Congresso de jornalismo discute notícias falsas e suas influências nas eleições
SÃO PAULO – Na semana passada (de 28 a 30 de junho) em S. Paulo o 13º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) discutiu a análise de notícias falsas que podem influenciar nas eleições deste ano.
"A censura você sabia de onde vinha, ela tinha corpo. A fake news é uma coisa que não tem corpo, você não sabe de onde vem. E eu acho que o mal que faz é até maior. Como se defender disso?".
O tema foi amplamente debatido. O jornalista Leonardo Sakamoto, doutor em ciência política, comandou o painel "O ecossistema da manipulação nas redes sociais em ano eleitoral" ao lado do professor da USP (Universidade de São Paulo) Pablo Ortellado. Sakamoto acredita que a criação de notícias falsas deve ser apenas mais uma arma no que define como "guerra política" das eleições deste ano.
Entre as técnicas já conhecidas, estão as "fazendas de likes", pelas quais uma rede de telefones celulares fica ligada constantemente gerando likes e compartilhamentos em postagens nas redes sociais. "Impulsiona-se esse pacote, via microssegmentação, usando um cartão pré-pago e acessando via VPN (rede privada virtual, em português) sediado em outro país, tornando difícil a identificação, responsabilização e remediação do ato", explicou Sakamoto.
No evento, também foi formado um grupo de 24 veículos de comunicação que vai trabalhar de forma colaborativa, fornecendo um número de WhatsApp para que os leitores possam solicitar a checagem de notícias suspeitas. Os jornalistas serão treinados pelo Google News Initiative e o Facebook Journalism Project, que participaram do congresso.
PRÁTICA ANTIGA – A mentira que visa o favorecimento de determinados posicionamentos políticos ou personalidades não é característica apenas da era digital. Já existia antes. O que preocupa os estudiosos do tema é a capacidade de "viralização" e as dificuldades para checagem de informações. Para auxiliar os jornalistas e estudantes, Cristina Tardáguila e Douglas Silveira, da Agência Lupa realizaram uma oficina de checagem durante o evento.
Criada em 2015, a Lupa é a primeira agência brasileira de checagem de fatos. Para Tardáguila todos os cidadãos devem ficar atentos aos conteúdos que acessam. "É preciso permitir que a dúvida seja o primeiro pensamento após a leitura de um tweet, uma mensagem ou um áudio de WhatsApp", afirma. Ele sugere medidas como checar o link da URL para ver se alguém está tentando se passar por um veículo de comunicação. Outra dica é ver a data de publicação da mensagem. "Tem sido muito comum notícias velhas serem replicadas como novas. É preciso ter um olhar um pouco crítico, se o que está escrito no título se reflete no corpo da matéria, se não, não compartilhe", alertou.
Segundo pesquisa, ao menos 25% dos internautas já acessaram notícias falsas, mas nenhum leu um artigo de checagem de fatos correspondentes a esses conteúdos. O cientista político Jason Reifler, professor da University of Exeter, do Reino Unido, utilizou diversas ferramentas, como o Wakoopa, para analisar o comportamento de 3.251 internautas entre outubro e novembro de 2016.
A pesquisa também mostrou que muito mais que o Google ou Twitter, o Facebook é a "porta de entrada" para as notícias falsas.
Intitulado "Exposição Seletiva à Desinformação: a evidência do consumo de notícias falsas durante a campanha presidencial de 2016 nos EUA", o estudo mostrou que muitas pessoas foram influenciadas por parentes e amigos na hora do voto. E não há evidências de que as notícias falsas tiveram a capacidade de alterar o resultado das eleições.