Marco Aurélio questiona se Joaquim Barbosa é censor dos colegas
Barbosa, relator da ação penal que começou a ser julgada anteontem, será o próximo presidente do tribunal, assumindo em novembro, quando Carlos Ayres Britto irá aposentar compulsoriamente.
"Me assusta o que podemos ter após novembro", disse. "O presidente tem que ser algodão entre os cristais. O presidente não pode ser pressão entre cristais".
Na discussão, Barbosa afirmou que seria "irresponsável" analisar a questão de ordem do advogado Márcio Thomaz Bastos pedindo o envio de parte do processo do mensalão para a primeira instância.
Barbosa ainda acusou o revisor do caso, Ricardo Lewandowski, de deslealdade, por decidir proferir um longo voto, contrário ao seu, quando poderia ter feito isso antes.
Marco Aurélio, que votou com Lewandowski na questão do desmembramento, afirmou que episódios como o de anteontem prejudicam a credibilidade do tribunal.
"Será que ele [Joaquim Barbosa] se arvora em censor dos colegas?", questionou. "Não gostei [de ontem]. Pela falta de urbanidade do relator. Precisamos discutir ideias, não deixando descambar para o lado pessoal […] O que eu vi ontem (anteontem) eu fiquei pasmo, inclusive com adjetivações impróprias em se tratando de um colegiado deste nível". (Por Felipe Seligman, Márcio Falcão, Rubens Valente e Flávio Ferreira)
Protestos com "cela" e Papai Noel
Em seu segundo dia, o julgamento do mensalão no STF (Supremo Tribunal Federal), em Brasília, continua esvaziado de manifestantes. Os poucos que aparecem, porém, têm sido criativos.
No início da tarde de ontem, um grupo de cerca de dez pessoas protestava contra os acusados no processo. Era o "movimento sindical contra a corrupção", formado, segundo seu porta-voz Carlos Lacerda – diretor da Federação dos Trabalhadores Metalúrgicos da região norte -, por diversos líderes sindicais.
O grupo, vestido com camisetas listradas em preto e branco, guardava uma cela onde estavam presos bonecos de papelão identificados como cinco dos 38 réus do mensalão: o ex-ministro José Dirceu, o ex-deputado João Paulo Cunha, o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares e os publicitários Duda Mendonça e Marcos Valério – que é acusado de ser o operador do esquema.
Lacerda explicou a escolha: "Eu sou contra a superpopulação carcerária, logo escolhemos alguns nomes mais conhecidos para ‘prender’".
Ele se disse "decepcionado" com o PT, não apenas por causa do mensalão, mas também porque, segundo ele, o partido não vota as questões importantes para os sindicalistas. "Mas tem muita gente boa no partido também, não posso generalizar", disse o metalúrgico, que já foi filiado ao PT e hoje está no PDT.
Para Lacerda, a Constituição deve ser alterada para que o Executivo não indique mais os ministros do Supremo, para evitar conflito de interesses. Sobre a falta de manifestantes em frente ao tribunal, o sindicalista afirmou que não ficou desanimado: "Nem todos os grandes jogos têm grande público".
Papai Noel
Ao lado da cela, Nilson Francisco dos Santos, 62, se manifestava vestido de "Papai Noel-palhaço" ao lado de sua cadela, Princesa. O protesto de Santos, no entanto, era mais pessoal: ele diz não conseguir se aposentar como lavrador.
Sem saber, Santos escolheu o período do julgamento do mensalão para se manifestar pela primeira vez em frente ao Supremo. "Não sabia que estava tendo isso não, mas é ótimo porque dá mais visibilidade para o meu protesto".
Em sua carroça, onde Princesa descansava, um cartaz dizia: "Nas mãos dos políticos todos somos palhaços. O Brasil tem dinheiro para Bélgica, Cuba e Haiti… mas não tem para saúde, educação e moradia. SOS Brasil".