Pacientes do SUS aprovam Mais Médicos e elogiam atendimento humanizado
O relato é de Roseli Patrícia, filha da aposentada Patrícia Cardoso, 79 anos, usuária da Unidade Básica de Saúde (UBS) do Jardim Maringá e paciente de um dos sete médicos Cubanos que estão atuando nos postos de saúde de Paranavaí através do Programa Mais Médicos, lançado em julho do ano passado pelo Governo Federal.
“Ele é muito bacana. Parece que já é da família. E a língua não é um problema, entendi tudo que ele disse”, completou a aposentada.
Apesar de alguns transtornos, como o tempo de espera pela consulta, o que se viu em todos os postos de saúde visitados pela reportagem nos últimos dias foram pacientes satisfeitos com o serviço prestado pelos profissionais e com o atendimento humanizado.
“Ele conseguiu fazer o diagnóstico de um problema que havia passado despercebido por outro médico. Hoje em dia é difícil achar um médico que te trate bem e ele foi muito atencioso. […] Os médicos do Brasil são bons, mas não têm interesse em ocupar as vagas nos postos de saúde, então não vejo problema em trazer outros médicos de fora”, afirmou a dona de casa Maikelly Maurino, usuária da UBS do Jardim Maringá.
“Quanto mais médicos melhor. Não importa se é daqui ou de outro país”, declarou a também dona de casa Beatriz Fátima Jorge.
Para a aprovação, não existe uma fórmula mágica. “Humanização no atendimento. Essa é a receita”, revelou o médico Cubano Alianis Ramirez Machado. “É querer atender bem o paciente e não apenas a sua doença. Quase sempre a pessoa tem muitos problemas, problemas maiores que aqueles de saúde. E se a gente escuta, entende, dá atenção para essa pessoa, ela já melhora. […] Se você acredita que a pessoa que está ali esperando o atendimento pode ser sua mãe, seu pai, seu irmão, você vai fazer tudo o que você faria por sua mãe, seu pai e seu irmão”, completou o profissional.
Para manter sempre uma proximidade com os pacientes, o médico adota um gesto simples, mas essencial no seu ponto de vista: posicionar a cadeira do paciente na lateral da mesa, ao lado do profissional.
“Fazemos isso para trazer o paciente para mais perto. Desta forma não há barreiras entre nós. Quando estávamos na faculdade, isso era uma exigência. O paciente tem que se sentir próximo do médico, não pode haver nada no meio e, além disso, fica mais fácil de examinar”, assegurou Ramirez.
O atendimento humanizado também é observado pelos colegas de trabalho. “Ele teria que atender, em média, 15 pacientes por dia, mas ele é superlegal, se tem alguém precisando [de consulta] ele põe para dentro e atende, não importa se já passou do horário”, conta a atendente de um dos postos de saúde.
#IMG02Estrangeiros se consideram adaptados
ao idioma e à vida no Brasil
Os médicos Cubanos Alianis Ramirez Machado e Miledys Rodrigues são casados e há dois meses estão trabalhando nas Unidades Básicas de Saúde do município. Apesar da saudade dos familiares, os profissionais afirmam estar adaptados com o idioma e já se sentem à vontade no Brasil.
“Desde que cheguei aqui fui muito bem acolhida pela comunidade e pelos demais profissionais. O uso da língua foi difícil no começo, mas hoje já estou bem acostumada. A princípio eu trabalhava com uma auxiliar de enfermagem ao meu lado para me ajudar com a comunicação, mas depois fui me adaptando e tudo foi melhorando. Eu entendo tudo o que os pacientes falam e sempre procuro falar mais devagar com eles”, conta a médica que está trabalhando na UBS da Chácara Jaraguá.
Na opinião dela, o fato de ter vindo de outro país inclusive ajudou na aproximação com os pacientes. “Acredito que pelo fato de eu não ser daqui, eles se abrem mais para falar comigo sobre seus problemas. Eles sabem que desta porta para fora eu não vou falar nada”, aponta.
