As bênçãos espirituais… Ef 1,3-14…

Paulo, desde o início, se eleva ao plano celeste, no qual se manterá toda a epístola. É do céu que, desde toda a eternidade, partiram e é lá que se realizam, no fim dos tempos, as “Bênçãos Espirituais”, que serão expostas nos versículos seguintes:
1ª BÊNÇÃO – v.4 o chamado dos eleitos à vida santa, aliás já iniciada de maneira mística pela união dos que creem no Cristo glorioso. O “Amor” designa primeiro o amor de Deus por nós, que inspira a sua “Eleição” e seu chamado para a “santidade” (Cl 3,12; 1Ts 1,4; 2Ts 2,13; Rm 11,28), mas dele não se poderia excluir o nosso amor a Deus, que dele deriva e a ele responde (Rm 5,5).
2ª BÊNÇÃO: v.5 o modo escolhido para essa santidade, isto é, o de filiação divina, cuja fonte e cujo modelo é Jesus Cristo, o Filho Único (Rm 8,39).
O termo grego charis designa aqui o favor divino em sua gratuidade, noção que inclui e, até, ultrapassa a “graça” em seu sentido de dom santificante e intrínseco ao homem. Manifesta a própria “Glória” de Deus (Ex 24,16+). Aqui temos dois refrões que escandem toda a exposição das Bênçãos divinas: não têm outra fonte que a Liberdade de Deus, outro fim que a exaltação da sua glória pelas criaturas. Tudo vem dele e a ele tudo deve conduzir.
3ª BÊNÇÃO: v.7 a obra histórica da redenção pela cruz de Cristo.
4ª BÊNÇÃO: v.9 a revelação do “mistério” (Rm 16,25+).
… para levar o tempo à sua plenitude: “para a dispensação da plenitude dos tempos” (Gl 4,4).
Toda a Epístola desenvolverá esta ideia de Cristo regenerando e reunindo sob a sua autoridade, para reconduzi-lo a Deus, o mundo criado, que o pecado havia corrompido e dissociado: o mundo dos homens, em que judeus e gentios são reunidos numa mesma salvação, e até o mundo dos anjos (4,10+).
5ª BÊNÇÃO: v.11 a eleição de Israel, que se torna “A Herança” de Deus e sua testemunha na expectativa messiânica. Paulo pertencia a esse povo; por isso ele usa o verbo na primeira pessoa do plural.
6ª BÊNÇÃO: v.13  o chamado dos gentios a partilharem a salvação antes reservada a Israel. A certeza disso eles a tiveram ao receberem o Espírito prometido.
O dom do Espírito (v.13c.) coroa a execução do desígnio divino e a sua exposição em forma trinitária. Iniciado a partir de agora, de maneira misteriosa, enquanto o mundo antigo dura ainda atingirá a plenitude quando o Reino de Deus se estabelecer de maneira gloriosa e definitiva, na parusia de Cristo. (Lc 24,49+; Jo 1,33+; 14,26+).
… v.14 – para a redenção do povo que ele adquiriu… “Do Povo da propriedade”, que Deus assegurou para si com o preço do sangue de seu Filho: o Povo dos eleitos. Paulo retoma aqui depois dos termos “bênção”, “santos”, “eleição”, “adoção”, “redenção”, “herança”, “promessa”, outra noção do Antigo Testamento, que alarga e aperfeiçoa, aplicando-a ao Novo Israel a Igreja, comunidade dos que foram salvos.
Frei Filomeno dos Santos O. Carm.