Uma vida em sintonia com a arte

Em 1993, Talise Schneider tinha seis anos quando fazia frente aos outros alunos da Escola Municipal Elza Caselli, em Paranavaí, na hora de declamar nas comemorações do Dia das Mães e da Semana da Pátria. Foi assim, como numa brincadeira de criança, que começou a descobrir na arte uma maneira de transmitir impressões, pensamentos e sentimentos.
Sempre gostei de teatro e dança. Sou fruto das oficinas de teatro da Casa da Cultura [Carlos Drummond de Andrade] com a atriz e professora Rosi Sanga e também das oficinas do Sesc com a atriz e professora Tânia Volpato. Ou seja, Cia. Oficinas e Grupo Tasp”, explica. Bailarina e atriz profissional, Talise se recorda com nostalgia das dezenas de espetáculos que encenou ao longo dos anos.
Entre os marcantes, cita “O Auto Popular de Romeu e Julieta”, da Cia. Oficinas; “Peter Pan”, “Refúgio das Fadas”, “O Grande Circo Paquita”, “O Mundo na Dança” e “La File Mal Gardé”, da Ballet Devant; “Sapo com Medo de Beijo”, da Vinil Cia. de Teatro, formada por integrantes do Médicos do Humor; “DiverCidade” e “Arte em Movimento”, da Varanda Cia. de Dança; “Ponto Azul”, com o grupo Cogitare; e “Bem Brasil”, “Dancing Movies”, “Dez Anos Dançando pra Você” e “Vem Dançar Comigo”, do Grupo de Dança Maria Teresa Fávero. “Foram muitos espetáculos. É até injusto listar apenas alguns”, admite.
Versátil, participou até de um grupo de viola da Fundação Cultural de Paranavaí e escreveu uma crônica publicada em um livro da escritora Cleuza Cyrino Penha. Na obra, Talise fala dos encontros que a vida proporciona. “Isso é o mais legal da vida. Acho que o que nos move são os encontros e as perguntas”, comenta com um sorriso cativante.
Baixinha e de fisionomia delicada, a artista admite que os seus maiores xodós são os grupos Médicos do Humor e Varanda Cia. de Dança. O primeiro foi fundado em 2008, após o resultado positivo de uma visita em que Talise e alguns amigos se vestiram de palhaço para visitar os pacientes da Santa Casa de Paranavaí. “Géssica Andrade, Jakeline Parron e Adauto Soares me incentivaram e juntos criamos o projeto Médicos do Humor que em julho completa sete anos trabalhando com a humanização”, comemora.
Aos finais de semana, a atriz se dedica exclusivamente ao Médicos do Humor que graças ao seu empenho possui dezenas de participantes. Além de qualificar os voluntários, Talise ministra aulas, coordena encontros e participa dos plantões no hospital, onde os acamados se distraem com brincadeiras e palavras de conforto da trupe. “Atendemos em média 200 pessoas a cada domingo. Já fizemos também visitas aos sábados em asilos, creches e eventos”, destaca.
Questionada se o Médicos do Humor já transformou vidas, Talise Schneider afirma que sim, principalmente a própria. Atribui à arte o seu desenvolvimento humano e o privilégio de ver os amigos que participam do projeto crescendo e “ganhando o mundo”. “Minha vida mudou bastante depois que entrei no grupo. Me tornei uma pessoa mais madura e melhor perante a sociedade graças à Talise. Tudo que ela faz tem um propósito maior. Ensina que você pode ajudar as pessoas e consequentemente ser ajudado”, garante um dos Médicos do Humor, Gustavo Peres.
A opinião também é dividida por Mariana Fusco que ingressou no grupo em 2009, quando se tornaram amigas após se conhecerem no curso de pedagogia da Faculdade Estadual de Educação, Ciências e Letras de Paranavaí (Fafipa). “A admiro muito pela sua preocupação com crianças hospitalizadas e sua disposição com a dança e o teatro. A considero mais que uma amiga, é uma irmã que sempre esteve presente em momentos de alegria e de tristeza”, comenta Mariana.
Talise agora está se preparando para ampliar a área de abrangência do Médicos do Humor. Além de abrir vagas para novos voluntários, vai criar campanhas e montar equipes para ajudar em comunidades carentes. “É um projeto que estimula o contato com pessoas em situações adversas. Temos a chance de conhecer histórias que moldam a nossa jornada, nos fazem avaliar onde estamos errando e o que podemos melhorar. Não tem nada melhor do que ver um projeto sair do papel e se tornar realidade”, enfatiza.
