A defesa no devido lugar

A crise econômica vivida hoje pelo Brasil é maior do que a de 1929 e 30, quando o café, nosso principal produto de exportação, teve de ser queimado na tentativa desesperada de fazer seu preço reagir no mercado internacional, adverte o ministro da Fazenda.
Bom que o Brasil de hoje não é o mesmo de oito décadas atrás e, apesar da magnitude do problema, por sua diversificação na economia e pela crise não ser mundial, como a daquela época, atualmente temos melhores condições de resolvê-la com medidas internas.
O primeiro mês de Michel Temer à frente do governo já dá sinais de pequeno reequilíbrio em alguns setores e, principalmente, desperta a confiança do empresariado, que fala em voltar a investir.
É inoportuno, até impatriótico, no entanto, a forma que a presidente afastada e aqueles que a seguem, se comportam. A partir do momento em que temos um processo de impeachment instalado e sob responsabilidade do Senado Federal, é justíssimo que Dilma Rousseff e seus aliados ali desenvolvam sua defesa e, principalmente, tentem convencer senadores a desaprovarem a concretização do encerramento do seu mandato.
Aliás, é o único lugar onde podem ter a esperança de algum sucesso nessa empreitada. Já, o ativismo de entrevistas nacionais e internacionais que acabam denegrindo a imagem do governo provisório e do próprio país, e a tentativa de mobilização das massas, nos parecem impróprios, até ilegais.
Mais do que ter Dilma Rousseff ou Michel Temer à frente do governo, interessa à população desengajada politicamente ter um país com a economia recolocada em seu lugar e as instituições funcionando a contento, com garantia de emprego, ordem pública, saúde, trabalho, etc.
Nesse momento, em que a decisão está circunscrita ao Senado, dentro do devido processo legal, já definido e supervisionado pelo Supremo Tribunal Federal, tudo o que se fizer fora do processo será, no mínimo, uma extrapolação. Os blefes da “greve geral”, do “incendiar o país” e de por o povo na rua para protestar em nome da democracia, são extemporâneos e podem, apenas, levar ao confronto, nunca à solução.
Os favoráveis e os contrários ao impeachment já tiveram a oportunidade de colocar suas posições em grandes manifestações públicas. Tanto que o processo evoluiu e hoje está em sua última instância, conforme determina a Constituição e atesta o STF. Convocar o povo para se manifestar nesse momento é, acima de tudo, desrespeito ao próprio povo e falta de confiança nas instituições. Não ajuda em nada na solução da crise. Pensemos nisso…

*Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)