Programa federal TI Maior é visto com ressalvas por empresários do setor de tecnologia

Alguns aspectos já antecipados sobre a política nacional de software TI Maior, que será anunciada oficialmente pelo governo federal na próxima segunda-feira (20), são vistos com ressalvas pelo setor.
Segundo informações do coordenador da política de software do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Rafael Moreira, já estão destinados no orçamento da União até 2014 R$ 50 milhões para investimentos em computação em nuvem (cloudcomputing) sem levar em conta os orçamentos de TI dos ministérios e estatais.
Além disso, a subvenção econômica da Finep – com recursos não reembolsáveis para o governo – também trará uma linha especial dedicada à computação na nuvem. A iniciativa de “cloud”, conforme antecipou Moreira, conta ainda com a realização de pilotos – pelo menos 10 – no governo, já a partir de 2013, com o processo sendo conduzido, inicialmente, pelo Serpro, Dataprev e Telebrás.
Moreira revelou também que o governo quer impulsionar a formação de mão-de-obra para a nuvem em parceria com a Academia, além de aperfeiçoar o sistema governamental de compra de softwares. “Estamos adaptando a questão de compra de software e serviços de TI pelo governo. Já foi formatado um modelo que vai beneficiar empresas que fazem software”, disse Moreira durante palestra realizada na última semana em São Paulo no evento CloudConference.
Dados divulgados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação revelam que TI sozinha representa 4,4% do Produto Interno Bruto. A idéia do governo é colocar o Brasil como o quinto maior mercado de TI do mundo já em 2020.
Na avaliação do empresário Luiz Alberto Alano, diretor executivo da Equiplano, empresa paranaense especializada em sistemas para a gestão pública, o montante anunciado de R$ 50 milhões pode ser representativo ou não, dependendo da aplicação que se fará dos recursos. “Se considerarmos que será aplicado em mais de dois anos é uma iniciativa muito tímida pela importância que o governo diz creditar ao setor de TI”.
Sobre a iniciativa de capacitar profissionais em nuvem, Alano defende que a academia deve preparar o profissional para um ambiente de mudanças constantes. “É mais importante formar pessoas que possam migrar facilmente de uma tecnologia para outra do que formar pessoas com um foco tão restrito, que acaba se tornando obsoleto quando surgir uma nova onda”.
Para ele é fundamental que haja mudanças no sistema de compra de software e serviços de TI, porque geralmente as grandes compras governamentais excluem as pequenas e médias empresas do setor. Alano destacou ainda que o foco do governo não deveria ser no tamanho do mercado (quinto maior do mundo), mas no desenvolvimento das empresas nacionais.
“Ser o quinto maior mercado pode indicar apenas que estamos importando muito software. Devemos produzir software de qualidade no Brasil. Salvo algumas poucas exceções, as maiores empresas de TI são fábricas de software. Desenvolvem software sob encomenda, codificando o que foi especificado por terceiros, deixando o projeto e a autoria intelectual para quem encomendou. Não se vê inovação nem geração de patentes neste tipo de serviço, apenas o uso do que já foi desenvolvido anteriormente. Os valores apresentados (4,4% do PIB) impressionam. Mas quanto disso vem de licenciamento de software nacional, indaga o empresário. Esse sim é o número que dá a real dimensão da nossa TI”, disse Alano.
Na avaliação de outro empresário do setor, o gestor do APL de Software de Curitiba, Leonardo Matt, o foco do programa TI Maior deveria ser no estímulo às empresas nacionais. Ele cita como exemplo o caso do Expresso, software de automação de escritório inicialmente desenvolvido na Alemanha e tropicalizado por estatais brasileiras, mas que atualmente é livre apenas aos órgãos de governo. “Se a adaptação deste software foi feita por estatais que são abastecidas com recursos públicos, dinheiro proveniente em grande parte do recolhimento de impostos de empresas, deveria também ser disponibilizada às empresas ”, defende Matt.

Cloud computing
O conceito de computação em nuvem se refere à utilização da memória e das capacidades de armazenamento e cálculo de computadores e servidores compartilhados e interligados por meio da internet. O armazenamento de dados é feito em serviços que poderão ser acessados de qualquer lugar do mundo, a qualquer hora, não havendo necessidade de instalação de programas ou de armazenamento de dados. O acesso a programas, serviços e arquivos é remoto, através da Internet – daí a alusão à nuvem.