Para Ramirez, o clima e o ritmo de vida parecidos com a cidade onde morava também facilitam a adaptação. “Eu gosto muito de Paranavaí, porque é muito parecido com o lugar onde morávamos em Cuba. É muito tranquilo e eu gosto assim. Gosto muito das pessoas, são muito humanas, carinhosas e por isso que, até agora, eu me sinto bem aqui. Sempre fico um pouco triste pela família que está longe, mas eu amo meu trabalho e trabalhando eu fico feliz”, acrescenta.
ROTINA – Os médicos, que trabalham de segunda à sexta-feira, aproveitam o tempo livre para se dedicar ao estudo da língua portuguesa e ao curso de especialização do Programa Mais Médicos. “O tempo livre é para estudar e tirar dúvidas de português e dos medicamentos. São muitos medicamentos diferentes, que não conhecia”, destaca o Cubano.
#IMG03Médico se diz espantado
com uso descontrolado
de antidepressivos pela população
“Parece que no Brasil é normal para as pessoas tomar antidepressivos”, observa o médico Cubano Alianis Ramirez Machado. Segundo ele, mais de 90% dos pacientes que passam pelo posto de saúde fazem uso deste tipo de medicamento. “Hoje mesmo, atendi pacientes de 16, 20, 26 e 30 anos que usam medicamentos antidepressivos. Isso é um problema muito sério”, aponta.
Questionado sobre os pontos frágeis do sistema de saúde brasileiro, o profissional destaca a necessidade do atendimento mais humanizado. “Em cuba o mais importante é a pessoa e não a doença. Então todo o trabalho é feito pensando na pessoa, para que ela goze de uma saúde melhor. […] O médico tem que entender que o paciente é uma pessoa. Você também pode ganhar muito dinheiro se fizer o trabalho de forma humanizada. Não atender apenas cinco vagas quando a população precisa que você atenda 20 vagas”, comenta o médico, que já chegou a atender 30 pacientes em um dia.
ESTRUTURA – De acordo com os profissionais, a estrutura no Brasil não é ruim, mas faltam investimentos principalmente em exames e consultas especializadas. “Já trabalhei nas mais diferentes condições. A estrutura é muito importante sim, mas quando não tem amor pelo trabalho, não tem estrutura que resolva. A estrutura que tenho hoje aqui atende todas as minhas necessidades de trabalho. Aqui eu tenho todas as condições necessárias para cuidar de um paciente, do ponto de vista ético e sanitário”, conclui Miledys.
Prefeitura comemora equipes
completas de Saúde da Família
Embora reconheça que muito ainda deve ser feito para melhorar o serviço de saúde ofertado à população, o prefeito de Paranavaí, Rogério Lorenzetti, também aprova o Programa Mais Médicos.
“Desde 2012 a cidade tentava ampliar o número de médicos do Estratégia Saúde da Família (ESF) sem sucesso. Foram três concursos públicos e diversas vagas ofertadas, mas só conseguimos solucionar essa situação com a vinda dos profissionais estrangeiros”, afirma o prefeito.
A cidade, que recebeu sete médicos Cubanos, terá, a partir de junho, 24 equipes do ESF e 100% de cobertura do programa. “Quando iniciei meu primeiro mandato, em 2009, a cidade tinha menos de 50% de cobertura do programa. Hoje, com a chegada dos novos profissionais, estamos prestes a conquistar 100% de cobertura. Isso não resolverá todos os problemas da saúde em nosso município, mas já é um passo muito importante”, aponta Lorenzetti.
Para o secretário municipal de Saúde, Agamenon Arruda de Souza, a implantação das novas equipes prova que o município está fazendo a sua tarefa de casa. “Tudo que pode ser feito para melhorar a qualidade do atendimento na atenção básica está sendo feito. Agora só precisamos de mais atenção e recursos por parte das demais esferas de governo para diminuir a fila de espera por consultas especializadas, exames e cirurgias”, conclui.