Coletores de ginseng acusados de causar incêndio no Parque Nacional de Ilha Grande
Esses incêndios estariam sendo provocados por coletores de ginseng brasileiro. Este produto está sendo comercializado no mercado paralelo por R$ 10,00 o quilo.
“São incêndios criminosos que estão acabando com a fauna e flora nas ilhas, provocados de forma criminosa por coletores de ginseng. Todos sabem quem são os responsáveis, mas nada é feito”, declarou Misael Jefferson Nobre, diretor comercial da Aspare.
A coleta clandestina e criminosa do ginseng brasileiro nas ilhas é um fato já conhecido das autoridades, que vem se agravando nos últimos meses com os constantes focos de incêndios provocados pelos coletores. Eles procuram com o fogo limpar o terreno onde será feita a coleta da raiz da planta, que depois de limpa, triturada e seca chega a ser comercializada com atravessadores por R$ 10,00 o quilo.
O ginseng brasileiro é somente encontrado em algumas ilhas e nos terrenos próximos às margens dos Rios Paranapanema, Paraná e Ivaí, onde o solo é rico em matéria orgânica.
A planta chama atenção do mercado chinês. Representantes de investidores chineses já estiveram por duas vezes visitando propriedades de assentados de Querência do Norte, onde a planta está sendo cultivada, e ficaram surpresos com o tamanho e qualidade do ginseng encontrado.
“Eles (chineses) não acreditaram quando retirei um pé de ginseng do solo com uma raiz com mais de três quilos”, destacou o produtor Lauri Fener, que há mais de 15 anos vem desenvolvendo técnicas de cultivo da planta.
Para os associados, da Aspare, é preciso que haja uma fiscalização mais intensa nas ilhas, já que a extração e o cultivo são proibidos por lei dentro da APA do Parque Nacional de Ilha Grande.
“Se houvesse uma fiscalização não estaríamos nessa situação predatória que hoje encontramos nas ilhas, as barreiras fiscais também têm um papel importante na fiscalização, mas nada é feito”, destacou Misael.
Enquanto o comércio clandestino é feito a Aspare que conta com 27 associados e uma sede com infraestrutura para o beneficiamento da raiz do ginseng está parada por falta de investimentos e apoio governamental.
“Até mesmo o suporte técnico da Emater foi tirado dos assentados produtores do ginseng brasileiro, não há incentivo algum por parte governamental”, desabafou o produtor.
Misael destacou que o princípio ativo do ginseng é somente encontrado na raiz da planta, que deve ser beneficiada separadamente das folhas, caules e flores.
“O que temos observado é que para dar maior volume os produtores orientados pelo atravessador estão triturando toda a planta sem a separação, o que faz com que o produto não tenha a qualidade exigida pelo mercado. Se o processamento for somente da raiz o valor agregado do produto pode chegar a R$ 20,00 o quilo”, frisou Misael.
Produtores querem a liberação do cultivo sustentável nas ilhas
Uma das alternativas apontadas pelos associados da Aspare é a liberação do cultivo do ginseng brasileiro nas ilhas como forma de regular o mercado e acabar com a coleta clandestina e predatória feita com o uso de queimadas criminosas.
O cultivo seria feito consorciado com o plantio de mudas de árvores nativas da flora da bacia dos Rios Paranapanema, Paraná e Ivaí, no sistema de agrofloresta.
O pedido já foi oficializado junto ao escritório do Instituto Chico Mendes, em Umuarama, órgão responsável pelo Parque Nacional de Ilha Grande.
No mesmo documento a Aspare denuncia as queimadas e o comércio clandestino e criminoso do ginseng brasileiro, que corre o risco de deixar de existir nas ilhas, caso não ocorra uma fiscalização mais intensa.
“A liberação do cultivo nas ilhas daria fim ao processo predatório das queimadas, além de acabar com o comércio clandestino”, destacou Misael que também é o 1º secretário da Apique (Associação dos Ilhéus do Parque Nacional de Ilha Grande e da APA).