Com o Médicos do Humor, Talise Schneider conseguiu estreitar o relacionamento de muita gente com a arte. Quem antes não tinha o hábito de prestigiar eventos culturais, por exemplo, hoje não perde a oportunidade. “Estimulo todos a serem participativos. É gratificante vê-los assistindo espetáculos de teatro, dança e música. Percebo a grande diferença quando lembro que muitos nem conheciam o Teatro Municipal e a Casa da Cultura”, frisa.
“É uma menina artista, feita de inspiração, luta e coragem”
A bailarina e arquiteta Patrícia Romera relata que sempre quis participar de uma companhia profissional de dança, mas foi somente depois de conhecer Talise Schneider no Grupo de Trabalho (GT) de Dança de Paranavaí que acreditou na possibilidade do sonho tornar-se realidade. “Ela tem o dom de fazer os planos acontecerem. Foi assim que criamos a Varanda, inclusive o nome é uma ideia dela. É uma ótima parceira de criação em todas as horas, profissional exigente e sabe comandar um grupo”, revela.
O projeto deu tão certo que logo começaram a se apresentar em Paranavaí e em outras cidades do Paraná. “Até fomos selecionadas em um edital cultural do Sesi, uma grande conquista para nós”, avalia Talise que atualmente está empolgada com a montagem do espetáculo “Metade”, baseado na música de Oswaldo Montenegro. A intenção é comover o público com coreografias sobre medos, amores, loucuras e desejos. “Com movimentos e expressões, mostramos as metades que somos em cada momento que vivemos”, poetiza a bailarina que também está realizando pesquisas com a Vinil Cia. de Teatro e deve estrear um espetáculo até o final do ano.
A bailarina e professora Cristiane Ferreira, proprietária da Escola de Danças Ballet Devant, uma referência na descoberta de talentos para a Escola de Dança Teatro Guaíra – de Curitiba, e Ballet Bolshoi Brasil – de Joinville, conta que Talise Schneider ingressou no ballet em 2007. “Foi depois que a convidei para fazer um dos personagens principais do espetáculo ‘Peter Pan’, quando ela interpretou o braço direito do Capitão Gancho. Me surpreendi com seu amor pela dança, tanto que ficou sete anos aqui, firme e forte, até se formar em ballet clássico. É muito dedicada como profissional, se entrega completamente”, garante Cristiane que vê na ex-aluna um grande futuro na dança contemporânea, modalidade com a qual Talise mais se identificou.
Além de atriz, bailarina e voluntária, a jovem também atua na Fundação Cultural de Paranavaí. Tudo começou em 2007, quando o seu talento garantiu uma oportunidade de ministrar oficinas de teatro e dança na Casa da Cultura Carlos Drummond de Andrade. Em 2011, se tornou assessora de projetos culturais e em 2013 foi promovida a gerente de desenvolvimento cultural. Hoje, Talise Schneider é diretora geral da Fundação Cultural, o que representa grande responsabilidade sobre o desenvolvimento da cultura de Paranavaí. “Amo muito o que faço. Gosto de ver as pessoas envolvidas no processo. Adoro as produções, bastidores e o frio na barriga antes de subir ao palco. Gosto de todos os segmentos artísticos, me identifico com tudo”, assegura.
De acordo com a bailarina Cristiane Ferreira, 90% de tudo que envolve o Festival de Dança de Paranavaí só é concretizado graças à dedicação de Talise. “Ela tem uma responsabilidade muito grande e consegue lidar com isso muito bem. Organizar um festival é bem mais complicado do que um espetáculo. Há muitas coisas que podem sair de controle e você precisa agir rápido”, pondera Cristiane.
A atual diretora geral da Fundação Cultural também teve papéis determinantes na realização do Festival de Teatro de Paranavaí e Festival de Música e Poesia de Paranavaí (Femup). Talise Schneider é presença constante nos eventos culturais locais. Sempre educada e sorridente, mesmo quando precisa trabalhar aos sábados, domingos e feriados. “É uma menina artista, feita de inspiração, luta e coragem. Faz trabalhos lindos de entrega ao próximo. Em cada movimento, coloca não apenas o seu suor, mas toda a sua alegria e desejo de fazer cada vez melhor. Que o universo permita que ela continue nesse movimento sempre livre para o sucesso dela e da vida artística de nossa cidade”, elogia a atriz profissional e professora Rosi Sanga.