Cavernas Virtuais

Estamos virando trogloditas.
Pense a respeito.
Não trogloditas no sentido físico ou tecnológico, mas no sentido emocional, sentimental, espiritual.
Reflita um pouco. Observe o mundo.
Educação e cordialidade são artigos cada vez mais raros. Gratidão, lealdade, fidelidade, também.
Já não é suficiente uma ótima casa, nem o emprego estável, o casamento bom, a saúde em dia. 
É preciso mais! 
É preciso ser importante, sair na capa da revista, ser lembrado até por quem não nos dá valor! Ser querido, exaltado, frequentar a ilha mágica, ter o último modelo do último lançamento da mais nova tecnologia.
Amigos precisam agendar visita, irmãos já não se falam, pais viraram apenas provedores, professores são apenas serviçais. 
Temos medo de relacionamentos, pavor de religião, desconfiança das instituições.
Curamos nosso vazio com doses diárias de álcool, nosso tédio com postagens coloridas, nossa fome emocional com amigos virtuais que são apenas números em redes sociais.
Tratamos mal a quem amamos e não acreditamos quando nos dizem o quanto somos amados.
Estamos sempre à espera do e-mail que não chega, de alguém especial que se lembre de nós, da bolada na loteria, do amor impossível, da aparência perfeita dos modelos fabricados.
Desconhecemos quem foi Dante, Galeno, Michelangelo, Shakespeare, Monet, Jesus, Sidarta…
Mas sabemos de cor e salteado quem é “o cara” da vez, a “modelo” da hora, os Vips, o jogador de futebol, quem separou de quem, o último escândalo virtual.
Não sabemos mais agradecer, sorrir, ter paciência.
Passamos a achar filas algo normal, engarrafamentos coisa corriqueira, assaltos atos banais, violência… O pão nosso de cada dia.
Enquanto isso, nunca se foi tão feliz na vida! Pelo menos nas redes sociais.
Pensando bem, talvez troglodita não seja o termo certo. Talvez algo relacionado com confusão ou com uma espécie de vazio soasse melhor.
Pense sobre isso e se possível, tente não entrar de cabeça nesta onda.
De vez em quando faça coisas "antigas". Um jantar em família, um canteiro de flores, os velhos e chatos jogos de cartas, as conversas em família.
Às vezes dá certo. Na maioria, entretanto, não se frustre se for substituído quase que imediatamente pela última mensagem do whatsapp, por algum vídeo espetacular no youtube ou pelas últimas postagens do instagram. 
Faz parte. Acontece com todos no mundo inteiro.
Ultimamente parece não haver nada mais chato ser humano. Humano de carne e osso e algumas gordurinhas. Ninguém aguenta! 
Mas não se pode desistir. 
Quem sabe aconteça alguma coisa muito em breve que mude esta realidade.
Uma rebelião dos próprios aplicativos, saturados de tanta conversa vazia. Quem sabe uma Matrix ao contrário, um novo iluminismo, uma revolução… Dos bichos, das plantas, dos poetas… Quem sabe? 
Nesta altura, vale qualquer coisa que promova novamente a emoção dos olhos nos olhos, dos beijos, de pegar nas mãos, rir com os amigos, comer em paz e de suar frio à espera daquele encontro… Presencial. Por favor!
Mas até lá, não perca seu tempo. Dê mais uma olhada no seu celular. 
Quem sabe nestes últimos segundos, alguém que não está nem aí para você, mas não tinha nada mais interessante para fazer, postou aquela foto espetacular, mandou a frase do dia no twitter e mudou sua vida de vez.
Quem sabe…