O perverso faroeste brasileiro
Dirceu Cardoso Gonçalves*
Vemos no jornal que aposentados e outros credores aguardam numa lotérica, do interior do Piauí, a chegada de clientes para pagar contas para, só a partir daí o estabelecimento ter dinheiro vivo e pagar seus benefícios.
A notícia é de que muitas pessoas chegam a esperar cinco ou seis dias para receber seus créditos porque as agências bancárias e dos Correios, depois de assaltadas, deixaram de receber dinheiro, limitando suas operações a transações eletrônicas.
Essa é a dura realidade dos pequenos municípios brasileiros, inclusive nas desenvolvidas regiões Sul e Sudeste, muitos deles com apenas uma agência bancária, que foi explodida e atacada pelas quadrilhas que, além do dinheiro, levam a tranquilidade das pacatas populações, pois agem com violência e chegam até a metralhar as instalações e viaturas policiais.
A população tem de se indignar. Num tempo com tanta tecnologia e técnicas de inteligência, é inadmissível que em vez de combater o crime, opte-se por fechar o banco, deixando de prestar os serviços e causando grandes prejuízos e desconforto à comunidade.
O brasileiro, de uma forma geral, vive em sobressalto. O antigo hábito de ostentar como forma de demonstrar sucesso foi trocado pela discrição em busca de um pouco de segurança. Mesmo que possuam, as pessoas não utilizam jóias e nem demonstram sinais de posses para evitar se tornarem presas.
É o reflexo dos tempos em que imperou a demagogia no lugar do cumprimento das leis e até a própria legislação foi abrandada ou ignorada em troca de votos ou de alguma forma de poder. É nesse quadro que o crime organizado assenhoreou-se de vastas áreas onde escraviza a população, promove guerra àqueles que ousam combatê-lo e lucra com atividades ilegais.
As cenas de violência dos assaltos espetaculares em agências bancárias, transportadoras de valores, no roubo de cargas, saidinhas de banco e em sequestros pessoais, são coisas que no Brasil de décadas atrás só se conhecia através das obras de ficção dos filmes de faroeste, onde bandidos à cavalo assaltavam a diligência ou o trem no outrora inóspito oeste norte-americano.
Tudo aquilo hoje acontece no Brasil, mas com o emprego de veículos velozes no lugar dos cavalos e armamento pesado em vez do simples revólver ou rifle. O crime que de inicio foi comum nos grandes centros, migrou para o interior e até as pequenas comunidades são hoje inseguras.
Esse é um dos problemas que deveriam preocupar os 13 cidadãos que se apresentam como pretendentes à presidência da República. A população precisa ter de volta o seu direito de ir e vir e de viver em paz.
Espera-se que os candidatos à presidência e aos governos estaduais tenham reais políticas de segurança pública e que os futuros congressistas e parlamentares estaduais sejam suficientemente capazes para trabalhar pela volta da tranquilidade à população. Não podemos continuar convivendo com a inércia estatal, a demagogia política e o domínio desenfreado dos esquemas criminosos. Basta!
*Dirceu Cardoso Gonçalves, dirigente da Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)