Denunciado por três crimes, Renan Calheiros é eleito presidente do Senado
O outro candidato foi o senador Pedro Taques (PDT-MT), que recebeu 18 votos. Dois senadores votaram em branco e dois, nulo.
Os crimes que o Ministério Público Federal atribui a Renan levaram ele a renunciar à presidência do Senado, cargo que ocupava desde 2005, em 2007.
Senadores de oposição criticaram a manutenção da candidatura de Renan, mas já consideravam sua eleição uma inevitabilidade.
Como disse Álvaro Dias (PSDB-PR), não havia fatos novos para o “público interno” – governo e Senado. Em entrevista, Renan disse estar confortável em assumir a presidência do Senado mesmo sob suspeita, por considerar que a ação da procuradoria era motivada politicamente.
A denúncia do procurador-geral, Roberto Gurgel, ocorreu na semana passada, e ontem a revista “Época” divulgou o teor da acusação: falsidade ideológica, uso de documentos falsos e peculato.
O senador é acusado de pagar despesas pessoais com dinheiro de Cláudio Gontijo, que trabalha para a empreiteira Mendes Júnior.
Para justificar que tinha renda para fazer os pagamentos, Renan apresentou documentos e afirmou que tinha ganhos com a venda de gado. O senador pagava uma pensão mensal à jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha fora do casamento.
“ÉTICA É OBRIGAÇÃO” – Renan Calheiros (PMDB-AL) discursou antes para defender sua candidatura sem fazer qualquer menção às denúncias que o levaram a renunciar ao cargo em 2007.
Renan disse apenas ser "legítimo" aos senadores falar sobre ética, num recado aos "independentes" que criticaram sua indicação para Presidência.
"A ética não é objetivo em si mesmo. O objetivo em si mesmo é o Brasil, o interesse nacional. A ética é meio, não é fim. É obrigação de todos nós, responsabilidade de todos nós e dever desse Senado Federal", afirmou.
Ao falar sobre ética, Renan mencionou o nome do senador João Capiberipe (PSB-AP) – num recado ao colega que assumiu o mandato apenas ano passado depois de ter sido enquadrado na lei da ficha limpa. Capiberipe foi um dos "independentes" que discursou contra Renan. Apenas ele e o senador Pedro Simon (PMDB-RS) citaram o nome do candidato do PMDB.
Capiberibe leu, no plenário, trechos do editorial da Folha publicado nesta sexta-feira com críticas à eleição de Renan. "Não bastasse o longo currículo de Calheiros, o bom senso bastaria para vetar sua indicação", disse o senador ao citar trecho do editorial.
Renan disse que seria "injusto" à Casa falar em ética depois que o Senado aprovou "de forma célere, como nunca se aprovou outra matéria", o projeto da ficha-limpa. "Isso demonstra que esse é compromisso de todos nós", afirmou.
Taques diz que Senado elege Renan com “silêncio dos covardes”
Candidato da oposição a presidente do Senado, Pedro Taques (PDT-MT) disse, em seu discurso, que a eleição de Renan Calheiros (PMDB-AL) acontece em meio ao "silêncio dos covardes".
A declaração foi dada ao final de sua fala ontem, quando houve um momento de breve silêncio.
"Eu peço o voto de cada senador. Peço silêncio aos senhores. Ouçam esse silêncio. Esse silêncio é o silêncio do covarde. É o silêncio de quem tem medo. Sintam esse silêncio. Esse é o silêncio de quem aceita, de quem não resiste. Expresso a vossa excelência, senador Renan Calheiros, meus respeitos pessoais", afirmou o senador.
No seu discurso, Taques disse também que é um "titular da perda anunciada". "É como um perdedor que ocupo esta tribuna. Venho como alguém a quem a derrota corteja", disse o pedetista, que teve o apoio de integrantes da oposição e do PSB.
Ele se definiu como um "anticandidato" e defendeu que a Casa não volte a um passado se tornando um "puxadinho do Poder Executivo".
"Eu, anunciado como perdedor, comprometo-me perante meus pares e perante todo o país a impugnar estes exageros do Poder Executivo. Será que o anunciado vencedor [Renan Calheiros] pode fazer idêntica promessa?", afirmou Taques.
Sem citar diretamente as denúncias contra Renan apresentadas pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, ao Supremo Tribunal Federal, Taques diz não temer o passado.
"Não temo o próprio passado e portanto, não tenho medo do futuro", disse Pedro Taques.
Com assinaturas contra Renan, manifestantes são barrados
Integrantes de organizações não governamentais como Rio de Paz e Instituto de Fiscalização e Controle foram ao Senado ontem para entregar aos parlamentares mais de 290 mil assinaturas de uma petição, organizada pela internet, contra a candidatura do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) à presidência da Casa. As informações são da Agência Brasil.
O grupo não pode entrar no Senado porque até o fim da sessão o acesso estará restrito a funcionários e pessoas credenciadas ou convidadas pela Secretaria-Geral da Mesa.
A petição pedia o compromisso dos senadores com a eleição de um presidente com a ficha limpa.