Sobre brasileiros na Rússia e o machismo escancarado

Por Reinaldo Silva*

O comportamento repulsivo de brasileiros na Rússia ganhou espaço nas redes sociais. Ao exporem mulheres a situações vexatórias, aproveitando que não falavam português, revelaram um problema que precisa ser amplamente debatido e combatido: o machismo.
Em vídeos compartilhados na internet, pelo menos dois grupos de turistas incentivam mulheres a pronunciarem repetidas vezes palavras de cunho sexual. O tom de brincadeira que apresentam na gravação demonstra como o assunto é banalizado.
Mascaramos os comportamentos agressivos às mulheres, argumentando que são normais e inofensivos. Não entendemos como um simples comentário pode provocar danos irreversíveis. E nos abstemos de olhar para o machismo com toda a crítica necessária.
Ao agirmos dessa forma, compactuamos com o cenário assustador que a população feminina vive diariamente. O assédio é tão comum que passa despercebido na maioria das vezes. A violência se tornou corriqueira e já não causa mais espanto.
O resultado está nos números crescentes de violência contra mulheres no Brasil. Uma é estuprada a cada 11 minutos. Duas são mortas a cada hora. Cinco são agredidas violentamente a cada dois minutos. 30% das brasileiras já sofreram algum tipo de violência doméstica.
Mas basta que elas empunhem as bandeiras do feminismo para nos armarmos e assumirmos a postura combativa. Desvirtuamos os discursos sobre respeito e igualdade e propagamos a misoginia. Desconsideramos, silenciamos, excluímos, violentamos, assassinamos.
E tudo isso porque continuamos com a ideia descabida de que somos superiores a elas. Utilizamos uma construção social distorcida para sustentarmos o papel de dominadores. Então, passamos a considerá-las nossas propriedades.
Aquelas que não agem como submissas estão fadadas às críticas, afinal, na percepção machista que temos de sociedade, o levante feminino representa a subversão da ordem natural das coisas: em hipótese alguma, elas deveriam se sobrepor a nós, homens.
Já passou da hora de esse ciclo de comportamentos destrutivos ser interrompido. Precisamos falar sobre o machismo e combatê-lo nas mais diversas manifestações do dia a dia. Da piada aparentemente inocente até os vídeos compartilhados na internet por trogloditas. Da violência psicológica à agressão física. Do estupro ao assassinato.
Que elas sejam livres. Que levem a vida sem o peso das cobranças que fazemos. Sem a pressão das restrições que impomos. Sem o medo de ir e vir. Sem amarras. Apenas livres.

*Reinaldo Silva é repórter do Diário do Noroeste, jornalista e especialista em Comunicação, Educação e Artes.