Com estoques cheios e falta de compradores, mercado de milho pode ter um 2014 difícil
Mas, se naquele ano a alta das cotações superou as expectativas de especialistas e agricultores, o cenário atual é de desânimo e preocupação, pois os preços não param de cair.
Na bolsa de Chicago, a queda acumulada em 12 meses é de 41,81%. Só em novembro, a perda foi de 4,17%. É o mais fraco desempenho dentre as principais commodities agrícolas ao longo de 2013. No plano interno, a BM&F Bovespa registra no mesmo período um recuo de 24,58% nos valores pagos para a saca de 60 quilos, com redução de 6,43% no mês passado. Onde isso vai parar?
Para o economista José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados, de São Paulo, pode ainda não ser o fundo do poço. Segundo ele, as grandes colheitas no Brasil e mais recentemente nos Estados Unidos, recompuseram os estoques. “Nada indica que a situação irá se reverter. Pelo contrário, a tendência é de um mercado ainda mais complicado em 2014”, afirma.
O que pode fazer o quadro agravar-se no próximo ano não é apenas a superoferta do cereal. Os Estados Unidos, que destinam atualmente cerca de 30% da produção de milho para a indústria de biocombustível, já anunciaram que pretendem reduzir em 10% a elaboração de etanol a partir dessa matéria-prima. O motivo é a forte pressão do poderoso segmento do petróleo, que luta para que o porcentual chegue a 15%.
“Ninguém sabe onde o preço pode chegar, a única certeza é que vai sobrar produto”, comenta Mendonça de Barros. Nem a perspectiva da China de importar mais milho brasileiro anima o especialista, justificando que a possibilidade de uma safra normal na América do Sul, agora no verão, deve pressionar as cotações ainda mais.
Já para a soja a previsão geral dos analistas é que os preços continuem remuneradores em 2014, pois os estoques ainda estão relativamente baixos, houve quebra na recente safra norte-americana e o início de recuperação da economia mundial aponta para um gradativo aumento do consumo. “Não será uma brastemp como foi em 2012, mas vai dar para o gasto”, completa Mendonça de Barros.
Safra cheia nos Estados Unidos
De acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a colheita da safra de milho (ciclo 2013/14) está encerrada naquele país. A previsão é de 355,33 milhões de toneladas.
Segundo observadores, a maior disponibilidade do grão nos EUA deve exercer pressão negativa no mercado internacional sobre os preços. Além disso, aumenta a concorrência com o milho brasileiro nas exportações.
Exportação brasileira inunda o mercado
Os fabricantes de ração da Ásia pretendem reduzir as compras de milho para embarque no primeiro trimestre do próximo ano, uma vez que as cargas do Brasil que estavam atrasadas começam a inundar o mercado.
Para complicar, os principais importadores de grãos para ração do Sudeste Asiático – Indonésia, Malásia e Vietnã – vão receber grandes quantidades de milho do Brasil em dezembro, elevando ainda mais os seus estoques.
“Os embarques que deveriam vir em agosto e setembro estão chegando somente agora”, diz um analista. Segundo ele, isso vai deixar estoques muito altos e a demanda ficará enfraquecida entre janeiro a março.
A Malásia, que importa cerca de 200 mil a 250 mil toneladas por mês, tem hoje uma sobra de 300 mil toneladas e espera receber um volume quase igual neste mês.
A vizinha Indonésia, que já garantiu o abastecimento de milho para suas necessidades até dezembro, tem mostrado pouco interesse em reservar cargas para o primeiro trimestre de 2014, enquanto o Vietnã afirma estar coberto em grande parte até março.
COMMODITIES AGRÍCOLAS
Desempenho nas bolsas de
Nova York e Chicago nos
Últimos 12 meses (*)
MILHO queda de 41,81%
CAFÉ queda de 30,11%
TRIGO queda de 24,67%
SOJA queda de 10,91%
SUCO DE LARANJA alta de 14,99%
(*) Fonte: Dow Jones Newswires
Desempenho na BM&FBovespa
nos últimos 12 meses(*)
CAFÉ queda de 32,76%
MILHO queda de 24,58%
SOJA queda de 9,97%
BOI BORDO alta de 10,13%
ETANOL alta de 0,63%
(*) BM&FBovespa