“Rolezinhos” devem impactar na política cultural para jovens, segundo Marta Suplicy

SÃO PAULO – A ministra da Cultura, Marta Suplicy, disse ontem que os “rolezinhos” devem impactar na política do ministério para a juventude.
“Em novembro, quando a gente teve a conferência de cultura, falamos em fazer um grande encontro da cultura com a juventude. O ministério já está trabalhando nisso. Estamos avaliando como fazer, porque era uma ideia e, agora, com essa história de “rolezinho”, temos que adaptar um pouco”, declarou a ministra após participar do lançamento do cartão vale-cultura para funcionários do Banco do Brasil, na capital paulista.
Ela informou que o encontro deve ocorrer em fevereiro ou março deste ano. A ministra acredita que essa será uma oportunidade para entender o que os jovens desejam da área da cultura, especialmente os mais pobres.
“[Queremos escutar a juventude] que compra o tênis de marca, mas não vai a um cinema. Ou nem sabe o quão legal é fazer uma visita guiada a um museu e entender um pouco as coisas que acontecem nas artes”, disse.
Com formação em psicologia, a ministra considera os “rolezinhos” uma questão complexa. “Tem muito a ver com ser adolescente. Poder ter coisas que nunca teve, como um celular 3G, tênis de marca, camiseta do ídolo de futebol e poder se exibir nos lugares que nunca foi. Como psicóloga, consigo entender isso muito bem, agora tem um significado mais amplo, que nós temos que avaliar [no ministério]”, declarou.
Ela destacou que não considera a política de editais a mais adequada para esse segmento. “Tem que pensar o novo. E o novo nós não sabemos qual é. Vamos saber com eles o que eles acham importante”, disse.
Segundo a ministra, a proposta do órgão é democratizar o acesso aos bens culturais e para isso é necessário chegar aos jovens. “Quem só consegue comprar o tênis da marca, tem que conseguir usufruir da cultura de outra forma. Arrumar um jeito de isso acontecer é que vai ser a nossa ação”.
REUNIÃO – O Ministério Público de São Paulo vai ouvir na próxima semana jovens que organizaram ou que participaram de “rolezinhos”. As conversas são parte de uma mediação proposta por promotores que envolverá o donos de shoppings, o poder público e os próprios jovens.
Anteontem, um grupo de promotores se reuniu com o presidente da Abrasce (entidade que engloba os shoppings do país) para dar início à mediação. Segundo os promotores, integrantes da prefeitura também serão ouvidos.
Não devem ser ouvidos membros da Polícia Militar, em princípio. No último sábado, PMs usaram bombas de gás para coibir um “rolezinho” no Shopping Metrô Itaquera, na zona leste.
Segundo o promotor Mauricio Ribeiro Lopes, que integra a mediação, já há conversas com integrantes da Secretaria da Segurança Pública. Lopes afirmou que deve ir a um dos “rolezinhos” marcados neste fim de semana acompanhado dos filhos para observar. Ele não disse em qual.
Os promotores disseram que ainda vão contatar os jovens por meio das redes sociais. “Meu slogan é esse: que façam um “rolezinho” ao MP”, disse Lopes.

Discriminação
Os promotores disseram que não há ilegalidade no fato de os shoppings fecharem as portas para impedir a entrada de pessoas. “Desde que feche a todos, e não só a um determinado grupo”, disse o promotor criminal Alfonso Presti.
Segundo a promotora Luciana Bergamo, a medida de seguranças do Shopping JK Iguatemi – que na semana passada exigiram RG de algumas pessoas que tentaram entrar no shopping – foi inadequada. “O que o JK fez foi contra o princípio da indistinção. Eles escolheram quem ingressava no shopping”, disse.
Os promotores disseram que a mediação servirá para que se estude o fenômeno dos “rolezinhos” e se busque maneiras de evitar conflitos. “Estamos diante de algo desconhecido, que ainda tem que compreendido”, disse Lopes.