Goldfajn: Com reformas, Brasil pode voltar a crescer em 2017

BRASÍLIA – Aprovado pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado para a Presidência do Banco Central, o economista Ilan Goldfajn considerou “factível” a volta do crescimento da economia em 2017, desde que sejam aprovadas as reformas propostas pelo governo ao Congresso Nacional.
Sabatinado por mais de quatro horas na comissão, ontem, Goldfajn recebeu 19 votos favoráveis e 8 contrários.
O economista disse que a inflação está no “caminho de retorno” para o centro da meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional, de 4,5% ao ano. Para Goldfajn, “esse é o desafio do Banco Central”, que ele espera ser vencido “num horizonte não muito distante”.
Em vários momentos da sabatina, ele defendeu a manutenção do regime de câmbio flutuante e disse ao senador Cristovam Buarque (PPS-DF) que, nesse mecanismo, “o câmbio não é a âncora”. A âncora, conforme Goldfajn, é “a capacidade de reação do Banco Central a qualquer desvio”.
Sobre a atuação do BC, Goldfajn disse ser a favor da autonomia do banco e não da independência total. Para ele, o governo deve traçar seus objetivos e a autarquia precisa ter liberdade técnica e operacional para alcançá-los.
DÍVIDA – Goldfajn ouviu críticas do senador Alvaro Dias (PV-PR) à falta de propostas com o objetivo de solucionar “a monumental dívida pública”. O parlamentar observou que, no Orçamento deste ano, estão reservados R$ 1,328 trilhão para o pagamento de juros e serviço da dívida e apenas R$ 46 bilhões para investimentos, “um contraste gritante e lamentável”.
O economista considerou a dívida pública “a questão mais iminente que temos hoje no Brasil” e disse que, por isso, as medidas recentemente anunciadas incluem um teto para despesa pública. “Havendo um teto para despesa, no final das contas acaba tendo-se um teto para o endividamento”.
Para Goldfajn, há duas vantagens nas medidas fiscais. Primeiro, a redução da incerteza, com a volta do investimento e do consumo. A segunda vantagem apontada é a redução dos custos da política monetária. Com as contas públicas em ordem, acrescentou, os custos da desinflação são reduzidos.
Questionado por vários senadores, o economista disse que há uma relação entre juros subsidiados e altos na economia. Quanto maior for o nível de subsídios, maior será o impacto para a elevação dos juros livres na economia. Para Goldfajn, o Brasil não vive a chamada dominância fiscal, situação em que o Estado não consegue gerar receita, por meio de impostos ou contribuições, suficientes para financiar seus gastos.
A senadora Lúcia Vânia (PSB-GO) questionou o economista sobre a existência de instrumentos alternativos a um ajuste fiscal severo. Ele disse que não há como “prescindir do ajuste fiscal” e defendeu medidas complementares, como a transparência e a administração das expectativas na economia. (Agência Senado)

Conflito de interesse
A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) levantou uma situação de possível conflito de interesse no fato de o Banco Central ter a responsabilidade de fiscalizar o ex-empregador de Ilan Goldfajn, o Itaú Unibanco, do qual era até recentemente economista-chefe e acionista.
O economista respondeu que não tem mais ligação com seu antigo empregador e que vendeu sua participação acionária, que considerou parte de sua remuneração. Para ele, “é extremamente rico o setor público fazer uso da experiência, da vivência e do conhecimento de atores do setor privado”.
“Atuando no Banco Central, caso seja aprovado, eu vou me comportar como me comportei em toda a minha carreira: de forma isenta, apartidária, ética e honrada”, afirmou.
O senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE) disse que, ao examinar a indicação de Goldfajn, a CAE não está atropelando nenhuma norma legal. Ele afirmou que a indicação atende a todas as normas vigentes e que o indicado tomou o cuidado de se desvincular da instituição financeira para a qual trabalhava e se desfazer da sua posição acionária.
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) anunciou a decisão de recorrer ao Supremo Tribunal Federal para anular a sabatina de Ilan Goldfajn. O parlamentar criticou a decisão, aprovada pelo plenário da comissão, de abrir o painel de votações antes do término dos questionamentos dos senadores. Lindbergh comparou a “pressa” na votação desta terça-feira com a sabatina dos indicados para o Federal Reserve (FED), o banco central norte-americano, que demora vários dias.