio teria ação sobre os níveis de gordura no sangue (colesterol), melhorando o HDL que é a gordura boa; e também faria um efeito sobre a integridade do endotélio, a camada interna que reveste os vasos. Por isso as DCVs só começam a aparecer nas mulheres cerca de uma década após a menopausa (última menstruação).
Um exemplo dessa diferença, segundo o cardiologista, é a definição de antecedentes familiares para a DAC. Consideram-se antecedentes familiares quando algum familiar direto (pai, mãe e irmãos) teve DAC com menos de 55 anos para os homens e de 65 anos para as mulheres.
Algumas características fisiopatológicas do processo da aterosclerose também seriam diferentes na mulher, em razão da proteção hormonal anterior à menopausa. “O processo é menos intenso, forma placas menores e em menor quantidade”, explica o pesquisador.
FATORES DE RISCO – Alguns fatores de risco para infarto são muito importantes, porém, tanto nos homens quanto nas mulheres, como hipertensão arterial, dislipidemias, diabetes e o tabagismo.
“Em um estudo com mulheres jovens com DAC, que sofreram um infarto com menos de 55 anos – idade em que não se espera esse tipo de evento – observou-se a presença de um maior número de fatores de risco. E em outra análise realizada duas variáveis se destacaram: o tabagismo e o HDL baixo”, esclarece Mansur.
A diferença das mulheres sob um ataque cardíaco, que merece especial atenção, é a manifestação dos sintomas. Ao contrário dos homens, que sentem dor fulminante no peito e formigamento no braço esquerdo na fase aguda do evento cardíaco, elas podem apresentar sintomas atípicos como falta de ar, cansaço, tontura, náuseas e vômitos.
“Dai, pensam que não é nada de mais ao invés de procurar atendimento médico”, afirma Mansur. E esse tempo perdido na indecisão sobre a busca de auxílio médico pode comprometer sua perspectiva de sobrevivência.