A tragédia de agosto e a necessidade de mudar

Dirceu Cardoso Gonçalves*

Nesta quarta-feira – 24 de agosto – fez 62 anos do suicídio de Getúlio Vargas. Dia 25 transcorrem os 55 anos da renúncia de Jânio Quadros e, nesse mesmo dia, começa a fase decisiva do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Mais uma vez o simbolismo trágico do oitavo mês do ano se faz presente na vida política nacional, que em outros agostos já se impactou com as mortes de Juscelino Kubstichek, Miguel Arraes e do neto deste, Eduardo Campos, que concorria à presidência da República em 2014.
Coincidência ou não, é neste mês que chegamos ao ápice da tragédia que se abateu no seio e sobre o governo do Partido dos Trabalhadores.
A soma dos graves episódios que vão fazendo a história política brasileira nos conduz à inevitável conclusão de que algo muito errado ocorre e faz a nação viver de ciclos sem jamais alcançar a maturidade e a sustentabilidade política.
A República Velha – antes dos anos 30 do século passado – foi permeada por golpes e autoritatarismos e deu lugar à ditadura Vargas, que em seus 15 anos teve várias facetas e acabou vencida pela redemocratização de 1945, que só resistiu até 1964, quando os militares tomaram o poder e ali permaneceram por 21 anos.
Redemocratizado nos anos 80, o país passou a viver grave crise de identidade ideológica e a multiplicação de tendências, muitas delas inviáveis mas toleradas através do compadrio e das espúrias coalizões. A corrupção encontrou terreno fértil para se desenvolver até literalmente quebrar a economia e a governabilidade.
Estamos nós a viver um novo e trágico agosto, com a sensação de quem – apesar dos avanços técnicos e mercadológicos – continua marcando passo quanto à definição do tipo de estado, governo e ação política que pretende.
Terminado o episódio do impeachment presidencial, urge a mobilização nacional em busca de formatos que possam conduzir a nação a um futuro de estabilidade e sem o cíclico sobressalto que deságua em meses de agosto trágicos.
Há que se trancar todas as portas que levam à corrupção, definir claramente a vida e o meio de sustentação dos partidos políticos e do custeio das campanhas eleitorais e encontrar meios que impeçam o nefasto aparelhamento das repartições públicas com a nomeação (sem concurso) de cabos eleitorais.
Também é indispensável a criação de mecanismos que afastem com mais rapidez e sem tantos traumas os governantes que não estiverem cumprindo com suas finalidades. Não podemos continuar marchando sem sair do lugar…

*Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)