País precisa romper com lobby rodoviário para ter um modelo racional de transporte, conclui debate
BRASÍLIA – A Comissão de Direitos Humanos (CDH) promoveu nesta quarta-feira audiência em busca de alternativas para que a sociedade pressione mais o poder público por um modelo mais racional na área de transportes.
Segundo informou o vice-presidente da CDH, Paulo Paim (PT-RS), a audiência nasceu à partir da crise de abastecimento e mobilidade provocada pela recente greve dos caminhoneiros, que expôs a enorme dependência que o Brasil possui do modal rodoviário.
Para o especialista Carlos Penna Bresciannini, do Blog Ambiente & Transporte, diversas investigações tocadas há mais de 10 anos pela Polícia Federal e o Ministério Público deixam claro que esquemas corruptos interligando interesses do lobby rodoviário com o financiamento de campanhas fizeram com que o país adotasse um modelo completamente distorcido de transporte, que desconsidera os interesses sociais. Com base em documentos oficiais, mostrou que o Brasil já teve no passado distante um sistema ferroviário forte, que após um boicote estrutural acabou reduzindo ao mínimo o transporte de pessoas.
“Em 1961, tínhamos 40 mil quilômetros de ferrovias. Quase todo o Sul-Sudeste era interligado, interiorizando para o Nordeste, além da Madeira-Mamoré na região Norte. Hoje são só 11 mil quilômetros, com 99% voltado ao transporte de cargas”, exemplificou.
Esta realidade também se refletiu dentro das grandes cidades, que usavam trens e bondes no transporte interno das pessoas. Essa infraestrutura foi em grande parte desmontada, não sendo substituída a contento pelos atuais sistemas de metrôs ou trens urbanos na maior parte delas, segundo Bresciannini.
Também com base em documentos oficiais, o especialista mostrou que em Brasília estruturas e planejamentos voltados ao modal ferroviário foram abandonados ou adaptados para o modal rodoviário, com enorme desperdício de recursos e gerando corrupção. (Agência Senado)