Algumas memórias dos tempos antigos de Paranavaí
Pedro Carvalho nasceu em Bandeirantes, em 29 de junho de 1942. Logo seus pais se transferiram para Arapongas para trabalhar na zona rural. Em seguida vieram para Paranavaí, atraídos pelo intenso boato de que aqui havia muita terra que o Governo estava oferecendo de graça, para quem quisesse.
Eram terras devolutas da antiga Fazenda Brasileira, que o Governo havia confiscado de antigas concessões que foram anuladas nos anos 30.
O interesse do Governo era colonizar a região, e a doação de terras era um recurso para atrair gente interessada, que já colonizava as regiões de Mandaguari, Maringá e Cianorte, sob administração da Companhia de Terras do Norte do Paraná. As terras daqui, porém, eram do próprio Governo, enquanto as de outras regiões eram cedidas às concessionárias em troca da instalação de ferrovias. “Nessa época veio muita gente”, disse Pedro na entrevista feita na redação do Diario do Noroeste no último dia 28/11/2013.
O casal Valdomiro Carvalho, então com 42 anos de idade, com a esposa Paulina Gomes de Carvalho, transferiu-se de Arapongas para Paranavaí em 16 de agosto de 1944 (dois anos depois que Pedro nasceu) com os quatro filhos, entre eles Pedro, então com dois anos de idade, Odair Carvalho (então com 16 anos, primeira professora estadual de Paranavaí) e mais outros dois filhos (uma voltou a residir em Arapongas e outro irmão em Curitiba). Pedro continua em Paranavaí, onde é eletricista e Odair reside em Florianópolis. Ela, com 80 anos, inclusive, já marcou para janeiro uma viagem para rever Paranavaí, segundo disse por telefone ao Diario do Noroeste.
Waldomiro Carvalho era natural de Santa Cruz do Rio Pardo-SP, nasceu em 02 de agosto de 1902 e faleceu em Curitiba em 23 de maio de 1987, monde está sepultado. Paulina Gomes Carvalho, natural de Jacarezinho-PR, nasceu em 24 de julho de 1906 e faleceu em 02 de dezembro de 1982, também em Curitiba.
O casal veio para Paranavaí e se tornou amigo do Ulisses Faria Bandeira, que era do Departamento de Terras, e que conseguiu umas terras para ele. Imediatamente construiu uma casa num terreno na Rua Amapá esquina com Antonio Felippe (na esquina, ao lado da atual sede da Unimed, o terreno hoje está vazio).
Um dado interessante: Valdomiro comprou o terreno e construiu no fundo um barraco feito de palmito, que havia muito, e coberto de folhas de zinco, como se usava muito na época, para morar, até construir a casa na frente. Voltou a Arapongas, vendeu a propriedade que tinha lá, colocou os quatro filhos na jardineira e veio para a Brasileira. Nesse dia vieram duas jardineiras lotadas, que era muita gente.
“Chegamos e ficamos alojados no barraco construído pelo meu pai, Waldomiro”, lembra Pedro. Na jardineira só podia vir gente, não podia trazer os pertences. Meu pai então carregou tudo numa carroça e trouxe. A viagem de carroça durou três dias desde Arapongas. Aqui, começou a construir uma casa melhor na frente do terreno, coberta com tabuinhas. Tanto é que foi rezada nessa casa a primeira missa, no Natal de 1944, pelo padre palotino João Guerra, que veio de Mandaguari, então sede do município. O local ainda era um pequeno aglomerado de pessoas, com o nome de Fazenda Brasileira.
O barraco no fundo do terreno ficou a servir como depósito. Como naquela época havia muita briga, desavenças por causa de terras, grilagem, foi destacado de Curitiba o primeiro policial: sargento José Marcelino de Souza, um negro forte, muito respeitado por ser muito enérgico. Como não havia muitas construções, ele ficou sabendo do barraco do meu pai e o pediu emprestado até construir a casa dele. Ele se acomodou no barraco com a mulher e duas filhas pequenas. Como não havia um espaço adequado, Marcelino pegou corrente e dois cadeados. Quem ele aprontasse confusão, ele pegava, prendia a corrente com os cadeados no pescoço e na árvore que ficava entre a nossa casa e o barraco”, lembra Pedro Carvalho. “A minha mãe sempre contava que dava água e comida para os presos ali”.
