Paraná prevê crescimento de 11,6% na safra de laranja em 2016
A previsão é que o Valor Bruto da Produção (VBP) da atividade alcance R$ 277,4 milhões, o mais alto da última década, embalado pela melhora dos preços internacionais.
Quarto produtor nacional (5,7% do Brasil), o Paraná tem mais de 600 citricultores e 21,6 mil hectares cobertos com pomares. Somente no campo, a atividade gera 3 mil empregos diretos e mais 3 mil indiretos.
Principal produto da fruticultura paranaense, a laranja é cultivada em cerca de 100 municípios, com destaque para a região Noroeste. Paranavaí, Maringá e Londrina são os principais produtores.
Tecnologia, investimentos e apoio do Governo do Estado fazem da citricultura paranaense uma das mais competitivas do País. “A citricultura tem relevância para economia do Estado, com uma geração muito grande de empregos tanto no campo como na indústria de sucos”, diz José Croce Filho, coordenador da área de citricultura da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar).
COLHEITA E PREÇOS – A colheita vai de julho a dezembro, mas algumas variedades precoces começam a ser colhidas em junho. No ano passado, a projeção inicial era de uma produção perto de 1 milhão de toneladas, mas problemas climáticos – como geada no inverno e seca na primavera – comprometeram a safra.
“Esperamos uma recuperação da produção em 2016, apesar das chuvas excessivas na primavera e no verão”, diz Paulo Andrade, engenheiro agrônomo do Deral.
De acordo Andrade, nessa temporada o produtor vai se beneficiar da combinação de queda dos estoques – provocada pelas perdas de produção em São Paulo e Minas Gerais e na Flórida, nos Estados Unidos – e da melhora dos preços internacionais.
Os preços dos contratos fixados com as indústrias estão animando os citricultores. Os valores pagos subiram 42% em relação ao ano passado. Enquanto na safra passada o preço pago pela caixa de 40,8 kg estava em R$ 10,50, nessa temporada chegam a R$ 15,00 por caixa.
EXPORTAÇÃO – A laranja produzida nos pomares do Paraná é transformada em suco pelas indústrias, com foco na exportação para países da União Europeia, do Oriente Médio, Estados Unidos, Austrália e Canadá.
O Paraná possui três indústrias de suco – Louis Dreyfus, que assumiu as operações na área das cooperativas Cocamar e Corol; a Citri Agroindustrial S/A, uma empresa privada de citricultores, e a Cooperativa Integrada. As exportações se beneficiam do dólar mais caro e da baixa oferta de laranja no mercado internacional, que pressiona as cotações para cima.
DOENÇAS – A redução dos estoques mundiais é provocada pelo avanço de doenças nos pomares, como o greening, que afeta o desenvolvimento da planta. No estado americano da Flórida – segundo maior produtor mundial, atrás do Brasil – a doença chegou a atingir 80% das árvores.
Em São Paulo e Minas Gerais, dois grandes produtores de laranja, já foram erradicados cerca de 27 mil hectares de pomares no último ano por conta da doença. “É uma área que equivale à do Paraná”, diz Andrade.
O bom momento de preços também tem favorecido a retomada de plantios novos no Estado, de acordo com José Croce Filho, da Adapar. Segundo ele, somente nesse ano, a taxa de renovação dos pomares no Estado atingiu 1,5%.
Atividade no Paraná é uma das mais competitivas do País
Na última década, tecnologia, apoio do Governo do Estado, por meio do Iapar e da Adapar, e investimentos fizeram a produção de laranja no Paraná ser uma das mais competitivas do País.
Os pomares de laranja do Paraná são os mais produtivos do País. De acordo com dados do Deral, no Brasil colhe-se em média 553 cx de 40,8kg/ha e a produtividade em São Paulo fica em 625 cx/ha. No Noroeste do Paraná, este número é de 923 cx/ha, alcançando 2.000 cx/ha em alguns pomares.
Boa parte desse resultado se deve à atuação do Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR), que foi decisivo para o desenvolvimento da cultura no Estado.
Cultivo esteve fora do alcance por mais de 30 anos
No Norte e Noroeste do estado, o cultivo de citros esteve fora do alcance dos agricultores paranaenses por mais de 30 anos, em função da interdição das áreas para plantio devido à ocorrência do “cancro cítrico”.
Somente no final da década de 80 é que a citricultura se tornou uma opção econômica para o estado, sustentada pelos resultados de pesquisa do Iapar.
As cultivares de laranjas pera, valência, folha murcha e iapar 73 são a base da citricultura industrial no estado. O Iapar detém hoje o terceiro maior banco de germoplasma do País, com mais de 600 variedades.
Adapar e Iapar reforçam combate ao greening
Hoje o combate ao greening, com ações de defesa sanitária, assistência técnica e pesquisa, é um projeto do governo estadual colocado em prática pela Secretaria da Agricultura e do Abastecimento.
A Adapar reforça as ações para combater a doença, que hoje é a principal ameaça à citricultura global. O nome greening está associado ao fato de os frutos das plantas doentes apresentarem manchas de coloração verde, mesmo após o período de maturação.
A doença é transmitida por um inseto – o psilídeo diaphorina citri, vetor da bactéria do greening – que ataca as brotações novas sugando sucessivamente as folhas e ramos, causando enrolamento das folhas, retorcimento de ramos e crescimento anormal.
No Paraná, a doença ainda tem uma participação pequena quando comparada a outros polos produtores, mas vem avançando, o que redobra a necessidade de cuidados por parte dos citricultores, de acordo com o coordenador da área de citricultura da Adapar, José Croce Filho.
Na região Noroeste, principal produtora de laranja do Estado, o greening está presente em entre 7% e 9% dos pomares. “Para evitar o que ocorreu em São Paulo e na Flórida, os citricultores precisam intensificar a erradicação imediata das árvores doentes para combater a proliferação da doença, que avança em escala exponencial”, diz.
De acordo com ele, com os baixos preços da laranja no ano passado, muitos citricultores protelaram a erradicação dos pés de laranja doentes que ainda produzem frutos. “Felizmente, com a melhora do mercado, houve uma retomada do controle”, diz.
QUATRO FRENTES – O Paraná trabalha basicamente em quatro frentes para resolver o problema: eliminar plantas doentes; intensificar a aplicação de inseticidas para combate ao psilídeo; erradicar em áreas urbanas a murta (árvore ornamental também conhecida como “dama da noite” e que funciona como hospedeira do inseto), e desenvolver, por meio do Iapar, variedades resistentes à doença.