“Agora eu vou matar o pessoal da minha sala”, pensou atirador

GOIÂNIA – O depoimento do adolescente que abriu fogo numa escola em Goiânia revela um planejamento dos atos e um desejo de matar os colegas de sala de aula, inspirado nos massacres de Columbine, nos Estados Unidos, e do Realengo, no Rio.
O jovem de 14 anos fez buscas no Youtube sobre os dois massacres, meses antes. Naquele momento, segundo o depoimento à Polícia Civil, ele já havia pensado: “Agora eu vou matar o pessoal da minha sala”.
O atirador tinha um alvo específico, João Pedro Calembo, de 13 anos. O agressor disse que se incomodava com um suposto bulliyng por parte do colega. Calembo morreu dentro da sala de aula. Também morreu João Vitor Gomes, de 13 anos. Ele teria sido alvejado a esmo, assim como outras quatro vítimas que ficaram feridas.
“Ele me amolava muito”, disse o adolescente no depoimento sobre Calembo. Depois de disparar contra o desafeto, o adolescente passou a atirar em toda a sala de aula. “Agora eu vou matar todo mundo”, teria dito.
Após os disparos, os alunos correram para o corredor. O adolescente recarregou a arma, um revólver .40, e seguiu ao corredor, quando foi convencido pela coordenadora a desistir de mais disparos. A arma é de uso da mãe, sargento da Polícia Militar (PM) de Goiás. O pai é major da PM. O revólver tem o símbolo da polícia.
NUNCA TEVE INIMIZADES – O adolescente de 14 anos que atirou e matou dois alunos e feriu outros quatro no Colégio Goyases, em Goiânia, era estudioso, segundo colegas. Mas, de acordo com eles, o menino tem comportamento estranho e perde a paciência com provocações. João Pedro, um dos dois mortos, era o que mais irritava o atirador.
“Essa informação que estão dando sobre meu filho ser o desafeto dele é falsa”, disse o publicitário Leonardo Calembo, pai de João Pedro, seu primogênito. “Acordei fiz um carinho nele e fiz uma oração antes dele descer e disse que o amava. Eu falei isso pra ele hoje, costumava a falar todos os dias. Ele me mandou um beijo e disse que me amava. Tenho certeza que ele se foi sabendo que o pai o amava.”
Segundo o pai da vítima, o adolescente era alegre e não tinha inimizades. “As notas eram excelentes e ele queria fazer Engenharia.”
Na avaliação dele, houve falha dos pais do autor do crime, que eram policiais militares e tinham armas guardadas em casa. “Cabe ver com os pais (do atirador) porque ele teve esse acesso (a uma arma). Isso foi uma falha dos pais. A arma deveria estar em um cofre.”
BULLYING – O atirador era constantemente chamado de “fedorento”, e colegas chegaram até a levar um desodorante à escola para provocá-lo. Procurado nesta sexta-feira, 20, por telefone, um diretor da escola, abalado, preferiu não se manifestar.
“Numa prova de Ética, ele desenhou o símbolo nazista e, em uma roda literária, levou um livro satânico”, relatou uma menina da turma. O episódio, disse, foi em 2016. O rapaz era “estranho e frio”, contou outra estudante. “Se você fizesse uma brincadeira, ele falava que ia te levar para o inferno, que ia matar sua família e te matar.”
Segundo a Polícia Civil, o crime foi premeditado. “Ele pensava em se vingar há aproximadamente dois meses”, disse o delegado Luiz Gonzaga, da Delegacia de Polícia de Apuração de Atos Infracionais, para onde o garoto foi levado. A motivação principal foi um garoto que o “amolava muito”, que seria João Pedro.

Coordenadora convenceu aluno a parar de atirar
Uma coordenadora do colégio foi responsável por convencer o atirador a parar, quando ele recarregava a pistola .40 da mãe. Diante dela, com quem o adolescente tem um bom relacionamento, ele reagiu apontando a arma para a própria cabeça, em sinal de ameaça de suicídio.
Em seguida, baixou a pistola, deu um tiro no chão e gritou: “Chamem a polícia”. Nesta hora, ele travou a arma e aceitou ir com a coordenadora à biblioteca. De lá, foi conduzido para a delegacia. A coordenadora, que teve o nome preservado na investigação, prestou depoimento.
Havia buracos de tiros, segundo a polícia, pelas paredes e manchas de sangue desde o terceiro andar, onde fica a sala em que aconteceu o tiroteio, até o térreo. A perícia identificou preliminarmente ao menos 11 cápsulas de balas.