Adeus ao homem do tango

*Adão Ribeiro

Conheci o Chicão Soares quando, ainda muito jovem, me juntei aos colegas de Diário do Noroeste (lá se vão 25 anos). Lembro que o chamava de Francisco Carlos, apenas para contrastar com a informalidade do seu nome “verdadeiro”.
Sim, mais do que Francisco Carlos Soares do registro, seu nome autêntico era Chicão, convicto, de posições firmes, com um humor peculiar, que apreciava trocadilhos e nomes alternativos.
Chicão foi atuante em mais de oito décadas, representou muito para a região e sua gente. Foi Francisco, Seu Chico, Velho Chico, só Chico.
Aliás, como me disse certa vez, o Chicão já foi Chiquinho na infância e juventude de atleta do judô, períodos dos quais retirou e cultivou sonhos, alguns deles compartilhados com a equipe do DN.
E tenho a impressão de que todos os Chicos e todos os seus sonhos amavam o tango de Gardel, seu assunto recorrente. Volta e meia o Chicão contava uma curiosidade do gênero musical. Na mesma intensidade, falava da ditadura, narrava coisas do tempo do coronelismo no Noroeste e sobre a chegada de novas tecnologias.
Ontem, a voz já atenuada pela implacável dança das horas, silenciou. Os dedos já com movimentos lentos, deixaram de escrever histórias, organizadas por uma memória incomum.
Como disse Ataulfo Alves (Na Cadência do Samba), “Morre o homem, fica a fama”. No caso do Chicão, o legado impresso em milhares de edições do Diário do Noroeste e outras aventuras literárias por esse Brasil.
Por falar em edição, descanse em paz, Francisco Carlos. Não há mais pautas neste plano. Vá cumpri-las nas redações do infinito, onde a poesia há de imperar.
Encerro com a sua sugestão de epitáfio, que um dia brincamos e que sintetiza algo como: “Aqui jaz um homem que sonhava conhecer as estrelas. Talvez agora eu possa tocá-las”.      

*Adão Ribeiro é repórter do DN