O segundo policial que veio de Curitiba foi um tal de Salata, para instalar o telégrafo.
Pedro detalha: “a 1ª missa em Paranavaí foi rezada na nossa casa e a primeira cadeia também foi no quintal da nossa casa, a 1ª professora foi a minha irmã Odair. E ainda o primeiro açougue de Paranavaí foi instalado pelo meu pai”.
Passados uns tempos, Pedro conta que o pai fez grandes amizades e passou a trabalhar puxando boi de Mato Grosso (o Estado ainda não era dividido) para Londrina, que era então o fim da linha da estrada de ferro.
A boiada – cerca de mil a 1.500 animais – passava bem no centro de Paranavaí, vinda do Porto São José, entrava pelo Jardim São Jorge (estrada que demanda a Graciosa atual) e seguia pela Distrito Federal, Av. Paraná até a Heitor Furtado atual, e seguia rumo à Fazenda do Estado, atravessava o Rio Suruquá, pegava a estrada que hoje passa ao lado do Parque de Exposições Costa e Silva, pelo centro do Distrito de Sumaré e ia sair lá perto de Alto Paraná.
Quando criança, Pedro ouvia muitas histórias contadas pelos pais e pelos amigos mais antigos de Paranavaí, entre eles Ulisses Faria Bandeira, Telmo Ribeiro, e tantos outros. O capitão Telmo costumava reunir amigos para churrascadas na sede da antiga Fazenda do Estado e Pedro sempre participava com o pai.
Ele lembra do Estádio Natal Francisco. “O meu pai com os amigos – entre eles Ulisses Faria Bandeira, o Acácio, maestro da bandinha de música na época, e mais uns oito amigos (de cujos nomes não lembra), reuniam-se num bar próximo ao Posto Gulf (atual esquina da Rua Getúlio Vargas com Av. Paraná) para o bate-papo. Surgiu ali, em 1945, a idéia de fazer um campinho para bater uma bola. Todos gostavam de futebol. O Ulisses disse: Então vamos descer essa rua aqui (Getúlio Vargas) e abrir uma picada até encontrar um lugar adequado. O meu pai providenciou umas toras que foram aparelhadas na Serraria do José Ebiner, que se localizava no atual Jardim Ouro Branco (próximo do atual Colégio Marins), para fazer as traves, outros carpiam o terreno (atual Praça dos Pioneiros) e uma parelha de bois cedida pelo José Ebiner arrancava os tocos das árvores. Todo fim e semana o grupo estava lá batendo uma bolinha e o grupo foi aumentando. Em 1947 o Natal Francisco chegou e organizou o time que veio a ser o ACP”.
Outro fato marcante foi o episódio que envolveu as principais lideranças políticas de Paranavaí em 1949, entre as quais o “capitão” Telmo Ribeiro (na verdade, quando deixou o serviço no Exército era tenente) e o jovem (21 anos) Alcides De Sordi.
“O De Sordi queria ser acima do capitão Telmo. Ele tinha a sua turma de correligionários políticos, conhecidos como Capra Preta, por usarem uma capa preta longa, que encobria até o cavalo que montavam. Quando a situação começou a apertar por causa das eleições a vereador pelo Distrito – que pertencia a Mandaguari – o Telmo foi na Delegacia e pediu para chamar ele para entrarem num acordo. O Telmo havia reunido o seu grupo na Delegacia, houve discussão e o De Sordi saiu dizendo que ia mostrar prá eles como se fazia política. E virou as costas.
Irritado com o desafio – conta Pedro – o Telmo levou a mão no “parabelo” (como se referiam aos revólveres), mas o engenheiro Gineste teria sacado e atirado primeiro, atingindo-o na nuca”. Telmo, porém, assumiu a autoria do crime e foi julgado por isso.
Todos comentaram assim a historia na época.
Segundo Pedro, “o Telmo não era pessoa de decidir tudo à força. Veja que ele chamou o pessoal para um acordo na Delegacia. Se quisesse matar, ele mataria em qualquer lugar. Chamou para um acordo, mas acabaram não se entendendo.
Aí o Telmo assumiu a culpa do crime, mas não foi o Telmo que matou ele. Do tempo que conheci o capitão Telmo aqui eu não soube de nenhum crime dele. Aliás, só soube de um crime dele em Londrina, onde ele matou inclusive um militar, mas não sei as causas. Essa é uma história meio complicada”, observou Pedro.
Outra história de que Pedro se lembra, é que “naquela época tinha aqueles que chamavam de quebradores de milho, ou “justiceiros”, que eram mandados para tomar terras. Tem uma história: o pessoal foi a uma propriedade e diante da casa gritaram para todos saírem, senão eles começariam a atirar. Havia uma mulher com duas crianças. Com medo, ela não saiu. Eles atiraram e foram embora. Dois dias depois outras pessoas chegaram e acharam a mulher e uma criança mortas com uma outra de 4 anos ao lado dos cadáveres. Era fácil conseguir terras na época por aqui, mas muitos queriam terras já abertas e com plantação”.
Pedro Carvalho também viu e ouviu sobre as aventuras aéreas. Era pequeno, mas se lembra bem (ele aparece, inclusive, numa foto no aeroporto) sobre o caso do avião Douglas DC-4 que desceu em Paranavaí em 23 de novembro de 1949. Mas, algumas semanas antes, houve outro caso, que igualmente despertou a curiosidade das pessoas do povoado. No campo de futebol que já existia na atual Praça dos Pioneiros e futuro Estádio Natal Francisco, desceu um helicóptero.
Ele estava à procura de um pequeno avião, que caiu nas proximidades das atuais cidades de Tamboara e Paraíso do Norte, que nem existiam ainda como comunidade. O avião foi localizado com os dois passageiros apenas levemente feridos. O campo de futebol estava aberto no meio da mata virgem há pouco tempo e foi uma referência para o aparelho descer. A população não conhecida essas coisas e o helicóptero foi uma grande atração.
Ao todo, lembra-se de nove acidentes aéreos. Além daquele do DC-4 e do avião próximo às duas futuras cidades, ainda aconteceram:
+ a queda de um avião conhecido como “Paulistinha” no Jardim Ipê, na cabeceira do aeroporto antigo;
+ a queda de um avião próximo onde hoje é o Posto Minas, entre o Bar do Kengo e a Instaladora Capel, que veio de Mandaguari, pilotado por um empresário (José Carlos) que pretendia instalar uma emissora de rádio em Paranavaí, em 1952. Por causa dos ferimentos, ele morreu de tátano algumas semanas depois do acidente;
+ um avião Douglas DC-3 teve problemas de freio no Aeroporto Edu Chaves (antigo) e o piloto teve que fazer uma curva de emergência na pista. Um trem de pouso quebrou e uma asa foi quebrada, danificando um dos motores. Não houve feridos. O avião fazia a linha São Paulo-Paranavaí;
+ queda no Distrito de Cristo Rei (território de Paranavaí entre Terra Rica e Santo Antonio do Caiuá) de um Paulistinha do Aeroclube local, pilotado por Flávio, que era instrutor;
+ queda de um avião que era usado para transportar peixe do Rio Paraná, em 1952. O piloto Joãozinho Pescador, de Mandaguari, foi dar um rasante sobre a casa da namorada na Rua Amazonas, atrás da Igreja de São Sebastião, e perdeu o controle;
+queda de avião Bonanza numa fazenda próximo a Tamboara, com quatro ocupantes mortos no acidente;
+queda de Douglas DC-3 no Aeroporto Edu Chaves no Jardim São Jorge;
+queda de avião com empresários de Arapongas no pátio da Escola Municipal Ilda Campano, com quatro vítimas fatais.
Pedro Carvalho lembra que nas décadas de 1950-1960 o avião era o principal meio de transporte de Paranavaí para outras partes do Estado e do País, especialmente Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro. A cidade era servida por seis empresas de transportes aéreos:
+Real Aerovias Nacionais;
+Viação Cruzeiro do Sul;
+Viação Aérea São Paulo (Vasp);
(que operavam com aeronaves Douglas DC-3);
+Rede Estadual de Táxi Aéreo (Reta, que operava com aeronaves Bonanza);
+ Brasil Organização Aérea (Boa);
+Serviço de Táxi Aéreo (Seta)
(estas duas últimas operavam com aeronaves Cessna 180).
