A SOLIDÃO

Os avanços tecnológicos têm nos oferecido muito mais condições de aproximação, convivência, comunicação uns com os outros. Cada vez mais as distâncias deixam de ser problema, criam-se facilidades de contatos imediatos com pessoas do outro lado do planeta.
Apesar disso, nunca estivemos tão distantes um do outro. Os mais antigos ainda se lembram de como vivia a família antes da televisão: todos reunidos, conversavam entre si, ouviam-se histórias, sentavam à mesa juntos para as refeições, as famílias visitavam-se. A televisão começou a reunir a família na sala para assistir juntos ao que lá era apresentado; depois resolveram comprar uma para cada quarto. Com o computador o isolamento e o acompanhamento dos pais ao que os filhos acessam tornou-se pior ainda. Hoje, com o celular, podendo acessar de qualquer lugar tudo o que desejamos, somos capazes de ignorar quem está ao nosso lado para comunicarmo-nos com os de longe. Andamos de cabeça baixa, porque nossa atenção está no que acessamos.
As pessoas não precisam mais desenvolver os valores ou os princípios fundamentais da convivência, como: tolerância, paciência, compreensão, flexibilidade, perdão. Ao se relacionar mais com os de longe ficou fácil a convivência, pois se não gostei de alguma coisa, eu simplesmente deleto essa pessoa, bloqueio, excluo dos contatos com facilidade. Os laços que prendem as pessoas estão tão fragilizados!
Por isso, vejo com preocupação o crescimento da solidão. Por um lado, o que mais vejo no meu consultório, são pessoas que não desenvolveram o amor a si mesmos, não aprenderam que a medida do amor ao próximo é COMO A SI MESMO. Daí as enormes carências e busca de atenção do outro, cobranças, como nos casamentos: “você prometeu me fazer feliz…”. Por outro lado cresce o número de homens e mulheres preferindo viver sozinhos, principalmente pela fracassada experiência da convivência com a outra pessoa. Porém, os que não evoluíram no sentido de perceberem que a primeira e fundamental companhia agradável é conosco mesmo, como ficam? Uma solidão que se manifesta como vazio, incapacidade de preencher o tempo com algo útil, proveitoso, correndo riscos de entrar na bebida, droga…, no esvaziamento da energia a ponto de cair na depressão, quando não no suicídio.
Acredito que a conquista de si mesmo facilitaria em muito os estragos da solidão, o distanciamento ou esfriamento das relações pessoais. Isto não quer dizer que não precisamos do outro. Nenhum ser é uma ilha. Nascemos com um princípio natural de sobrevivência da espécie, ou seja, em nós é natural o buscar aproximação e convivência com a outra pessoa e dessa relação gerar outras vidas.
O mundo de hoje está carente de uma revolução das relações saudáveis com os que convivem conosco e aí sim com os de longe. Mas, melhor ainda, quando essa revolução começa dentro de cada um, tornando-se seu melhor amigo, a pessoa que mais te ama. Então sim, como diz Pedro Grisa: “Só se expressa no exterior o que já é no interior”.
Colaboração de Josué Ghizoni