Braquiária, o capim versátil que está revolucionando o campo
Atualmente a braquiária – que faz bem ao solo, à pecuária e à agricultura – é a “menina dos olhos” da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Uma unanimidade entre especialistas, agricultores e pecuaristas, por quebrar paradigmas e sepultar antigos conceitos da agropecuária.
Na semana passada em Maringá, onde participou do Fórum Nacional de Agronegócios promovido pela Rádio CBN, o pesquisador da Embrapa Cerrados, João Klutchoski, afirmou ficar emocionado quando vê o que a braquiária é capaz de fazer. “Com tantos anos na pesquisa, tive que reaprender muita coisa em 2011 por causa dessa espécie”, lembra.
Naquele ano, Klutchoski, que é mais conhecido como João “K”, foi convidado a visitar a Fazenda Ybietê-Porã em Rancharia, município situado em uma das regiões de solos mais pobres e desprezados do Oeste paulista, conhecidos como “sangue de tatu”. O experiente pesquisador diz que ter encontrado lá o que parecia improvável: lavouras de soja produzindo normalmente no “areão”.
A fazenda é um oásis de produtividade em meio ao visível desânimo da imensidão de pastos esgotados na vizinhança, cada vez mais tomados por canaviais. A razão do sucesso da propriedade, que pertence ao agrônomo Ednaldo Mathias, é justamente a braquiária. Empreendedor, Mathias conta que resolveu “aposentar o velho modelo de pecuária extrativista, modernizar a exploração e produzir soja”.
Para isso, lançou mão do resultado de pesquisas da Embrapa que apontam para a importância do capim para cobrir, proteger e reestruturar o solo frágil, além de garantir comida para o gado. “Se deu certo no Cerrado, tinha que dar certo aqui”, afirma.
Mathias adotou um modelo de integração de atividades cujo ciclo começa no verão com o cultivo de soja. Para isso, faz o plantio direto sobre a cobertura de palha deixada pela braquiária, que é dessecada na primavera. Após a colheita do grão, o capim é semeado novamente no outono para que, quando o inverno chegar, esteja viçoso o bastante para servir de pasto ao rebanho. O custo com as sementes, segundo ele, não passa de R$ 100 por alqueire (um alqueire equivale a 2,42 hectares).
Se o inverno é geralmente uma época de pastos destruídos pelo frio, em que os bovinos emagrecem e parte deles morre desnutrida, isto não acontece onde a braquiária foi instalada. Não raro, conforme João “K”, é possível engordar o rebanho à média de 600 gramas por dia, durante três meses seguidos. Para muitos pecuaristas, isto chega a ser um milagre.
Após a saída do rebanho, que vai para o abate, o pasto é outra vez dessecado e o ciclo recomeça com o plantio de uma nova safra de soja.
“A palhada da braquiária deixa o solo fresco e úmido por mais tempo após uma chuva”, explica o pesquisador. Isto, segundo ele, minimiza o efeito do calor forte e até de uma estiagem de curta duração. E acrescenta: se o solo ficasse descoberto, esquentaria tanto que a camada superficial poderia chegar a 60 graus centígrados, inviabilizando a agricultura.
O intenso enraizamento do capim traz outras vantagens ao solo, comenta o pesquisador. Impede e erosão, promove a descompactação e, por fim, recupera a fertilidade natural com a produção de matéria orgânica.
Alimento garantido no inverno
Em pastos degradados, devido a pouca oferta de alimento, a média de ocupação não passa de uma unidade animal por hectare/ano – média baixíssima, segundo especialistas. Por causa disso a pecuária é considerada o setor mais atrasado do agronegócio, com o agravante de que os pecuaristas, em geral, são relutantes à incorporação de novas técnicas. Extrativistas, eles não têm o costume de investir na reforma dos pastos.
Mas quem investe na implantação de uma pastagem de capim braquiária logo no final do verão e início de outono, poderá ter uma quantidade abundante de massa verde, alimento suficiente para engordar ao menos quatro unidades animais em um hectare durante os meses mais críticos do inverno.
Segundo o especialista João Batista Barbi, do Instituto Emater em Tapejara (PR), o gado conseguirá comer apenas parte de toda a braquiária. O que restar vai servir como cobertura do solo no verão.
Barbi observa que o capim viceja e fica pronto justamente no período em que há déficit de pastos na região – entre os meses de maio e agosto.
Foi a braquiária que livrou o pecuarista Carlos Ehlers, de Douradina, no Noroeste paranaense, de um grande prejuízo este ano. Depois de três geadas seguidas, entre o final de julho e início de setembro, os pastos da Fazenda Santa Luzia ficaram arrasados e o rebanho só escapou da fome porque o proprietário havia plantado uma parte com aquele capim, pensando em investir na soja. “Foi providencial, se soubesse teria plantado mais”, afirma.
Em Cidade Gaúcha, 28 dos 85 alqueires de pastos da Fazenda Bom Jardim, de Ademir Ferrarini, já são cultivados com braquiária e a tendência, segundo ele, é ir aumentando.
“A gente se sente mais seguro e encorajado para investir na atividade”, conta Ferrarini.
Já no ano passado ele decidiu partir para um programa de integração, interessado em dar novo rumo à propriedade. “Pelo sistema tradicional não dava mais, estava inviável”, conta. No início de 2013 o produtor colheu sua primeira safra de soja e diz contar com a ajuda do filho Aden, que é veterinário, para modernizar a pecuária. Com a braquiária garantindo alimento e a engorda do gado mesmo no frio, a próxima meta é reduzir a idade de abate do plantel para 14 meses, ofertando animais jovens e de carne mais macia ao mercado.
Um capim “bom para tudo”
A braquiária ruziziensis é considerada uma das protagonistas do moderno agronegócio brasileiro. Em resumo:
– A espécie, com seu denso enraizamento, melhora o solo, protegendo-o da erosão e acabando com a compactação – um dos graves problemas da agricultura;
– A braquiária garante alimento para o gado em pleno inverno, época em que os pastos, invariavelmente, estão secos;
– O capim é a base sustentável dos programas de integração de atividades, como lavoura e pecuária;
– É, segundo os especialistas, de fácil dessecação;
– Sua palha volumosa cobre o solo, mantendo-o fresco mesmo sob sol forte. Essa cobertura viabiliza o plantio direto da soja, além de outros benefícios, como reter umidade e formar camada de matéria orgânica que restaura a fertilidade natural, fatores indispensáveis para o desenvolvimento da lavoura de verão;
– Pode ser semeado, inclusive, em consórcio com o milho de inverno, pois este último cresce mais rápido. Só depois da colheita do grão é que o capim se desenvolve normalmente;
– Pesquisas apontam que, nesse consórcio, a braquiária reduz em 10% a produtividade do milho. Em contrapartida, poderá aumentar em 10% a produtividade da soja cultivada a seguir, no mesmo espaço.