No auge do transporte aeroviário, o Aeroporto Edu Chaves chegou a ter 32 aviões baseados, de empresas ou particulares.
Eram terras devolutas da antiga Fazenda Brasileira, que o Governo havia confiscado de antigas concessões que foram anuladas nos anos 30.
O interesse do Governo era colonizar a região, e a doação de terras era um recurso para atrair gente interessada, que já colonizava as regiões de Mandaguari, Maringá e Cianorte, sob administração da Companhia de Terras do Norte do Paraná. As terras daqui, porém, eram do próprio Governo, enquanto as de outras regiões eram cedidas às concessionárias em troca da instalação de ferrovias. “Nessa época veio muita gente”, disse Pedro na entrevista feita na redação do Diario do Noroeste no último dia 28/11/2013.
O casal Valdomiro Carvalho, então com 42 anos de idade, com a esposa Paulina Gomes de Carvalho, transferiu-se de Arapongas para Paranavaí em 16 de agosto de 1944 (dois anos depois que Pedro nasceu) com os quatro filhos, entre eles Pedro, então com dois anos de idade, Odair Carvalho (então com 16 anos, primeira professora estadual de Paranavaí) e mais outros dois filhos (uma voltou a residir em Arapongas e outro irmão em Curitiba). Pedro continua em Paranavaí, onde é eletricista e Odair reside em Florianópolis. Ela, com 80 anos, inclusive, já marcou para janeiro uma viagem para rever Paranavaí, segundo disse por telefone ao Diario do Noroeste.
Waldomiro Carvalho era natural de Santa Cruz do Rio Pardo-SP, nasceu em 02 de agosto de 1902 e faleceu em Curitiba em 23 de maio de 1987, monde está sepultado. Paulina Gomes Carvalho, natural de Jacarezinho-PR, nasceu em 24 de julho de 1906 e faleceu em 02 de dezembro de 1982, também em Curitiba.
O casal veio para Paranavaí e se tornou amigo do Ulisses Faria Bandeira, que era do Departamento de Terras, e que conseguiu umas terras para ele. Imediatamente construiu uma casa num terreno na Rua Amapá esquina com Antonio Felippe (na esquina, ao lado da atual sede da Unimed, o terreno hoje está vazio).
Um dado interessante: Valdomiro comprou o terreno e construiu no fundo um barraco feito de palmito, que havia muito, e coberto de folhas de zinco, como se usava muito na época, para morar, até construir a casa na frente. Voltou a Arapongas, vendeu a propriedade que tinha lá, colocou os quatro filhos na jardineira e veio para a Brasileira. Nesse dia vieram duas jardineiras lotadas, que era muita gente.
“Chegamos e ficamos alojados no barraco construído pelo meu pai, Waldomiro”, lembra Pedro. Na jardineira só podia vir gente, não podia trazer os pertences. Meu pai então carregou tudo numa carroça e trouxe. A viagem de carroça durou três dias desde Arapongas. Aqui, começou a construir uma casa melhor na frente do terreno, coberta com tabuinhas. Tanto é que foi rezada nessa casa a primeira missa, no Natal de 1944, pelo padre palotino João Guerra, que veio de Mandaguari, então sede do município. O local ainda era um pequeno aglomerado de pessoas, com o nome de Fazenda Brasileira.
O barraco no fundo do terreno ficou a servir como depósito. Como naquela época havia muita briga, desavenças por causa de terras, grilagem, foi destacado de Curitiba o primeiro policial: sargento José Marcelino de Souza, um negro forte, muito respeitado por ser muito enérgico. Como não havia muitas construções, ele ficou sabendo do barraco do meu pai e o pediu emprestado até construir a casa dele. Ele se acomodou no barraco com a mulher e duas filhas pequenas. Como não havia um espaço adequado, Marcelino pegou corrente e dois cadeados. Quem ele aprontasse confusão, ele pegava, prendia a corrente com os cadeados no pescoço e na árvore que ficava entre a nossa casa e o barraco”, lembra Pedro Carvalho. “A minha mãe sempre contava que dava água e comida para os presos ali”.
O segundo policial que veio de Curitiba foi um tal de Salata, para instalar o telégrafo.
