Geração tipo assim

Adão Ribeiro*

O objetivo deste texto é justamente propor reflexão para o fato de que as crianças e adolescentes são vítimas, ou consequências, mas quase nunca agentes do seu futuro/presente. Nem de longe o discurso do protagonismo jovem se vê na prática.
O problema começa na palavra da moda: terceirização (de tudo). A correria da vida e a lógica vigente forçam terceirizar a educação em grande parte, ainda que involuntariamente. Isso ocorre também porque pai e mãe vão à luta no mercado para defender o pão de cada dia.
A educação dos pequenos fica para terceiros, profissionais ou amadores de benquerer. Portanto, a educação pública ou privada, em certa medida, também se torna mercadoria, vendida e comprada desde a mais tenra idade.
Antes mesmo de chegar até a escolinha (o sonho dos pais é conseguir pagar uma bem conceituada), o novo cliente se depara com o mundo desenfreado do consumo, onde tudo é descartável. A fralda deixa de ser tecido e plástico, se torna personagem hollywoodiano. Lógico, descartável e pelo dobro do preço.
E os personagens se sucedem. A primeira bolsa, o primeiro caderno, o livrinho das primeiras letras. Tudo é mercadoria que precisa ser vendida e consumida rapidamente para não perder a validade, pois daqui a alguns meses vem novo personagem e este para sobreviver (lucrar) precisa do imaginário infantil/juvenil.
Na sutil manipulação do mercado (ou não tão sutil assim, como sugere o amigo e jornalista Reinaldo Silva), a criança descarta o seu herói anterior sem a menor culpa, como fizeram com a sua fralda de personagem, e abraça o novo ou requentado, pra sempre até amanhã.
O jovem cresce e as mercadorias se sucedem. Na adolescência, o mercado empurra bugigangas de toda sorte, como se fossem sinônimos de felicidade. Roupa que muda todo dia, cabelo de toda cor, maquiagem que transforma a pessoa, filme descolado, música hit, músculos definidos, peitos siliconados, sexualidade precoce, magreza a qualquer custo…
Com cara de supertendência.  
E assim vamos: os ídolos pop (de todas as áreas) distorcem ética e moral, vendem fetiches, banalizam sexo e drogas (álcool é droga), incentivam trocar aulas por bailão, balada, batidão e outros que nem sei descrever. Sem contar que os adultos permitem essa confusão, ainda que tacitamente, seja por omissão, desconhecimento ou impotência.
Produzimos jovens expostos a melancolia e frustração, num mundo maluco e intangível aos mortais comuns. Afinal, venderam que tudo era liberado e que, se ainda assim, se esforçando um pouquinho, os jovens alcançariam o sucesso.
Como se fosse possível aprovação geral no vestibular, jogar futebol, ser artista, namorar o ídolo pop ou conquistar fortuna apenas com o esforço. E mais: lançam a ideia de que esse caminho é a única possibilidade de sucesso. Pronto, a maioria chegou ao fracasso!
E por fim, cá estamos nós, criticando os jovens, como se eles tivessem escolhido a própria educação formal/informal ou o conjunto de valores. Como diz o professor/doutor Roberto Leme Batista, o homem só se humaniza nas relações.
Em outras palavras, penso que, em justa medida, a geração anterior forma a atual neste terreno escorregadio de variáveis quase infinitas e, antes de tudo, mundo do mercado.
E só nos resta criticar essa geração que, segundo nosso crivo, não quer nada com nada, a geração “tipo assim”.
Ou seria autocrítica?
Em tempo: este texto não tem a pretensão de ser educacional ou científico, mas apenas de opinião diante da pressão pelo sucesso instantâneo, algo que pesa sobre a cabeça dos jovens com a força de toneladas.         

*Adão Ribeiro é repórter do DN