Poemas do Lavrador, de Seko, premiado duas vezes pelo imperador do Japão
Na última terça-feira (1º/02), o agricultor paranavaiense desde o início da década de 1980, Massayoshi Seko, esteve na redação do Diário do Noroeste quando presenteou o diretor-proprietário do jornal, Euclides Bogoni, e este jornalista e professor, com um exemplar do livro “Poemas do Lavrador”, de autoria de seu pai, já falecido, Yoshinobu Seko (Numa –Shinden, município de Kaizu, província de Gifu – Japão, 01/04/1913-Londrina-Paraná-Brasil, 13/05/2009). O livro “tem um pouco de sua vida como agricultor e poeta, amante da natureza. Apoiado em princípios budistas, viveu e amou o meio ambiente com toda intensidade. E, sobretudo, viveu dedicando parte de sua vida auxiliando aos semelhantes”, informam seus 10 filhos na apresentação da 2ª edição impressa em Londrina, onde morava, “com infinita gratidão e pelo carinho e alegrias que nos proporcionou”.
O livro retrata flashes da própria vida dedicada à família e à agricultura. “De alguma maneira, setenta anos dependi do planeta terra […] A minha vida, até o dia de hoje, somente o cabo da enxada conhece […] Na ladeira dos setenta anos retorno à estrada que trilhei”, registrou Yoshinobu.
Em 1º/04/1983 ele registrava que “para comemorar os 50 anos de vida no Brasil, sugeri aos filhos fazer algo interessante. Como pai de 10 filhos e poeta, era uma comemoração merecida, disseram. A publicação dos meus modestos poemas foi o desejo de todos. Mesmo consciente do pouco valor literário, publiquei “Meio Século” pela editora Bunkyo, de Tóquio, em junho de 1977. É um livro de poemas no estilo “tanka” e “senryu”, além de ensaios e artigos diversos. Falar dos mestres do poema no estilo “linkan-tanka” é citar o mestre japonês Kimura Steroku e o amigo e mestre Oba Tokio, de Londrina”.
Na coletânea foram publicados também poemas no estilo “senryu”, cujos representantes foram os mestres japoneses Suguimoto Monta e Kawakami Santaro. No Brasil senryu foi o ilustre professor Hota Eikoka.
“Na publicação do livro Meio Século – registrava então Yoshinobu Seko – propus-me a escrever um novo livro caso vivesse até à idade do meu falecido pai. Felizmente consegui alcançar esta data e, aproveitando uma viagem à terra natal, publiquei “A retrospectiva do Brasil”, pela Editora Popular de Gifu-Japão, em 1977”. Trata-se de um livro de miscelâneas e nesta ocasião o poeta e agricultor fez nova promessa de publicar outro livro caso chegasse aos 70 anos ou koki em japonês. Justamente foi esta coletânea sob o nome Poemas do Lavrador. Era para ser uma edição familiar mas, “com o pouco tempo que me resta, resolvi editá-la”.
Acentua Yoshinobu: “Os filhos me perguntam quando será aproxima comemoração. Contei-lhes que no Japão a passagem do 77º aniversário é denominada kiju. Embora eu tenha vivido até o momento, não quer dizer que todos tenham a mesma possibilidade. Recebi incentivos para a próxima passagem…”
Yoshinobu termina o posfácio esclarecendo que para a publicação do livro “devo o incentivo de muitos amigos, filhos e ajuda abnegada por parte da empresa jornalística do Paraná. De qualquer maneira, ao receber este modesto livro, procure nele a imagem do meu koki, ou seja, dos meus setenta anos. Sinto-me extremamente honrado”.
Yoshinobu Seko era o caçula de quatro filhos e uma filha do casal Yoemon e Kikuno Seko. Embarcou para o Brasil em 30 de outubro de 1926, após terminar o curso primário, partindo de Kobe no navio de imigrantes La Plata-Maru (na 2ª viagem do navio para o Brasil). Chegou a Santos em 17 de dezembro. Foi enviado dia 23 para a Fazenda Transual – Estação Serrana – linha Mogiana-SP, juntamente com a família: pais, um irmão e uma irmã. Em 1929 foi trabalhar como colono na Fazenda Nova Flora, a 25 km de Cambará-PR. Em 1930 foi trabalhar por quatro anos na Fazenda Bacará em Cambará-PR. Em 1935 tornou-se proprietário de cinco alqueires de terras em Andirá-PR, quando a poesia já fazia parte de sua vida. Casou-se nesse ano com Teruko Hashimoto. Em 1940 mudou-se para Taquara do Reino em Ibiporã-PR com a esposa, três filhos e os pais. Abriram mata e plantaram café. O casal teve mais quatro filhas e dois filhos. Em 1956 mudou-se para Londrina, onde nasceu a caçula dos 10 filhos.
Seus últimos anos de vida, aposentado, poeta simples e modesto – como se definia – dedicou-se a escrever poesias e artigos para jornais da colônia japonesa, e a dar aulas para senhoras japonesas da colônia e senhoras budistas do Templo Honganji de Londrina, promover reuniões em casa com pessoas interessadas em aprender poesia senryu, além de promover encontro internacional de poetas admiradores do estilo, e à pescaria, passatempo predileto. Com frequência vinha a Paranavaí para visitar o filho Massayoshi Seko e os netos, no Sítio da Divisora, onde se postava tempo a admirar a natureza.
Participou de vários concursos nacionais e internacionais de poesia tanka e senryu, entre eles o mais significativo promovido anualmente pelo Palácio Imperial do Japão, onde foi premiado duas vezes.
Publicou nove livros, entre poesias e ensaios, além de artigos e publicações em jornais da colônia, como Diário Nippak de S. Paulo, Jornal Paulista e Paraná Shimbum.