À espera de Ordem e Progresso

Dirceu Cardoso Gonçalves*

Estudantes ocupando escolas, movimentos sociais bloqueando vias públicas e centrais de trabalhadores articulando greve geral. Para tumultuar ainda mais, revela-se o recrudescimento das divergências entre as facções que detêm o poder dentro das prisões em São Paulo e Rio de Janeiro e podem levar a grandes rebeliões e outras repercussões.
Todo isso num país que acaba de afastar um governo que não se sustentou e tem a grande tarefa de reconstruir a estabilidade. O momento é crítico e exige muito equilíbrio e reflexão, especialmente dos detentores do poder.
É preciso encontrar a mais clara definição e o ponto de equilíbrio para as manifestações em todos os níveis. Os jovens estudantes devem ter garantido o seu direito de protestar contra o que bem entenderem. Isso é salutar até para a sua formação de cidadãos. Mas não deve ser-lhes permitida a geração do colapso no setor educacional e nem o uso do meio para a difusão de métodos, ideologias e interesses dos seus “pais de classe”.
Da mesma forma, os movimentos sociais precisam ter voz e serem ouvidos, mas não lhes pode ser dado o direito de bloquear vias públicas, depredar o patrimônio ou estabelecer o caos. Os trabalhadores, igualmente, têm o direito de reivindicar e protestar, mas não de convulsionar o país transformando teses trabalhistas em armas de atuação político-partidaria ou ideológica. Já, o sistema prisional não deveria ter o poder paralelo em suas entranhas, mas ele existe.
Para controlá-lo, a primeira coisa que o Estado tem de fazer é cumprir todas as suas obrigações de guarda, assistência e reinclusão social do apenado, para evitar que ele seja obrigado a, por sobrevivência, aceitar favor das ditas facções.
Mais do que a crise econômica, a democracia brasileira padece hoje da falta de delimitações entre direitos e deveres. Os demagogos que nos governaram e por nós legislaram nas ultimas décadas prometeram ao povo uma sociedade só de direitos.
Disseram aos cidadãos que deveriam lutar pelo que desejam ou necessitam e não impuseram limites, pois isso poderia os prejudicar na conquista dos votos do crédulo eleitor.
O legado é o que temos hoje. Um país à beira da explosão, com um povo acomodado, à espera das benesses que lhes foram oferecidas – muitas delas inviáveis – e ainda refém dos malfeitores político-ideológicos que, para manter seus ilegítimos privilégios, mobilizam os incautos para uma luta de onde dificilmente poderão sair vencedores. Ordem e Progresso, o lema da bandeira recuperado pelo novo governo, precisa ser exercido de forma mais concreta, pelo bem do Brasil…

*Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)