FAO sugere que jovens de países em desenvolvimento não deixem áreas rurais
BRASÍLIA (ABR) – Relatório divulgado ontem pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) sugere que os jovens que vivem nas áreas rurais de países em desenvolvimento não deixem esses locais em busca de empregos nas grandes cidades e aproveitem “o papel fundamental” que essas áreas terão para o crescimento econômico desses países.
De acordo com a nova edição do relatório anual O Estado da Alimentação e da Agricultura no Mundo, “os habitantes das áreas rurais que se deslocam para as cidades provavelmente correrão um maior risco de juntarem-se à população urbana pobre, em vez de encontrar um caminho para sair da pobreza”.
A urbanização – em especial das cidades com menos de 500 mil habitantes – representa, segundo a FAO, uma “oportunidade de ouro” para a agricultura desenvolvida nas áreas rurais, em especial para os agricultores familiares. Para que isso aconteça, entretanto, é necessário dar a eles condições para que possam dar conta da demanda que surge a partir desses mercados.
“As políticas e os investimentos públicos de apoio serão essenciais para aproveitar a demanda urbana como motor de um crescimento transformador e equitativo, e as medidas elaboradas para garantir a participação dos pequenos agricultores familiares no mercado devem estar integradas às políticas”, diz o relatório.
A FAO acrescenta que o investimento nas áreas rurais também ajudará os países a cumprirem a Agenda 2030 para o desenvolvimento, uma vez que a maioria das pessoas pobres ou que passam fome vivem nessas áreas.
Entre os desafios previstos para aproveitar o potencial das áreas rurais, a FAO sugere três linhas de ação. A primeira está relacionada à execução de políticas que garantam que os pequenos produtores possam satisfazer a demanda alimentar urbana – é o caso de medidas como o fortalecimento dos direitos à posse de terra e o acesso a crédito.
Em segundo lugar, o estudo aponta a criação de infraestrutura adequada para fazer a ligação das áreas rurais com os mercados urbanos. De acordo com o levantamento da FAO, “em muitos países em desenvolvimento a falta de estradas rurais, redes elétricas, galpões de armazenagem e sistemas de transporte refrigerado são um grande obstáculo para os agricultores que desejam aproveitar a demanda urbana de frutas frescas, hortaliças, carne e produtos derivados do leite”.
A terceira ação consiste na inclusão de zonas urbanas menores e dispersas nessas conexões – não apenas megacidades.
Ainda de acordo com a FAO, o apoio a políticas e o investimento nas áreas rurais “para construir sistemas alimentares potentes” pode ajudar também as agroindústrias que estão bem conectadas com as áreas urbanas, de forma a criar emprego e permitir que um maior número de pessoas permaneça e prospere no meio rural.
Novas oportunidades econômicas poderão surgir também das atividades não agrícolas relacionadas à agricultura. É o caso de empresas que processam, refinam, embalam, transportam, armazenam, comercializam ou vendem alimentos; o de empresas prestadoras de serviços como os de irrigação ou plantio; e também das empresas fornecedoras de insumos produtivos, como sementes, ferramentas e equipamentos, e fertilizantes.
O relatório conclui que os centros urbanos menores representam um mercado de alimentos “muito negligenciado”, quando, na verdade, “metade da população urbana de países em desenvolvimento vive em cidades e povoados com menos de 500 mil habitantes”.