Advogados retiram apoio de seminário com juiz da Lava Jato

SÃO PAULO (FOLHAPRESS) – Considerado um dos eventos de maior prestígio do direito penal, o 21º Seminário do IBCCrim (Instituto Brasileiro de Ciências Criminais) também foi afetado pela Operação Lava Jato.
Escritórios que tradicionalmente patrocinam o evento suspenderam o apoio para a edição deste ano, marcada para agosto, devido à participação do juiz federal Sergio Moro, magistrado que conduz os processos da investigação.
Quatro advogados confirmaram à reportagem que não financiarão o seminário deste ano por causa do convidado.
Entre eles estão José Luis de Oliveira Lima, defensor de Erton da Fonseca, diretor-presidente do setor de engenharia da Galvão Engenharia; Celso Vilardi, advogado de João Auler, presidente do conselho de administração da Camargo Corrêa; e Arnaldo Malheiros, que mantém em sigilo o nome do cliente na Operação Lava Jato.
"Não vou pagar para dar palco a quem viola constantemente o direito de defesa e falará sobre colaborações que sabemos bem como se dão", critica Malheiros, referindo-se à delação premiada, tema da mesa composta por Moro.
Parte dos criminalistas que trabalham na Lava Jato condena esse tipo de colaboração. E alguns ainda reclamam que as prisões decretadas por Moro foram usadas como pressão para obter delação.
Descontente com o palestrante, um dos advogados chegou a pagar a primeira parcela da cota de R$ 12 mil, mas pediu depois que ela fosse direcionada à biblioteca.
Outros dois escritórios ainda não têm posição definida sobre o patrocínio. Um deles é o de Antonio Mariz, defensor do Eduardo Leite, vice-presidente da Camargo. "Ainda não decidimos", disse.
Há animosidade até entre quem, por outros motivos, havia decidido não apoiar o evento. "Decidi não patrocinar o seminário no início do ano, mas, se estivesse no grupo, retiraria meu apoio", disse David Teixeira, advogado do lobista Fernando Soares.
Segundo organizadores do evento, mais profissionais envolvidos na Lava Jato manifestaram contrariedade com a presença de Moro no evento. Mas cederam após conversas com o comitê do IBCCrim. Um deles teria sido Alberto Toron, ex-presidente da entidade e defensor de Ricardo Pessoa, da UTC.
Pressionados, os organizadores chegaram a discutir a conveniência de cancelar o convite a Moro, mas decidiram mantê-lo.
"Não somos um teatro para dar palco a ninguém", disse Sérgio Salomão Shecaira, presidente do comitê organizador do IBCCrim. "O evento é um seminário acadêmico e me causa surpresa esse tipo de manifestação", completou.
Na contramão dos protestos, há advogados ligados à Lava Jato que apoiam a participação de Moro, como Roberto Podval, defensor do petista José Dirceu. "Não vejo problemas. Será um prazer debater com ele", afirmou.
A mesa de Moro será em 28 de agosto. Contará com os advogados e acadêmicos Lenio Streck e Renato Silveira. O evento terá 70 palestrantes e espera público de mil pessoas.