Pedro detalha: “a 1ª missa em Paranavaí foi rezada na nossa casa e a primeira cadeia também foi no quintal da nossa casa, a 1ª professora foi a minha irmã Odair. E ainda o primeiro açougue de Paranavaí foi instalado pelo meu pai”.
Passados uns tempos, Pedro conta que o pai fez grandes amizades e passou a trabalhar puxando boi de Mato Grosso (o Estado ainda não era dividido) para Londrina, que era então o fim da linha da estrada de ferro.
A boiada – cerca de mil a 1.500 animais – passava bem no centro de Paranavaí, vinda do Porto São José, entrava pelo Jardim São Jorge (estrada que demanda a Graciosa atual) e seguia pela Distrito Federal, Av. Paraná até a Heitor Furtado atual, e seguia rumo à Fazenda do Estado, atravessava o Rio Suruquá, pegava a estrada que hoje passa ao lado do Parque de Exposições Costa e Silva, pelo centro do Distrito de Sumaré e ia sair lá perto de Alto Paraná.
Quando criança, Pedro ouvia muitas histórias contadas pelos pais e pelos amigos mais antigos de Paranavaí, entre eles Ulisses Faria Bandeira, Telmo Ribeiro, e tantos outros. O capitão Telmo costumava reunir amigos para churrascadas na sede da antiga Fazenda do Estado e Pedro sempre participava com o pai.
Ele lembra do Estádio Natal Francisco. “O meu pai com os amigos – entre eles Ulisses Faria Bandeira, o Acácio, maestro da bandinha de música na época, e mais uns oito amigos (de cujos nomes não lembra), reuniam-se num bar próximo ao Posto Gulf (atual esquina da Rua Getúlio Vargas com Av. Paraná) para o bate-papo. Surgiu ali, em 1945, a idéia de fazer um campinho para bater uma bola. Todos gostavam de futebol. O Ulisses disse: Então vamos descer essa rua aqui (Getúlio Vargas) e abrir uma picada até encontrar um lugar adequado. O meu pai providenciou umas toras que foram aparelhadas na Serraria do José Ebiner, que se localizava no atual Jardim Ouro Branco (próximo do atual Colégio Marins), para fazer as traves, outros carpiam o terreno (atual Praça dos Pioneiros) e uma parelha de bois cedida pelo José Ebiner arrancava os tocos das árvores. Todo fim e semana o grupo estava lá batendo uma bolinha e o grupo foi aumentando. Em 1947 o Natal Francisco chegou e organizou o time que veio a ser o ACP”.
Outro fato marcante foi o episódio que envolveu as principais lideranças políticas de Paranavaí em 1949, entre as quais o “capitão” Telmo Ribeiro (na verdade, quando deixou o serviço no Exército era tenente) e o jovem (21 anos) Alcides De Sordi.
“O De Sordi queria ser acima do capitão Telmo. Ele tinha a sua turma de correligionários políticos, conhecidos como Capra Preta, por usarem uma capa preta longa, que encobria até o cavalo que montavam. Quando a situação começou a apertar por causa das eleições a vereador pelo Distrito – que pertencia a Mandaguari – o Telmo foi na Delegacia e pediu para chamar ele para entrarem num acordo. O Telmo havia reunido o seu grupo na Delegacia, houve discussão e o De Sordi saiu dizendo que ia mostrar prá eles como se fazia política. E virou as costas.
Irritado com o desafio – conta Pedro – o Telmo levou a mão no “parabelo” (como se referiam aos revólveres), mas o engenheiro Gineste teria sacado e atirado primeiro, atingindo-o na nuca”. Telmo, porém, assumiu a autoria do crime e foi julgado por isso.
Todos comentaram assim a historia na época.
Segundo Pedro, “o Telmo não era pessoa de decidir tudo à força. Veja que ele chamou o pessoal para um acordo na Delegacia. Se quisesse matar, ele mataria em qualquer lugar. Chamou para um acordo, mas acabaram não se entendendo.
Aí o Telmo assumiu a culpa do crime, mas não foi o Telmo que matou ele. Do tempo que conheci o capitão Telmo aqui eu não soube de nenhum crime dele. Aliás, só soube de um crime dele em Londrina, onde ele matou inclusive um militar, mas não sei as causas. Essa é uma história meio complicada”, observou Pedro.
