Em reunião itinerante, Câmara de Paranavaí homenageia Zé Sapateiro
A entrega da homenagem acontece na terça-feira, às 19h30, no CAIC, antecedendo a reunião itinerante da Câmara de Vereadores.
No currículo do Zé Sapateiro, muitas histórias e uma data emblemática: ele informa ter nascido em 1900, portanto, há 113 anos.
O projeto que concedeu o título ao pioneiro da Vila Operária foi proposto pelo vereador eleito pelo bairro, Walter dos Reis (PMDB), aprovado por unanimidade. A terceira votação aconteceu na reunião da última segunda-feira.
Como justifica Walter dos Reis, trata-se de uma homenagem merecida, baseada nos relevantes serviços prestados desde a década de 50, quando o homem simples e cativante chegou ao município de Paranavaí.
REUNIÃO ITINERANTE – A entrega da homenagem marca a abertura da terceira etapa de reuniões itinerantes, uma proposta da atual legislatura e colocada em prática em duas edições anteriores: Jardins Ipê e Morumbi.
Sobre a reunião, o vereador Walter dos Reis analisa que a Vila Operária é um dos locais mais populosos e participativos do município.
“Esperamos que a comunidade participe da reunião. Queremos saber os problemas, anseios e sugestões da comunidade para tentar ajudar no que for possível. Esta é uma maneira de aproximarmos da população”, disse Walter.
As sessões itinerantes têm por objetivo ouvir a população a respeito das principais necessidades, promovendo uma integração entre os moradores e o Poder Legislativo Municipal.
De acordo com o presidente da Câmara, Mohamad Smaili, as reuniões nos bairros e a participação popular são importantes para conhecer a realidade e encaminhar, ao Poder Executivo, as propostas que atendam as solicitações dos moradores.
RESGATANDO A HISTÓRIA – Como forma de resgatar a história do Zé Sapateiro, um paranavaiense de coração, reproduzimos a seguir o texto do jornalista Reinaldo Silva, publicado na edição do DN de 14 de dezembro de 2011, marcando o aniversário de emancipação política de Paranavaí.
ZÉ SAPATEIRO – Um olhar centenário sobre Paranavaí
Os móveis, simples, são aconchegantes. Nas paredes, há quadros com personagens religiosas. A estante da sala é repleta de troféus. Numa cadeira no centro da sala, está ele, José Gomes da Cruz. Seu rosto é marcado pelo tempo, a voz cansada indica que ele já contou muita história, mas os olhos revelam que ainda há muito por contar. As pernas são inquietas, acostumadas que estão com o trabalho. “Não consigo ficar parado”, é o que faz questão de dizer, quando a esposa pede para “sossegar na cadeira”.
Este é Zé Sapateiro. Figura lendária de Paranavaí que garante ter nascido em 5 de maio de 1900. O documento que comprova a idade dele aponta o ano de 1922, e a diferença entre as duas datas é explicada pelo próprio Zé Sapateiro. “Naquele tempo era diferente. O meu registro estava num cartório que pegou fogo. Só depois de muito tempo consegui o outro documento”, conta.
Ele chegou a Paranavaí no ano de 1950. Lembra que a cidade era tomada pelo mato, havia “capoeira por toda a parte”. A transformação que presenciou ao longo de sua vida, hoje o enche de orgulho. “Sinto prazer quando vejo a cidade tão grande. Um lugar cheio de progresso.” Um progresso, aliás, que ele ajudou a realizar.
Zé Sapateiro trabalhou para abrir estradas e ruas. Foi pedreiro, participando da construção de muitas casas, torneiro mecânico, fiscal em uma usina de cana-de-açúcar, plantou e colheu café.
Mas foi o ofício que exerceu por 40 anos que lhe rendeu o apelido. Sapateiro. “Até hoje, quando posso, conserto sapatos aqui em casa”, diz, e nesta hora é interrompido pela esposa Julia de Souza Cruz, de 80 anos: “outro dia ele estava mexendo pra lá e pra cá e eu tive que pedir para parar, porque ele não pode ficar fazendo tanto esforço assim”.
UM AMANTE DO FUTEBOL – De repente ele se lembra do tempo em que jogou futebol. Fez parte do Atlético Clube Paranavaí (ACP), quando ainda era um time amador. “Desse tempo sinto saudade do doutor Waldemiro [Wagner, que hoje empresta o nome ao estádio municipal de Paranavaí]. Ele era um grande companheiro”. E qual não foi sua alegria quando o Vermelhinho foi campeão do Campeonato Paranaense, em 2007: “sempre acompanho os jogos do ACP e a vitória foi muito importante”.
É dos tempos em que jogava futebol que vêm todos os troféus que ele exibe com orgulho. Muitos na estante, outros no chão. Dos mais diferentes tamanhos. “Quando a gente não era campeão, ficava em segundo lugar”, diz, com o orgulho de quem um dia já foi um ótimo jogador.
E já que futebol é o assunto, Zé Sapateiro conta que foi treinador de um time de meninos. Ajudou a construir um campo de futebol e ensinava para a garotada os fundamentos do esporte. E foi sua contribuição para o esporte amador, especialmente os times pequenos de futebol, que renderam a ele homenagens, placas e mensagens de quem reconheceu sua participação na história desportiva de Paranavaí. “Fico muito feliz quando eu vejo essas homenagens. Mostram que fiz boas amizades”.
A GEADA NEGRA – Em 1975, o Paraná foi assolado por uma forte geada que devastou os cafezais do Estado. A Geada Negra atingiu a economia em cheio, porque eram as plantações de café o grande motor do desenvolvimento.
Neste tempo, Zé Sapateiro já morava em Paranavaí, e com pesar ele relembra os dias que se seguiram à grande tragédia. “Foi muito triste. Os produtores perderam as plantações e tiveram muito prejuízo. A geada acabou com tudo”.
Graças à Geada Negra, a cidade viu muitas pessoas indo embora. O que seria a realização de um sonho, com o progresso se desenhando nos cafezais de Paranavaí, transformou-se em decepção. “Muita gente abandonou tudo por causa dos prejuízos, e foi embora”, diz Zé Sapateiro.
ORGULHO DE PARANAVAÍ – Entre um assunto e outro, Zé Sapateiro fica em silêncio por alguns segundos. Talvez esteja recuperando o fôlego. Talvez procure na memória episódios que há muito tempo se passaram. Ou, quem sabe, pensar em sua história e trazer de volta tantas lembranças sejam tarefas demasiadamente emocionantes. Não dá para saber, mas a impressão que se tem é que a pausa o ajuda a se recompor.
Um sorriso se desenha quando fala do que sente por Paranavaí. Foi aqui que muitos de seus oito filhos nasceram. Aqui estão alguns dos 16 netos. Zé Sapateiro também tem 6 bisnetos. Uma família grande, uma grande história. É pensando em tudo o que passou, que José Gomes da Cruz contorce levemente os lábios, numa expressão de felicidade, e diz que tem orgulho de morar em Paranavaí. “Daqui não quero sair. Quero morrer aqui”. (Texto: Reinaldo Silva – publicado em 14 de dezembro de 2011)