A gravação, preservando os fatos

Dirceu Cardoso Gonçalves*

Mais uma vez, verifica-se policiais militares que agiram no seu dever de proteger a sociedade colocados na berlinda, por terem combatido um furto e, no confronto, abatido um menor infrator. Os tradicionais inimigos da instituição policial trabalham claramente na tentativa de vitimizar o menor que, apesar de sua pouca idade (10 anos), puxou o veículo e com ele pretendia praticar assaltos, segundo disse seu companheiro.
Questiona-se a pouca idade do infrator – que a lei define como “autor de ato infracional”, mas ninguém busca analisar o abandono em que vivia, com pai e mãe presos por crimes diversos. É mais fácil denunciar violência policial do que buscar a análise sincera de outros problemas e omissões que levaram o menino à delinquência e morte.
Não fosse a gravação do vídeo que os policiais realizaram com o menino de 11 anos que acompanhava o morto na hora do confronto, todo o circo já estaria completamente armado e os profissionais que contiveram a execução do furto estariam previamente condenados. Já dizia Mario Juruna – o índio que se fez deputado há duas décadas e sempre carregava um gravador – que não dá para confiar nas pessoas e, por isso, as gravava.
Nesse lamentável episódio que envolve uma criança, fica mais uma vez clara a predileção que determinados setores têm pelos infratores e não pela vida, pois nada dizem quando o morto no confronto é o policial.
O vídeo divulgado mostra a triste realidade vivida por meninos e meninas que, por alguma razão, perdem o suporte sóciofamiliar, caem na marginalidade e acabam, como esse menino de 10 anos, perecendo em confronto com a polícia ou com outros infratores.
É importantíssimo apurar todos os pormenores do confronto, aliás, de todos os confrontos que se verificam nas vias públicas do país, sejam entre policiais e criminosos ou só entre criminosos. Sabendo-se das razões, fica mais fácil a quem de direito tomar as providências e eliminar o problema.
Nesse caso do menor morto há muito mais a se apurar do que a suposta violência policial. A fala do pequeno comparsa pode ser um bom começo e por si indica que a vítima atirava na polícia ao ser perseguida.
Excluída essa linha de apuração, é preciso verificar o que levou o menino a praticar crimes. Infelizmente, no seu caso não há mais o que fazer. Mas existem dezenas, centenas, talvez milhares de outros em situação de vulnerabilidade, que ainda podem ser salvos.
Quanto à polícia, poderia adotar a gravação como testemunha de suas ações, para proteger seus profissionais dos contumazes aproveitadores que usam a desgraça social como meio de promoção de suas teses, ranços e interesses…

*Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)