Outra história de que Pedro se lembra, é que “naquela época tinha aqueles que chamavam de quebradores de milho, ou “justiceiros”, que eram mandados para tomar terras. Tem uma história: o pessoal foi a uma propriedade e diante da casa gritaram para todos saírem, senão eles começariam a atirar. Havia uma mulher com duas crianças. Com medo, ela não saiu. Eles atiraram e foram embora. Dois dias depois outras pessoas chegaram e acharam a mulher e uma criança mortas com uma outra de 4 anos ao lado dos cadáveres. Era fácil conseguir terras na época por aqui, mas muitos queriam terras já abertas e com plantação”.
Pedro Carvalho também viu e ouviu sobre as aventuras aéreas. Era pequeno, mas se lembra bem (ele aparece, inclusive, numa foto no aeroporto) sobre o caso do avião Douglas DC-4 que desceu em Paranavaí em 23 de novembro de 1949. Mas, algumas semanas antes, houve outro caso, que igualmente despertou a curiosidade das pessoas do povoado. No campo de futebol que já existia na atual Praça dos Pioneiros e futuro Estádio Natal Francisco, desceu um helicóptero.
Ele estava à procura de um pequeno avião, que caiu nas proximidades das atuais cidades de Tamboara e Paraíso do Norte, que nem existiam ainda como comunidade. O avião foi localizado com os dois passageiros apenas levemente feridos. O campo de futebol estava aberto no meio da mata virgem há pouco tempo e foi uma referência para o aparelho descer. A população não conhecida essas coisas e o helicóptero foi uma grande atração.
Ao todo, lembra-se de nove acidentes aéreos. Além daquele do DC-4 e do avião próximo às duas futuras cidades, ainda aconteceram:
+ a queda de um avião conhecido como “Paulistinha” no Jardim Ipê, na cabeceira do aeroporto antigo;
+ a queda de um avião próximo onde hoje é o Posto Minas, entre o Bar do Kengo e a Instaladora Capel, que veio de Mandaguari, pilotado por um empresário (José Carlos) que pretendia instalar uma emissora de rádio em Paranavaí, em 1952. Por causa dos ferimentos, ele morreu de tátano algumas semanas depois do acidente;
+ um avião Douglas DC-3 teve problemas de freio no Aeroporto Edu Chaves (antigo) e o piloto teve que fazer uma curva de emergência na pista. Um trem de pouso quebrou e uma asa foi quebrada, danificando um dos motores. Não houve feridos. O avião fazia a linha São Paulo-Paranavaí;
+ queda no Distrito de Cristo Rei (território de Paranavaí entre Terra Rica e Santo Antonio do Caiuá) de um Paulistinha do Aeroclube local, pilotado por Flávio, que era instrutor;
+ queda de um avião que era usado para transportar peixe do Rio Paraná, em 1952. O piloto Joãozinho Pescador, de Mandaguari, foi dar um rasante sobre a casa da namorada na Rua Amazonas, atrás da Igreja de São Sebastião, e perdeu o controle;
+queda de avião Bonanza numa fazenda próximo a Tamboara, com quatro ocupantes mortos no acidente;
+queda de Douglas DC-3 no Aeroporto Edu Chaves no Jardim São Jorge;
+queda de avião com empresários de Arapongas no pátio da Escola Municipal Ilda Campano, com quatro vítimas fatais.
Pedro Carvalho lembra que nas décadas de 1950-1960 o avião era o principal meio de transporte de Paranavaí para outras partes do Estado e do País, especialmente Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro. A cidade era servida por seis empresas de transportes aéreos:
+Real Aerovias Nacionais;
+Viação Cruzeiro do Sul;
+Viação Aérea São Paulo (Vasp);
(que operavam com aeronaves Douglas DC-3);
+Rede Estadual de Táxi Aéreo (Reta, que operava com aeronaves Bonanza);
+ Brasil Organização Aérea (Boa);
+Serviço de Táxi Aéreo (Seta)
(estas duas últimas operavam com aeronaves Cessna 180).
No auge do transporte aeroviário, o Aeroporto Edu Chaves chegou a ter 32 aviões baseados, de empresas ou particulares.