A vida só “acaba quando acaba” ou quando os sonhos deixam de existir
Há inúmeros processos para antecipar a morte, não necessariamente a morte física. A morte emocional, a perda da alegria, a degeneração da mente, a degradação de sentimentos e a aridez de espírito são processos infinitamente mais dolorosos e cruéis do que a extinção da vida física.
O texto acima abre meu livro "Tempestade – A Última Chance" e surgiu da reflexão de como é fácil e até muito simples desistir… Dos planos, das pessoas, das vontades, dos sonhos e consequentemente, da vida.
Há inúmeras formas de morte. A pior delas é deixar de acreditar.
No dia a dia, sou espectadora contumaz de pessoas e situações. Observo vidas, casos, relacionamentos e experiências; mais por curiosidade do que por intenção explícita.
Vejo casais, na faixa dos quarenta anos, largados na comodidade da rotina e buscando desesperadamente uma explicação para o tédio lodoso em que vivem.
Observo homens e mulheres de trinta, trinta e cinco anos, entrando em processos de estagnação porque simplesmente o parceiro foi encontrado, o emprego está garantido e o MBA está terminado.
Nesta minha garimpagem de experiências humanas, olho pessoas que “chegaram ao fim da vida” aos cinquenta anos e se contentam em passar dias inteiros em trabalhos monótonos esperando pelo consolo vazio de telenovelas e programas de conteúdo duvidoso.
Todos os dias, vejo seres vagando do trabalho para casa, da casa para o trabalho como em um ritual repetitivo e macabro, apenas à espera do último dia, do último minuto, do último suspiro.
Pais e mães que mal falam com os filhos. Adultos que construíram patrimônios; adquiriram os cobiçados "bens" e que hoje “descansam” merecidamente com olhos opacos, vidas vazias e sorrisos amarelos de resignação.
Seres cinza que andam por caminhos sem volta, repetindo amargamente para si mesmos “tudo o que eu tinha que fazer já fiz, agora é aproveitar este restinho de tempo”.
São falas tortuosas de seres humanos infelizes e sem propósito algum a não ser esperar o último dia do fardo em que transformaram a própria vida.
Na minha breve e amadora avaliação, está sempre a mesma pergunta: por quê?
Em que momento da vida tomamos a decisão de que nosso tempo acabou?
Em que exato instante acreditamos que um número, uma fase, uma idade cronológica determinou que temos que parar de planejar e sonhar e começar a contagem regressiva?
Que mecanismo tenebroso existe dentro de cada um de nós que diz que até o momento “x” somos donos do nosso presente e do nosso futuro, mas que, a partir dali, somos meros espectadores do resto das nossas vidas?
É por isto que me inquieto.
Não acredito nesta piada de gosto ruim.
Não acredito nesta autocomiseração disfarçada de fragilidade e resignação.
Homens e mulheres que abrem mão de suas vidas, planos e sonhos aos quarenta, cinquenta, sessenta anos, são antes de tudo, vencidos pela inércia e pelo próprio medo.
No meu dia a dia, carrego sempre uma frase: a vida é feita de opções. Ninguém muda ninguém. O único responsável pela rotina e inutilidade de uma vida, somos nós mesmos.
A morte começa quando deixamos de acreditar em nossos sonhos e se esparrama quando abrimos mão do que gostamos e do que nos torna um “ser” vivente, pensante e que sente intensamente. E isto, independe da idade.
Aos amigos que começam a terceira faculdade aos sessenta e cinco anos: minha mais aberta devoção.
Às mulheres que resolveram começar de novo (e felizes) aos quarenta, cinquenta, sessenta anos: saibam que são minhas heroínas.
Aos homens que se encararam, saíram da inércia, começaram uma nova atividade, um novo hobby e descobriram que ainda são fortes, belos e atraentes: recebam minha admiração.
A todos que descobriram que a vida “só acaba quando acaba” e não quando alguém ou algo diz que acabou: vocês são maravilhosos!
Por fim, para aqueles que compartilham o sentimento de que sonhar ainda é a melhor opção: um brinde à vida, porque com certeza, nós que acreditamos, temos um longo e fantástico caminho pela frente.
Ainda dá para aprender a pilotar, pintar, escrever, viajar, estudar, produzir, criar, se apaixonar… Enfim, brincar neste tempo maravilhoso de hoje e no que ainda está por vir.
A opção existe e ela é sua!
Colaboração de Edeni Mendes da Rocha