A síndrome do Whatsapp
Na semana passada, milhares (pra não dizer milhões) de brasileiros entraram numa séria crise de abstinência, e das grandes! E não foi por falta de comida, água, energia elétrica ou outras necessidades básicas, mas sim do polêmico e controvertido whatsapp! Idolatrado por uns, odiado por outros, o whatsapp tem sido alvo de discussões acaloradas em várias esferas da nossa sociedade.
Antes de continuar, gostaria de deixar algo bem claro aqui: eu não sou contra esse e qualquer outro tipo de ferramenta digital. Muito pelo contrário. Eu uso sim, o whatsapp, o facebook e outras mídias sociais como forma de divulgar meu trabalho, de me manter informado com o que está havendo de importante no mundo, e claro, para me manter em contato com colegas de trabalho, amigos, parentes e família. O whatsapp é sem dúvida, uma ferramenta prática, rápida, e de fácil acesso para quem precisa usar no dia a dia corrido e frenético em que vivemos. Portanto, usar essa ou qualquer outra mídia social não é nenhum problema. O problema (e é aí onde o ser humano sempre cai) está em dois fatores: o saber usar e o seu excesso de uso.
Com os meus pacientes pré e pós bariátricos, sempre uso esse exemplo quando lhe questiono: “Comer é pecado??? Beber é pecado???” A maioria sempre responde que não. Não é pecado comer ou beber, e isso está correto! Porém novamente eu os indago e faço outra questão: “Então porque que quando comemos ou bebemos, engordamos???” Nessa parte, muita gente fica confusa e não sabe responder a essa pergunta. Como eu disse antes, não é problema usar o whatsapp, como também não é problema e nem pecado a pessoa comer ou beber. Mas o problema está em um detalhe: o excesso! E se tem uma regra que digo e ensino a todos, sejam quais forem suas queixas e problemas, é essa: fujam do excesso! E creio nisso porque vejo e percebo que a grande maioria das crises e problemas de meus pacientes (assim como do ser humano em geral), está em sua origem no excesso de algum detalhe, seja esse o excesso do muito ou do pouco, e esse excesso gera dificuldades em várias áreas no indivíduo (tais como o vício, por exemplo), pois somos seres criados para o equilíbrio social, familiar, financeiro, corporal, espiritual e outras áreas. E o whatsapp não é exceção.
Os avanços tecnológicos têm seu mérito e despertam admiração. Neste caso, estamos falando de um sistema que ultrapassa fronteiras, sem pagar nem um centavo, oferece a possibilidade de conversar, em tempo real, com pessoas que estão em qualquer lugar no mundo. No caso de relacionamentos próximos, como, por exemplo, o conjugal, o chat se tornou o canal de comunicação favorito de muitos casais, pois pôde facilitar a interação enquanto ambos os cônjuges estão no trabalho ou ocupados em suas tarefas do dia a dia.
Como ocorre com toda nova tecnologia, existe o risco de abuso, pois as particularidades desse canal podem causar relacionamentos mais frios, e paradoxalmente, a falta de comunicação entre as pessoas, em especial, os casais. A frieza é outro dos aspectos que mais preocupam na virtualidade, e nos relacionamentos interpessoais isso pode ser mais grave ainda. Os aparelhos tecnológicos devem ser ferramentas de apoio, mas NUNCA poderão substituir um encontro pessoal, uma palavra de carinho ou um abraço do conjuge, do amigo, do colega ou de algum parente próximo. É preciso saber dar a cada coisa seu uso adequado e, dessa maneira, ninguém sairá prejudicado.
Alguns estudos isolados indicam que pessoas (principalmente adolescentes e jovens) podem desenvolver dependência do whatsapp, pois não conseguem ficar sem acessá-lo nem por um instante, e entram em um estado de profunda ansiedade e angústia. Em algumas pessoas podem gerar desconfiança e dúvidas tais como “Por que não me responde?” ou “O que ele(a) estará fazendo?”. A pessoa precisa saber administrar sua conectividade, do contrário, o whatsapp pode vulnerar a privacidade. Por isso sempre é bom dialogar com o cônjuge, amigos ou familiares quando houver situações que possam causar mal-entendidos e, assim, evitar conflitos.
Segundo a psicóloga mineira Alda Melo, esses exageros de uso acabam que por abalar as emoções de pessoas que constantemente ficam em estado de alerta com uma expectativa permanente em torno das chamadas do celular, do whatsapp, do facebook e outras mídias sociais, sofrendo um enorme desgaste psicológico e com o tempo, pode se transformar em uma crise de ansiedade ou até em depressão(!), por se sentirem “rejeitados” quando ninguém lhes telefona, ou dá uma “curtida” em seu comentário ou foto ou ainda quando ninguém lhes procura no whatsapp, e enfrentam uma síndrome de abstinência quando isso ocorre.
Muitos indivíduos não aceitam que são portadores desse tipo de vício e atribuem a sua angústia a várias outras causas, como meio de contato com pessoal do trabalho, com os amigos, com o pessoal do clube ou igreja, etc.
Como eu disse no começo, é importante vermos o whatsapp como instrumento facilitador, e o problema NÃO ESTÁ com ele, e sim com o MAL USO que fazemos dele! Além do que, o whatsapp é um meio de comunicação prático, e é vital sabermos usá-lo de maneira saudável e sensata, para promover o aprendizado, estabelecer boas relações e nos comunicarmos.
É fundamental manter um limite, afinal você (e só você!) é quem deve manter total controle sobre sua vida e não um determinado site ou aplicativo que vai determinar o seu comportamento. É preciso combiná-lo com o tradicional, mas NUNCA obsoleto contato físico! Dedicar um tempo diário ou semanal a compartilhar com o cônjuge, filhos, parentes, amigos é fundamental! É preciso que seja um momento de intimidade, de união, de confraternização sincera e presencial, para desfrutar da companhia do outro e poder falar de tantas coisas que a correria da vida diária acaba ofuscando.
Por isso, se o whatsapp for bloqueado (mais uma vez), não se desespere, e muito menos entre em crise! Claro que sua falta atrapalha, pois como disse antes, ele se tornou uma ferramenta muito útil. Porém, podemos viver sem ele, e essa pode ser sua chance que você tanto pediu para ter um tempo com seu conjuge, com sua família, e consigo mesmo, para ler um livro, praticar um esporte, ir à igreja, ao clube, enfim, em ter tempo de ser humano, de se sentir humano e de ter contato humano no namoro, no casamento, na amizade, contando piada, etc. Contato humano real e saudável.
Colaboração de Marcelo Fernando Rojas Rios