A lista de candidatos e o voto de cabresto
Dirceu Cardoso Gonçalves*
A instituição do voto em lista, que a Câmara dos Deputados pretende aprovar até maio, para vigorar já em 2018, precisa também ser aprovada e sancionada até o próximo dia 2 de outubro.
Em vez de aperfeiçoar, a inovação pode piorar o sistema eleitoral brasileiro. Ela retira do eleitor o direito de escolher diretamente seu candidato, único atrativo que ainda o leva às urnas.
A partir de sua adoção, os partidos é que escolherão quem ocupará as vagas da Câmara dos Deputados, Assembleias Estaduais e Câmaras Municipais. O voto do eleitor só servirá para definir quantas vagas cada partido ocupará.
Isso não só servirá para perenizar no mandato os “donos” das agremiações mas, principalmente, para afastar o parlamentar do eleitorado. Acabará de vez a empatia entre eleito e eleitor e se abrirá ainda mais o fosso hoje existente entre ambos em razão da corrupção, da desídia e de outros maus comportamentos de parte dos eleitos, que acabam respingando sobre o conjunto.
Por mais que se justifique que a eleição por lista existe em partes avançadas do planeta, temos de compreender que o Brasil de hoje não reúne os requisitos fundamentais à sua adoção.
Antes de implantá-la, teríamos de acabar com os partidos de aluguel e adotar medidas que dessem vida orgânica e minimamente útil às siglas, que hoje só servem para registrar os candidatos, visto que ninguém pode se candidatar sem filiação.
O correto seria que cada partido reunisse as pessoas com o mesmo ideal, fosse por elas sustentado como um clube e os que estivessem fora do poder servissem de contraponto e fiscalização àqueles cujos membros foram eleitos e exercem mandatos populares.
Ainda seria bom que não houvessem tantos partidos e os existentes fossem realmente representativos e seus integrantes acima de qualquer suspeita.
Do jeito que os deputados estão gestando a tal reforma política, não será difícil o povo acreditar que, em vez de reforma, estão buscando meios de se eternizarem no mandato sem a necessidade de buscar o voto do eleitor.
Ou ainda que, os denunciados por corrupção e outros desmandos, estariam buscando a lista para nela se esconder e, à custa de articulações e negociatas, continuar nos postos eletivos sem, a rigor, passar pelas eleições.
A adoção da lista de candidatos soa como o antigo voto de cabresto, onde os coronéis escolhiam os candidatos de sua preferência e interesse e, por coação, obrigavam o povo a neles votar. Um enorme retrocesso num país cuja sociedade clama por reformas e modernização…
*Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)