A corrupção sistemática e as reformas
O relato do vice-presidente da Construtora Camargo Corrêa – de que a partir de 2007 a corrupção passou a ser sistemática nos contratos da Petrobras, e que só sua empresa teria pago R$ 110 milhões em propinas relativas a dez contratos – demonstra que o Brasil, além da reforma política, carece de ampla mudança moral e ética.
É lamentável saber que as empresas responsáveis pelas grandes obras de infraestrutura, que sustentam o desenvolvimento nacional, são sugadas por vorazes esquemas políticos e corruptos que em nada diferem do crime organizado.
Também não dá para crer que tais corporações, poderosas como são, sejam simples vítimas e não coniventes na ladroagem do dinheiro público ou estatal. Nem a própria sobrevivência do negócio deveria justificar o comportamento antiético e criminoso.
É preciso que as apurações dos malfeitos se capilarizem por todos os negócios públicos, não ficando restritas apenas à petrolífera, ao sistema de trens e a outros já sabidamente assaltados pelos cartéis e seus comparsas.
A insatisfação que se projeta hoje sobre o governo da presidente Dilma Rousseff não pode ficar restrita à possível abertura do processo de impeachment. Há que se investigar com toda a liberdade os contratos e as possíveis relações espúrias no sistema elétrico, na área de transportes e em todos os quadrantes do governo e das empresas estatais por onde passam elevadas somas em dinheiro e podem estar presentes os nefastos esquemas de corrupção.
Da mesma forma que foram criadas as “máquinas de fazer dinheiro” que sustentam partidos políticos e a corrupção pura, é necessário ampliar os sistemas de fiscalização, controle a apuração que evitem a sangria dos cofres públicos. Tanto em nível federal quando estadual e municipal.
O mesmo coelho tirado da cartola que serve aos ladrões da Petrobras, dos trens e de outras áreas já conhecidas, pode ser facilmente aplicado até na mais diminuta prefeitura lá dos grotões, onde a burla a licitações é assunto corriqueiro.
É imperativo acabar com isso e, para tanto, temos o Ministério Público, a Polícia Federal e outras instituições que precisam agir sem sofrer qualquer interferência política ou divisionista como a que tentam hoje estabelecer nos órgãos apuradores dos roubos na Petrobras.
Neste 21 de abril, faz 223 anos que Tiradentes foi enforcado por insurgir-se contra os altos impostos, a ladroagem e os esquemas que enriqueciam a metrópole e deixavam à míngua os brasileiros. Apesar de todas as transformações do período – Independência, Império, República, ditaduras, democracia – ainda não conseguimos resolver o problema básico que movia o mártir da Independência…
*Dirceu Cardoso Gonçalves, dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)