A velha e ultrapassada luta ideológica

Dirceu Cardoso Gonçalves*

Veículos de comunicação estrangeiros têm divulgado uma grande sinistrose em relação ao Brasil como consequência da eleição de Bolsonaro. Alguns, de linha esquerdista, não se conformam com o fato do Partido dos Trabalhadores ter perdido as eleições e outros, mais isentos, são induzidos a erro pelo olhar político estrábico de seus correspondentes acreditados no Brasil, que desconhecem a realidade nacional.
O resultado é um jornalismo divorciado daquilo que vive o país. Mais parece que, em vez de noticiar, usam suas edições para dar eco à choradeira dos petistas e dos demais inconformados com as mudanças que o brasileiro decidiu promover após os sucessivos escândalos de corrupção que levaram à crise e desconstruíram a imagem dos governos ditos populares.
Além das providências administrativas para tornar realidade as suas promessas de campanha, o futuro presidente precisa buscar meios de desfazer a narrativa vitimista e distorcida que Lula, Dilma e seus seguidores criaram no exterior a respeito da própria queda e da ascensão do adversário.
É necessário dizer que o impeachment de Dilma não foi golpe, pois seguiu todos os trâmites constitucionais;  que a prisão de Lula se deu mediante o devido processo legal, que agora segue em relação a outros crimes por ele cometidos e que, apesar desses traumas, as eleições ocorreram dentro da normalidade e sem denúncia formal e nem a constatação de qualquer fraude.
Estamos numa hora de virar a página. A esquerda tem de aceitar que perdeu as eleições e, se quiser continuar militando, deve começar tudo outra vez e evitar cometer os erros.
Os eleitos têm o dever de governar de conformidade com a lei e as propostas aprovadas pelo povo mediante o voto depositado nas urnas, criando as condições para o respeito à Constituição e ao regime democrático.
Ao Legislativo cabe cumprir sua missão e fazer autocrítica sobre sua participação na crise que se abateu sobre o país e a classe política nacional.
O Judiciário precisa se conter à sua condição de guardião das leis e do equilíbrio da República, se mantendo equidistante das questões político-ideológicas e jamais invadindo a área de atribuição dos outros poderes que formam o tripé republicano.
A inconformidade que se prega – interna e externamente – nada mais é do que a tentativa desesperada de sobrevivência da esquerda brasileira que chegou ao poder e nele naufragou. É importante compreender que o conceito de esquerda e direita é coisa fora de moda.
O povo, verdadeiro dono do poder, quer ação, administração, justiça, educação, emprego, segurança, desenvolvimento e bem-estar. A luta ideológica é algo velho e ultrapassado, abominado pelo cidadão comum…

*Dirceu Cardoso Gonçalves, dirigente da Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo