A gravidade da síndrome de insuficiência cardíaca congestiva

SÃO PAULO – Mais conhecida pela sigla ICC, a síndrome de insuficiência cardíaca congestiva é caracterizada pela incapacidade do coração de bombear sangue em quantidade suficiente para atender as necessidades do organismo, ou só fazê-lo com pressões elevadas dentro do coração. É tão grave quanto o câncer. Ou melhor, sua gravidade só não é maior do que a do câncer de pulmão.
Segundo o cardiologista Edimar Bocchi, diretor da Unidade de Insuficiência Cardíaca do InCor (SP), há um desconhecimento da população e até da comunidade médica em relação a este fato e ao prognóstico da insuficiência cardíaca.
“O tempo de sobrevida de um paciente de ICC em dois anos varia de 20% até 80% dependendo da gravidade, quando a insuficiência não é adequadamente tratada”, diz Bocchi.
É um mito achar que a insuficiência cardíaca é uma condição benigna, ele acrescenta, enfatizando que a síndrome é extremamente grave. “Ela coloca seu portador sob alto risco de morte súbita ou progressiva falência dos órgãos, entre outros problemas, e ao desconhecer esse risco, frequentemente, as pessoas não se tratam adequadamente: não procuram acompanhamento médico adequado ou, às vezes, o próprio médico não faz o que tem de ser feito.
O QUE TEM DE SER FEITO – É preciso a otimização do tratamento de modo a atingir as doses máximas dos medicamentos que irão aumentar o tempo de sobrevida do paciente ou melhorar a qualidade de vida. É como se fosse uma quimioterapia, com a diferença que ela deve ser permanente.
O paciente começa a tomar a mediação e não para mais, e o médico deve alcançar a dose adequada para ele, que não é tão difícil. O problema é que o médico e o paciente podem esquecer que tem que aumentar a dose e chegar na dose máxima tolerada.
E isso leva a pacientes que não respondem ao tratamento, ou o tratamento não faz o efeito máximo desejado. Na ICC a relação entre paciente e médico exige um envolvimento entre ambos, com retornos de consultas e boa relação e entendimento, e isso se perde, com frequência, infelizmente.
No geral, o paciente quer ir ao médico, passar na consulta, tomar o remédio, sarar e parar com o tratamento e de voltar para as consultas. Na cabeça do médico: ele dá o medicamento e espera que o paciente não reclame do efeito colateral (que, geralmente, é passageiro). Por ficar preocupado com o efeito, o médico muitas vezes não chega até o máximo da dose tolerável, que no tratamento dessa síndrome é a meta a ser perseguida.
A consequência é que a sobrevida é menor. E como, no começo, o paciente é pouco sintomático e sua qualidade de vida parece semelhante a que ele tinha ao iniciar a medicação, ambos vão seguindo com o tratamento sem aumentar a dose até o máximo tolerável.
Outro mito que é muito comum na ICC é achar que o paciente está fora do risco quando se sente bem. Tal percepção não é verdadeira. O paciente pode se sentir bem, mas, corre risco de morte súbita, ou, de repente, piorar progressivamente e sem retorno.
AS ORIGENS DA INSUFICIÊNCIA – Existem várias causas. A principal causa é o infarto nos países desenvolvidos. Ela também é importante no nosso país. A pessoa tem uma oclusão de artéria, falta o sangue e a região que antes era irrigada por essa artéria morre e o coração perde a força de contração. Dependendo do tamanho do dano, o paciente evolui para insuficiência cardíaca. Tem que ter um tamanho razoável para gerar insuficiência cardíaca.
A segunda causa é a Miocardiopatia Dilatada Idiopática (MDI), quando o paciente apresenta o enfraquecimento progressivo do coração. Nós não temos explicação pra isso. Por que ela acontece. Existem hipóteses, como, por exemplo, a de uma miocardite (inflamação/infecção do coração) que persiste e leva à sequela que evolui com dilatação do coração e enfraquecimento.
A hipertensão arterial é uma causa importante de insuficiência cardíaca crônica, ao oferecer uma sobrecarga ao trabalho do coração.
E no Brasil temos ainda a doença de chagas, que é outra origem importante de ICC. O parasita vai até o coração, provoca uma reação autoimune ou agressão direta pela sua própria presença, dando origem a uma miocardite, que compromete o funcionamento do coração. No nosso ambulatório, aqui no InCor, 18% dos casos de ICC são decorrentes da doença de chagas; outros 40% são consequência de infarto e 30% têm relação com miocardiopatia dilatada, decorrente da hipertensão. (Fonte: www.referênciaincor.com.br)

A evolução da síndrome e restrições para a atividade física
A insuficiência tem vários estágios, com gravidades diferentes. O paciente pode ser internado com quadro agudo ou pode ser um paciente crônico de consultório, ou pode ter doenças associadas, como anemia, fibrilação atrial, entre outras. Cada paciente é diferente do outro e por isso não tratamos a doença e sim o paciente.
Quanto às restrições para fazer atividade física, se o paciente estiver compensado é saudável que ele faça exercícios. Pode melhorar sua qualidade de vida, embora não mude o tempo de sobrevida dele. Somente o tratamento medicamentoso adequado pode estender esse tempo.