A arte de dizer NÃO
Jim Carrey, sob a pele do personagem Carl Allen, protagoniza uma comédia muito interessante chamada "Sim Senhor". No filme, Carl é um homem um tanto solitário e depressivo, solteiro e que, como a maioria dos mortais, diz "não" para várias propostas do cotidiano. Um belo dia se vê em um seminário de autoajuda para aprender a dizer "sim". A partir desse evento, sua vida muda radicalmente e ele passa a ter experiências fantásticas. É inquestionável que durante os minutos que Carrey nos prende, situações absurdas vão surgindo e a maioria de nós não concordaria em vivenciá-las. É indiscutível, também, que a postura de dizer "sim" para tudo e todos o tempo todo, trará uma vida, no mínimo, cheia de novidades. Mas a questão aqui não é essa. É justamente o oposto. Assim como dizer sim indiscriminadamente tem seus resultados (e cá entre nós, nem sempre positivos), a incapacidade de dizer "não" também provoca seus males. O "não" nem sempre é fácil, mas é necessário. Quando crianças, éramos autênticos. Se questionados se a comida era boa ou se roupa era bonita, com a maior naturalidade respondíamos a verdade. Independente se a resposta fosse sim ou não. Normalmente crianças não mentem para agradar, não dissimulam para não magoar e não escondem a autenticidade para simplesmente ficarem bem aos olhos dos outros. Porém, à medida que o tempo passa e crescemos, vamos agregando valores, conceitos e crenças que nos levam a perder esta autenticidade e muitas vezes, a dizer e a fazer aquilo que não sentimos. Há também uma perda de discernimento entre o que realmente nos agrada e queremos e o que fazemos no automático, apenas porque é aquilo que "esperam de nós", ficará "bem aos olhos dos outros", ou ainda nos tornará "uma pessoa mais querida". Viver assim é extremamente desgastante, não só porque deixamos de ser fiéis aos nossos gostos e sentimentos, mas também porque deixamos de ser verdadeiros conosco em uma crença tola de que assim seremos mais aceitos. Muitas decisões são tomadas neste "embalo" e não raro, apenas após vários anos é que chegamos à conclusão de que as respostas deveriam ter sido outras. Dizer "não" é necessário. É necessário quando ofende nossa integridade, quando agride nossos valores, quando tenta corromper nossa fé, quando extingue nossa alegria, mas principalmente quando tenta nos anular sob qualquer aspecto ou em qualquer momento. Quando se aprende a "arte de dizer não" com maturidade, tranquilidade e sem agressão, rompemos com a obrigatoriedade de fazer algo por fazer, de nos aborrecer com coisas que nos fazem mal, de tolerar pessoas e situações que nos adoecem. Talvez alguns amigos notem a diferença. É possível que seu cônjuge perceba a mudança. Talvez até os convites para festas, baladas e encontros diminuam um pouco, mas cá entre nós, a autenticidade é um prêmio e em algumas circunstâncias até mesmo uma benção que se comprovará com a passagem do tempo. Portanto, a mensagem do filme é extremamente benéfica em todo e qualquer processo construtivo. SIM para a vida, para elevação espiritual, o aprendizado e a tolerância. SIM para a cura, o sorriso e as paixões enaltecedoras da alma. SIM para a criatividade, a família, os bons modelos e o sacro ofício de nos tornamos melhores a cada dia. Mas para as relações que nos minguam com o desejo puro e simples da satisfação egoísta e plena de desconstrução, a resposta deve ser apenas uma: não. Ainda que estas relações sejam causadas por nós mesmos.
Colaboração de Edeni Mendes